Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos, que impõe uma taxa de até 50% sobre produtos brasileiros. A medida atinge diretamente 35% da pauta de exportação nacional, enquanto outros 45% foram incluídos em uma lista de exceção com tarifa reduzida de 10%. Os 20% restantes seguem sujeitos à mesma alíquota aplicada ao restante do mundo. A decisão afeta fortemente setores como café, carne bovina, mel, frutas e pescado — sobretudo de pequenos e médios produtores nas regiões Norte e Nordeste.
Apesar do início da vigência da sobretaxa, as negociações diplomáticas continuam, embora com pouco avanço. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda busca uma reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelo Ministério do Desenvolvimento, não teve novos encontros com a contraparte americana desde o anúncio das tarifas.
Setores mais afetados e perdas bilionárias
Entre os segmentos mais atingidos estão:
Produto | Impacto Estimado | Potencial de Redirecionamento |
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Carne bovina | Prejuízo superior a US$ 1 bilhão | Médio |
Café | Dificuldade de realocação de 8 milhões de sacas | Baixo |
Frutas e mel | Altamente perecíveis, risco de perda total | Muito baixo |
Pescado | Afeta cooperativas e pequenos produtores | Baixo a médio |
Impacto regional e desigualdade socioeconômica
Levantamento da FGV mostra que o efeito do tarifaço é desigual entre as regiões brasileiras:
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Norte e Nordeste: Risco socioeconômico alto a muito alto. Produtos perecíveis, baixo valor agregado e forte dependência dos EUA tornam a situação crítica.
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Sudeste: Alta exposição às exportações para os EUA, mas com impacto moderado, dada a presença de manufaturas e empresas com maior capacidade de adaptação.
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Sul: Exposição média, mas impacto alto, especialmente em cadeias de valor menos diversificadas.
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Centro-Oeste: Menor risco. A pauta de exportação é voltada à Ásia e Europa, com alta diversificação e baixa dependência do mercado americano.
Governo prepara pacote emergencial
O governo federal, em conjunto com o BNDES e outras pastas, trabalha em um pacote de medidas emergenciais que deve ser anunciado nos próximos dias. As propostas incluem:
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Linhas de crédito subsidiadas para capital de giro;
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Programas de manutenção do emprego, como subsídios a salários;
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Compras governamentais direcionadas a setores mais afetados;
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Incentivos à diversificação de mercados e produtos, com foco em abrir espaço na Ásia e Europa.
Pressões políticas e caos no Congresso
Enquanto o governo tenta conter os efeitos econômicos do tarifaço, o ambiente político se agrava. A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro acentuou a instabilidade no Congresso, com a oposição sequestrando a pauta legislativa. Deputados obstruíram sessões, ocuparam mesas diretoras e geraram tumulto em plenário, cobrando anistia para envolvidos nos atos de 8 de janeiro, impeachment de ministros do STF e fim do foro privilegiado — propostas sem viabilidade legislativa.
Estados Unidos sob pressão interna
Lobbies empresariais norte-americanos, como o McDonald’s e a Starbucks, pressionam o governo Biden/Trump (conforme a interlocução varia) para reconsiderar as tarifas, diante da dependência da carne brasileira para a indústria alimentícia e da qualidade do café importado. No entanto, mesmo com esse movimento, analistas alertam que mudanças na estrutura de tarifas levam tempo e demandam intenso esforço diplomático.
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