Doga Tattoo
| Foto: Arquivo Pessoal
No entanto, ainda assim, Doga prefere o processo de dividir uma tatuagem grande em mais sessões. “Não trabalharia dessa forma fazendo a tatuagem de uma vez só. Eu acho que, para pessoa que vai ter uma tatuagem e vai levar pro resto da vida, vale a pena passar esse processo de sessões e o tempo que leva para poder ter um resultado muito melhor do que fazendo em um dia só”, completa.Para a tatuadora Fabiana Teixeira, a decisão do CFM veio tarde. “A anestesia geral envolve riscos sérios e deve ser realizada apenas em ambiente hospitalar, com monitoramento adequado e equipe médica treinada… O benefício principal é evitar complicações graves, como reações adversas, queda de pressão, parada respiratória e outros riscos. Usá-la pra algo estético como tatuagem não justifica tal exposição”, explica.A profissional conta que já recebeu pedidos até para tatuagens pequenas, motivados por medo da dor e ansiedade, mas defende que a dor faz parte do processo criativo.“Na maioria dos casos muitos clientes buscam minimizar ou anular a dor, mas sempre explico os limites de eficácia e possíveis riscos. A tatuagem quando respeitado seu processo natural, é quase como um ritual entre o artista e o cliente. A dor não é inimiga, é como se fosse um lembrete de que algo novo está nascendo, uma ferida que se cura para revelar uma história”, pontua.
Tatuadora Fabiana Teixeira
| Foto: Arquivo Pessoal
Rato Tattoo, também se posiciona a favor da regulamentação, mas levanta um alerta. Para ele, proibir sem alternativas pode levar clientes a procurar meios perigosos para evitar a dor.“Acredito sim que a proibição levará clientes a fazer procedimentos clandestinos ou de pouca segurança, tanto pelo risco quanto pelo valor elevado do procedimento feito legalmente”, afirma.O tatuador nunca atendeu um cliente que quisesse anestesia geral, mas diz que o uso de lidocaína tópica já é comum e também oferece riscos. “Sempre atendo clientes que querem usar lidocaína como anestésico, e ela por si só já representa um perigo se não for usada com critério”, comenta.Rafael acredita que a dor tem um papel fundamental no processo artístico da tatuagem e teme que a popularização da anestesia geral possa descaracterizar o simbolismo do procedimento. “Tira o princípio básico do processo da tatuagem, que consiste em passar pela dor para alcançar tal objetivo”, opina.
Imagem ilustrativa de tatuagem
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Celebridades e cultura do “zero dor”Nos últimos anos, o uso de anestesia em tatuagens se popularizou entre celebridades. O cantor Igor Kannário, a influenciadora Rafaella Santos, irmã de Neymar, e o funkeiro MC Cabelinho realizaram sessões extensas sob efeito de sedação ou anestesia geral.A decisão do CFM busca frear esse tipo de prática, especialmente fora do ambiente médico, para garantir que procedimentos estéticos não coloquem a saúde dos clientes em risco.O que muda com a nova regra?Com a medida, estúdios de tatuagem estão proibidos de oferecer anestesia geral, sedação ou bloqueios anestésicos, independentemente da experiência do tatuador ou do porte do estúdio. O uso de anestésicos tópicos continua permitido, mas exige responsabilidade e conhecimento técnico.Para os tatuadores, o momento agora é de adaptação e conscientização. Enquanto uns defendem a volta às origens da tatuagem, com dor e paciência, outros pedem regulamentação que permita procedimentos seguros, modernos e acessíveis.A decisão do CFM não apenas define limites técnicos, mas também reacende o debate sobre o significado da tatuagem, os direitos do consumidor e a responsabilidade dos profissionais diante de práticas em expansão.