‘Jumbo’ para entrega em presídios vira negócio em empresas e apoio a famílias de detentos


Empreendedores ajudam famílias a enviar produtos a presídios na região
Em Ribeirão Preto (SP), empreendedores estão transformando a montagem e entrega de “jumbos” – kits com itens essenciais para detentos – em um negócio que vai além do comércio, oferecendo também apoio e acolhimento a familiares de presos.
Lojas como a de Irene Rodrigues da Silva, no centro da cidade, se especializam em organizar essas caixas de produtos, que seguem regras rigorosas de cada penitenciária da região, e se tornaram um ponto de referência para quem busca manter o vínculo com quem está no sistema prisional.
Há pouco mais de cinco meses de loja aberta, dezenas de pedidos diários de kits personalizados são feitos por famílias para que sejam enviados aos seus entes nas unidades prisionais. A demanda é variada, e os pedidos incluem desde blusas de frio, camisetas, bermudas e meias até itens de higiene pessoal como sabonete e shampoo, alimentos e cigarros.
A entrega dos kits geralmente ocorre uma vez por semana, seja durante as visitas ou por meio dos Correios. No entanto, as regras são rigorosas e mudam de presídio para presídio.
A comerciante ressalta a importância de conhecer essas regras previamente para que os familiares não percam tempo.
“As embalagens precisam ser transparentes. O sabonete tem as cores [que pode entrar em cada unidade], tem penitenciária que entra sabonete branco, tem penitenciária que não entra. Há tempos entrava o chocolate, hoje não entra mais. O chinelo não pode ter bandeirinha, não pode ter listra, tem que ser liso”, explica Irene.
Montagem de ‘jumbos’ para presídios vira negócio e apoio a famílias de detentos em Ribeirão Preto (SP).
Reprodução EPTV
Mais que produtos: acolhimento e orientação
Além de oferecer os produtos, Irene percebeu que seus clientes buscavam algo a mais: acolhimento.
“As pessoas que me procuram são pais, mães, mulheres, namoradas. É um público grande, e quando eles entram pela porta eles são acolhidos, porque aqui eles sentem a necessidade de falar, desabafar, de chorar. Eles vêm aqui procurar uma roupa, mas não é simplesmente vender uma roupa para eles, eu sinto a dor que eles estão sentindo”, relata.
A percepção de Irene é compartilhada por Victor Albuquerque, que também trabalha com a montagem de jumbos em uma empresa que atende toda a região. Ele e sua equipe vão além da venda, oferecendo orientação e apoio social.
“[Orientamos] Como prosseguir com os documentos de carteirinha [ de visitante], nós facilitamos às pessoas a identificar o familiar que está preso, nós ajudamos com outras questões também. Criamos até um blog para tirar bastante dúvida de cliente. Tem muito mais pessoas que nos procuram para tirar uma dúvida do que realmente comprar um jumbo”, conta Victor.
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Personalização e exigências
Por mês, mais de dois mil kits são montados, e cada um é personalizado pela família do detento. Itens como chuteiras, rádios e bolas são frequentemente pedidos, mas a permissão varia de acordo com a unidade prisional e as regras da cela.
“Tem ali às vezes um pedido de uma bola, um rádio. Isso acontece muito das pessoas pedirem para separar, mas tem que entrar primeiro em contato com a unidade prisional e ver se é permitido na cela, porque é apenas permitido um por cela”, explica Victor.
O diferencial dessas lojas é justamente a ausência de produtos prontos; tudo é montado sob medida. Os custos dos “jumbos” podem variar, dependendo dos itens e das exigências.
O trabalho exige atenção minuciosa na separação dos produtos e, principalmente, nos documentos de envio. Somente quem está autorizado e possui a carteirinha de visitante pode enviar os kits.
“Quando uma pessoa faz uma compra no nosso site, é necessário que identifique os dados dela, o número de carteirinha, para lá na unidade prisional identificar que aquele jumbo está vindo daquela pessoa. Então nós temos um campo de cadastro onde as pessoas colocam os dados do visitante e do detento para a gente poder anexar na embalagem e ser aceito na unidade prisional, sem isso não é aceito”, explica Victor.
Montagem de ‘jumbos’ para presídios vira negócio e apoio a famílias de detentos em Ribeirão Preto.
Reprodução EPTV
Vínculos mantidos através do ‘jumbo’
Essa atividade demanda uma logística complexa, mas, para as famílias, é muito mais do que apenas uma caixa de produtos. Por trás de cada “jumbo”, existe a tentativa de manter vínculos com quem está em uma das 180 unidades prisionais do estado de São Paulo.
“A família é um laço importante na vida de todo mundo. São mães que sofrem, mães que choram, e na verdade, às vezes, uma delas precisa apenas de um abraço”, finaliza Irene.
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