Maurício Gonçalves chegou cedo para ser o primeiro da fila na tradicional distribuição gratuita de peixes em Belo Horizonte nesta Sexta-feira da Paixão (18) . Ele chegou às 10h, mas do dia anterior. Foram quase 24 horas de espera.
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“É uma alegria e muita emoção estar aqui. A gente passa o tempo conversando. A gente faz até amizades”, conta o desempregado que participa da ação há 14 anos. A última vez que ele comeu peixe foi na doação do ano passado.
O projeto acontece há 32 anos, no bairro Bonfim, região Noroeste da capital mineira. O organizador é o empresário Afonso Teixeira. “Virou tradição. Saber que não tem nem placa aqui na rua e olha o tanto de gente que tem aqui hoje”, comenta sobre a fila que virava o quarteirão no início da manhã, chegando até à avenida Dom Pedro II.
A data escolhida mostra uma das motivações do empresário: um ato de fé. Na tradição católica, a Semana Santa e a Quaresma são momentos para penitências. Uma delas, não comer carne vermelha.
“Desde criança, aprendemos que temos que fazer caridade. A Sexta-Feira Santa é um dia sagrado. Morando em fazenda, eu aprendi que naquele dia não se vendia o leite. Tirava-se o leite para doar. No lado de lá, a moeda que a gente leva é o bem que fizemos aqui”, diz o empresário, que prefere não revelar a quantidade de peixe distribuída para que os números não chamem mais atenção que a doação. “Isso aqui multiplica. Dá para todo mundo”, brinca.
A aposentada Maria da Glória Serpa, de 69 anos, saiu de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH, para receber o pescado. Ela também chegou na manhã do dia anterior. Ela passou a madrugada sentada em um balde de plástico. Para se esquentar, se garantiu apenas com a calça e uma blusa de tricô. Para levantar da ‘latinha’, contou com a ajuda dos colegas que fez na fila.
“Vale a pena. Tenho que elogiar. Isso aqui é tudo de bom, porque o peixe é caro e nós não temos condições de comprar”, conta sobre o alimento que vai preparar para a família no fim de semana das celebrações de Páscoa.
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