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Capacitar na raiz
| Foto: Divulgação | Amanda Chung
Antes de cada sessão, as comunidades terão acesso a um workshop de produção cultural facilitado por Nell Araújo, fundador e gestor do IAC-BA e do Teatroescola, a primeira escola artística inclusiva do Nordeste, e gestor do Teatro Jorge Amado. A atividade abordará temas como o conceito de cultura e a importância da cultura de terreiro, etapas básicas da produção (pré-produção, produção e pós-produção), estratégias de comunicação e uso consciente das redes sociais, além da relevância da gestão financeira para a organização e sustentabilidade de ações culturais. “É uma honra caminhar com o espetáculo Vovô nesses encontros tão potentes. Esses espaços são guardiões vivos de memória, cultura e resistência preta, e estar com eles, escutando, trocando e aprendendo, é parte do que move o Teatroescola. Esse projeto nasce do desejo coletivo de fortalecer quem já faz, quem já pulsa cultura em seus territórios. Somos parte de algo muito maior”, afirma Nell.Além do IAC e do Teatroescola, responsáveis pela viabilização do projeto, a iniciativa tem também outros importantes parceiros. Juliana destaca a produção da Pé de Erê Produções e o apoio do Orooni – Rede Jovem de Candomblé e da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult).“Não posso deixar de mencioná-los e de mencionar também todos os terreiros que estão abrindo as suas portas de forma gratuita, solidária, comunitária, que estão acolhendo esse projeto e que estão fazendo acontecer, porque eles também participam muito da comunicação. Isso só mostra o sentido principal e conceitual do projeto, que é de fortalecer o espetáculo e devolver para a comunidade do terreiro esse espaço de protagonismo”, diz.O espetáculo
| Foto: Divulgação | Amanda Chung
Vovô foi criado em abril de 2021, fruto da inquietação de Rafael Martins, a urgência de produzir frente a uma pandemia e ao isolamento social. Ainda não tinha um tema, apenas muita vontade de voltar a fazer arte. Convidou o diretor Leno Sacramento e o ator Pedro Zaki e, um tempo depois, surgiu uma ideia.“Leno veio com essa ideia de falar sobre o avô e a gente começou o processo de escrita a partir de nossas memórias, eu e o Pedro. Memórias da nossa infância, se a gente teve ou não contato com nossos avós. A gente ficcionalizou algumas coisas também, se questionando muito ‘o que eu queria ter vivido com o meu avô que eu não vivi?’. E parte também em um processo de escuta, ouvindo os nossos amigos, fazendo reuniões e escrevendo. A gente tem algumas cenas que foram baseadas em coisas que a gente ouviu desses amigos. Então basicamente é essa colcha de retalhos”, conta Rafael.A peça foi ganhando forma e teve sua estreia no formato virtual, com gravações dentro de casa, feitas nos celulares. Em 2023, foi adaptada para o modo presencial, sob direção de Leno Sacramento e coreografia de Dudé Conceição, e tomou o Brasil, já tendo passado por cidades como Salvador e Rio de Janeiro.No palco, os personagens vividos por Rafael Martins e Pedro Zaki revisitam memórias afetivas com seus avôs, num diálogo sobre passado, comportamentos e escolhas. A peça destaca a importância do avô negro como símbolo de respeito, sabedoria e referência nas famílias pretas.O intuito de Rafael e Pedro foi trazer experiências que, mesmo duras, não se transformassem em melancólicas, mas sim que propusessem um olhar afetuoso e crítico sobre essa figura. Fizeram isso dando voz a temas como abandono paterno, homofobia, rancor, cuidado e ancestralidade.“A gente fala sobre essas figuras, dá nome às coisas, mas procura também falar: ‘eu te amo’. Coisa que é tão difícil às vezes a gente falar, porque, pela construção social, homens têm muita dificuldade em dizer ‘eu te amo’. Então Vovô é sobre realmente encontrar formas de amar, encontrar formas de ressignificar esse amor. Com o espetáculo, a gente está o tempo inteiro olhando para essa figura e tentando entendê-la. Entender que são homens, que são produtos de seu tempo, mas que eles têm defeitos e também têm qualidades”, diz.Tanto para Rafael como para Pedro, as lembranças com os avós remetem majoritariamente à dor. Estas não ficaram de fora do espetáculo, mas, tanto para ressignificar suas experiências como para celebrar o amor que poderia ter vindo de um avô, mas veio de outras fontes, deram seus jeitos: Rafael escreveu algumas passagens pensando na avó e em dois vizinhos que o tratavam como neto. Pedro, por sua vez, pensava muito na mãe ao escrever. “O espetáculo fala sobre o avô, mas é muito mais sobre o afeto da família. Eu penso muito que é sobre o afeto”, diz Zaki.Projeto Raízes que Povoam: Espetáculo Vovô + Workshop Produção Cultural / Em SALVADOR: amanhã, Workshop: 14h às 16h e espetáculo + Bate-papo: 17h / Terreiro Ilê Asé Odé Faroerã (Rua 7 de Setembro da Cocisa, 53 – Paripe) / Em LAURO DE FREITAS: 17 de agosto, Workshop: 14h às 16h, Espetáculo + Bate-papo: 18h / Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú (Rua Capiarara, nº 1.850 – Areia Branca, Lauro de Freitas) / Em CAMAÇARI: 23 de agosto, Workshop: 14h às 16h, Espetáculo + Bate-papo: 18h / Terreiro Ilê Axé Raízes Obá Kossô Omi (Rua São José, nº 13 – Distrito de Parafuso, Camaçari) / Em SANTO AMARO: 29 de agosto, Workshop: 09h às 12h, espetáculo + Bate-papo: 14h (Workshop exclusivo para membros do terreiro e estudantes da UFRB) / Terreiro Ilê Yá Oman (Av. Rui Barbosa, n 577- Bonfim, Santo Amaro)*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.