Com o ‘ouro da terra’ entre os ingredientes, indígena da comunidade Tuyuka ensina a preparar cardápio que une aldeias e cidades


Indígena da comunidade Tuyuka ensina cardápio com ingrediente do ‘ouro da terra’
O peixe fresco, vindo dos rios que contam histórias, encontra a farinha de mandioca, “ouro da terra”, para formar a base de uma culinária que atravessa séculos. No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado neste sábado (9), o g1 mostra o preparo de três receitas tradicionais da culinária indígena: a quinhapira, o beiju e o açaí com farinha.
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Quem compartilha essas receitas é Reginaldo Trema Ramos, de 38 anos, estudante de engenharia florestal na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba (SP), pertencente à etnia Tuyuka, cuja comunidade está situada na fronteira entre Brasil e Colômbia, na região do Amazonas.
Há oito anos, ele se mudou com a mãe para Sorocaba em busca do diploma acadêmico. Quando a saudade da aldeia aperta o peito, ele encontra refúgio nos sabores da terra, que despertam memórias e mantêm viva a conexão com suas raízes.
“É uma dieta que tem consumo diário lá na região onde eu cresci. A quinhapira, o beiju, o açaí, durante a época que tem. São pratos de um cardápio que tem que ter quase que diariamente. Lá, a gente tem costume de pescar dentro da floresta, nos rios. Dentro da floresta, a gente tem que aprender a cozinhar. Na casa, a mãe faz. Na floresta, você tem que se virar. A gente leva a farinha, a pimenta, o sal para dentro da floresta e faz o cozido. É uma receita prática. Eu aprendi vendo minha mãe, Adelina, fazer”, comenta o estudante.
Reginaldo Trema Ramos, de 38 anos, ensina um cardápio tradicional indígena feito com ingredientes acessíveis na cidade
Mateus Machado/g1
Ingredientes
g1 ensina o preparo de um cardápio indígena: quinhapira, acompanhada de beiju. Açaí com farinha de mandioca amarela de sobremesa
Mateus Machado/g1
Prato principal
Para preparar a quinhapira, receita conhecida também como caldo de peixe, separe:
1 quilo de peixe de água doce ou salgada;
1 litro de água filtrada;
Pimenta;
Sal a gosto.
Modo de preparo
Coloque em uma panela metade da água para ferver. Acrescente o peixe já limpo, a pimenta e o sal a gosto. Cubra o peixe com o restante da água. Quando o caldo começar a borbulhar, deixe por mais dez minutos e desligue o fogo.
Acompanhamento
O beiju, também chamado de biju, é uma tradicional preparação indígena feita a partir da goma de tapioca extraída da mandioca. Funciona como uma espécie de panqueca fina, muito consumida em diversas regiões do Brasil, especialmente na Amazônia e no nordeste. Neste cardápio, ele é servido como acompanhamento da quinhapira.
Para preparar o beiju, separe:
Água filtrada;
500 gramas de goma de tapioca;
300 gramas de farinha de mandioca branca.
Modo de preparo
Em uma tigela, coloque a farinha de mandioca branca e regue com um pouco de água. Misture. Acrescente a goma de tapioca e misture novamente. Em uma frigideira já quente, espalhe um pouco da mistura. Deixe fritar, vire e repita o processo. A massa precisa ficar com uma consistência firme para não esfarelar.
Tradicional preparação indígena feita a partir da goma de tapioca extraída da mandioca. Funciona como uma espécie de panqueca ou tapioca, muito consumida em diversas regiões do Brasil, especialmente na Amazônia e no nordeste
Mateus Machado/g1
Sobremesa
Para a sobremesa, a dica do Reginaldo é açaí com farinha de mandioca amarela. Junte os dois ingredientes em uma tigela e acrescente água filtrada. Misture bem.
Açaí com farinha de mandioca amarela é sugestão de sobremesa indígena
Mateus Machado/g1
Vivência indígena no campus
Estudantes indígenas da UFSCar criaram o Centro de Convivência Indígena (CCI), que promove projetos de integração com outros cursos e com a população. Um dos trabalhos realizados pelos acadêmicos foi a pintura de um mural no campus de Sorocaba.
A iniciativa surgiu a partir da proposta de Reginaldo, que explica que os desenhos simbolizam proteção.
“Para o povo Tuyuka, são meios de defesa. Quando você for para um lugar desconhecido, os grafismos te defendem. Aqui, a forma como está escrito, a gente falaria como um meio de saudação, significa ‘seja bem-vindo’. Eu que desenhei, eu que escolhi as formas de desenho, a criação foi ideia minha. Foi demorado, mas deu certo no final. No dia da inauguração, eu falei que esse corredor virou uma parte de proteção.”
Reginaldo e outros estudantes indígenas desenham na UFSCar mural com desenhos que simbolizam proteção e defesa
Mateus Machado/g1
Para Karina Martins, professora de engenheira florestal, o CCI tem papel fundamental dentro e fora da universidade.
“Tem uma sala que foi cedida, que os estudantes do CCI usam para fazer essas articulações, debater os projetos. Os estudantes indígenas têm muito engajamento em eventos, congressos. Visitam escolas da região para explicar sobre a história deles. Aqui no sudeste, na região, a gente tem vários povos indígenas, mas a população não tem muito contato, um contato próximo de conhecer, ver como é, isso não temos. Então, o fato de ter aqui estudante indígena do Brasil inteiro, de diversas etnias, muita gente do Amazonas, Mato Grosso, nos permite conhecer essa diversidade de culturas”, aponta a professora.
Reginaldo, ao lado da professora Karina Martins, da UFSCar, campus Sorocaba (SP)
Larissa Pandori/g1
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