Trump corta subsídios e trava expansão da energia limpa nos EUA

O boom da energia limpa nos Estados Unidos sofreu um forte revés após o governo Trump acelerar o fim dos subsídios federais para projetos de energia solar e eólica. A decisão, parte de um pacote orçamentário aprovado pelos republicanos, somada a mudanças nas regras de elegibilidade, ameaça inviabilizar cerca de US$ 373 bilhões em investimentos previstos para os próximos anos.

Fabricantes internacionais e desenvolvedores de grandes projetos agora repensam suas estratégias. A Bila Solar, de Singapura, suspendeu a expansão de sua fábrica em Indianápolis, enquanto a canadense Heliene congelou planos de uma unidade de células solares em Minnesota. Já a norueguesa NorSun analisa se ainda faz sentido instalar uma planta de US$ 620 milhões em Tulsa, Oklahoma.

Investimentos travados e incertezas crescentes

A pressão sobre o setor aumentou após o presidente Trump ordenar a revisão da definição de “início da construção”, regra-chave para garantir créditos fiscais. Até então, empresas podiam assegurar incentivos com o investimento inicial de 5% do projeto e até quatro anos para concluir a obra. Agora, esse prazo está em revisão, e o setor teme novas restrições.

A incerteza paralisa decisões de negócios. A Heliene, por exemplo, mantém em suspenso uma fábrica que poderia gerar 600 empregos e custar até US$ 350 milhões. Já a Bila Solar deixou de avançar com uma expansão de US$ 20 milhões e 75 novos postos de trabalho.

Impacto além do setor: IA e contas de luz

Segundo a consultoria Wood Mackenzie, a instalação de novos parques solares e eólicos pode ser até 20% menor do que o projetado até 2035. Já o Projeto REPEAT, ligado à Universidade de Princeton, alerta que os custos de energia para famílias podem subir até US$ 280 ao ano, caso a oferta não acompanhe a crescente demanda — especialmente com a expansão de data centers de inteligência artificial e computação em nuvem.

Uma análise da Rhodium Group reforça esse cenário alarmante: estão em risco US$ 263 bilhões em projetos de energia renovável e armazenamento, além de US$ 110 bilhões em investimentos industriais associados. A consultoria também prevê aumento de até US$ 11 bilhões nos custos de energia industrial em 2035.

“Com tantas peças móveis, o financiamento de projetos e da fabricação é difícil, senão impossível”, lamenta Martin Pochtaruk, CEO da Heliene.

Eólica offshore também em risco

Além da energia solar, os parques eólicos offshore também estão ameaçados. Dois grandes projetos já autorizados — um de 300 MW em Maryland (US Wind) e outro de 791 MW em Massachusetts (Iberdrola) — correm o risco de não sair do papel, pois a nova lei limita o tempo para garantir os créditos fiscais.

De acordo com a Wood Mackenzie, empreendimentos que não iniciaram construção ou não tomaram decisões finais de investimento dificilmente avançarão.

Justificativas do governo e críticas do setor

O governo Trump argumenta que os incentivos à energia limpa elevaram os preços ao consumidor e causaram instabilidade nas redes elétricas. Porém, especialistas e empresas do setor contestam essa tese, citando exemplos como o Texas, onde a rede ERCOT opera com alta participação de renováveis sem problemas sistêmicos.

Segundo a consultoria ICF, a demanda por eletricidade nos EUA deve crescer 25% até 2030, pressionada pelo consumo de centros de dados, IA e indústria. Para especialistas, o país precisa incentivar todas as formas de geração, inclusive renováveis, para evitar gargalos e elevação de tarifas.

A reversão da política energética nos EUA sob Trump não apenas interrompe a expansão da energia limpa, como ameaça a competitividade industrial, a transição energética e o avanço tecnológico. Enquanto o mundo corre para descarbonizar suas matrizes, os Estados Unidos correm o risco de retroceder — e perder sua liderança na nova economia verde e digital.

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