A recente tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos reacendeu um debate importante: a vulnerabilidade do Brasil em relação a tecnologias estrangeiras, especialmente o sistema de posicionamento global (GPS), controlado pelos norte-americanos. Após rumores de possíveis retaliações políticas que incluiriam o bloqueio do GPS no território brasileiro, o governo federal anunciou a criação de um grupo de trabalho para estudar a viabilidade de um sistema nacional de navegação por satélite.
Entenda o contexto
No último fim de semana, rumores sobre uma possível sanção dos EUA contra o Brasil — incluindo o desligamento seletivo do GPS — ganharam força nas redes sociais. A motivação seria a crescente tensão diplomática com o governo brasileiro, principalmente após a revogação de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora a possibilidade de um bloqueio seja remota e tecnicamente complexa, o episódio gerou preocupação sobre a dependência brasileira de tecnologias controladas por outras potências.
É possível desligar o GPS no Brasil?
Especialistas em defesa e geopolítica explicam que, apesar de tecnicamente viável, desligar o sinal do GPS exclusivamente no Brasil traria repercussões severas:
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O GPS é composto por 31 satélites mantidos pelo Departamento de Defesa dos EUA.
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Um bloqueio localizado exigiria uma recalibração delicada dos feixes de sinal.
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Tal ação afetaria países vizinhos e setores estratégicos dos próprios EUA.
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Além disso, seria considerada uma sabotagem internacional, violando tratados globais de navegação civil.
Brasil não depende só do GPS
Hoje, a maioria dos dispositivos modernos — como celulares, carros, aviões e navios — já é compatível com múltiplos sistemas de navegação global, como:
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GLONASS (Rússia)
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Galileo (União Europeia)
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BeiDou (China)
Esses sistemas operam de forma paralela ao GPS, garantindo certa resiliência em caso de perda do sinal norte-americano. Ainda assim, a ausência do GPS afetaria diretamente serviços de logística, agricultura de precisão, aviação e até redes bancárias.
Governo brasileiro estuda GPS nacional
Diante desse cenário, o governo federal criou um grupo de trabalho interministerial liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para propor a criação de um sistema de posicionamento, navegação e tempo (PNT) 100% brasileiro.
Participam da iniciativa:
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GSI (Gabinete de Segurança Institucional)
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Agência Espacial Brasileira (AEB)
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ANATEL
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INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
Prazo e objetivos do grupo
O grupo terá até 180 dias para apresentar:
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Diagnóstico técnico das vulnerabilidades nacionais
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Modelos viáveis de construção do sistema
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Propostas de financiamento e parcerias
A proposta inclui uma possível cobertura regional (Brasil ou América do Sul), com foco em aplicações civis estratégicas.
Dados reforçam necessidade de independência
Um levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) aponta que mais de 95% dos voos comerciais no Brasil utilizam sistemas de navegação por satélite para pousos e decolagens. Já no setor agrícola, o uso de GPS cresceu 40% entre 2019 e 2024, segundo a Embrapa, graças à disseminação da agricultura de precisão.
Setor | Dependência do GPS (%) |
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Aviação comercial | 95% |
Logística e transporte | 80% |
Agricultura de precisão | 75% |
Telecomunicações | 65% |
O GPS é apenas a ponta do iceberg. Como alertou a coluna Fala IUB, o Brasil depende amplamente de softwares, infraestrutura em nuvem, chips e serviços digitais de empresas dos EUA. A criação de um GPS nacional é um passo importante rumo à soberania tecnológica, mas exige investimentos robustos, parcerias internacionais e um plano de longo prazo.
A iniciativa pode representar não apenas uma resposta geopolítica, mas também uma oportunidade para o Brasil avançar em inovação, defesa cibernética e independência tecnológica em áreas estratégicas.
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