Entre 2006 e 2017, o Brasil viu sua capacidade instalada de energia eólica saltar de 0,23 para 12,4 gigawatts (GW), com investimentos fortemente concentrados em regiões com alto potencial de vento, especialmente no Nordeste. Essa transformação energética não apenas acelerou a descarbonização da matriz elétrica, como também gerou um efeito colateral positivo: o aumento do emprego nas cidades receptoras desses projetos, sobretudo entre os trabalhadores mais jovens e com menor nível de escolaridade formal.
Uma pesquisa recente dos economistas Hernandez-Cortes e Mathes (2025), baseada em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e cruzamentos com registros de empregos, confirma que a instalação de parques eólicos no Brasil trouxe ganhos consistentes de emprego e renda nas localidades envolvidas — e que esses ganhos foram desproporcionalmente maiores entre trabalhadores com menos de 40 anos e sem ensino médio completo.
Os setores mais impactados pela energia eólica
Geração de empregos diretos e indiretos
A construção e operação de parques eólicos estimularam a criação de postos de trabalho em diversos setores. Os maiores impactos foram identificados nas áreas de:
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Eletricidade e energia
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Construção civil
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Transporte e logística
Esses setores absorveram grande parte da mão de obra demandada durante a implementação e operação dos projetos, com destaque para empresas locais já existentes.
Dado relevante: O aumento de empregos também se refletiu em um crescimento dos salários médios mensais nessas regiões.
Benefícios concentrados em jovens e pessoas com baixa escolaridade
A pesquisa mostrou que os maiores beneficiários foram:
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Trabalhadores com menos de 40 anos
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Pessoas sem ensino médio
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Moradores de regiões com alta informalidade
Enquanto os jovens sem ensino médio ganharam mais empregos, os jovens com ensino médio viram ganhos salariais superiores. Essa diferença sugere a necessidade de políticas públicas de qualificação técnica para aproveitar ao máximo o potencial de inclusão econômica do setor renovável.
Por que os projetos eólicos impulsionam a economia local?
A pesquisa identificou três mecanismos principais que explicam o impacto positivo dos projetos eólicos sobre o emprego:
1. Não foi eletrificação
Embora possa parecer intuitivo que a expansão da eletricidade impulsione o crescimento econômico, 97% da população brasileira já tinha acesso à eletricidade em 2005. Isso indica que os novos projetos não aumentaram o acesso, mas sim estimularam a economia por outros meios.
2. Renda gerada por arrendamento de terras
Os proprietários de terra onde os parques eólicos são instalados recebem pagamentos mensais pelo uso do espaço. Embora os dados sobre contratos individuais de arrendamento não sejam públicos, os pesquisadores observaram que:
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A arrecadação municipal com impostos sobre serviços (ISS) aumentou significativamente após a assinatura dos contratos.
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Esse aumento antecede a fase de operação dos parques, sugerindo que investimentos empresariais e novos negócios são ativados desde a contratação.
3. Estímulo ao comércio e ao setor de serviços
A renda circulando nas cidades impulsiona novos negócios, o que explica o crescimento de empresas e postos de trabalho locais em áreas diversas.
Receita fiscal também cresce com a energia renovável
Dados sobre arrecadação tributária municipal mostram aumento relevante após a contratação de projetos eólicos. O crescimento da arrecadação de ISS reforça a ideia de que os efeitos econômicos ocorrem ainda antes da entrada em operação dos parques.
Gráfico sugerido: Efeito dos projetos eólicos nas receitas fiscais municipais (ISS, IPTU e outros impostos)
Desafios e oportunidades para políticas públicas
Apesar dos benefícios observados, os pesquisadores alertam para desigualdades nos efeitos econômicos. Nem todos os grupos populacionais são beneficiados da mesma forma. Para maximizar os efeitos positivos da transição energética, é essencial:
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Investir em qualificação técnica e profissional
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Promover políticas de inclusão para populações mais vulneráveis
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Monitorar impactos em regiões dependentes de combustíveis fósseis
Energia renovável como vetor de desenvolvimento regional
A expansão dos projetos de energia eólica no Brasil oferece não apenas uma alternativa limpa para a matriz energética nacional, mas também uma ferramenta eficaz de desenvolvimento econômico local. A geração de empregos, a melhoria da renda, o estímulo ao setor de serviços e o fortalecimento da arrecadação municipal são evidências de que políticas de transição energética podem ser aliadas poderosas na redução das desigualdades regionais.
Para garantir que esses efeitos sejam sustentáveis e mais amplos, será fundamental o engajamento de governos locais e estaduais com políticas que promovam educação técnica, inovação no setor de energia e apoio ao empreendedorismo nas áreas beneficiadas.
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