Tarifaço de Trump atinge cachaça mineira e deixa produtores em alerta

A canção ‘Marvada Pinga’, eternizada na voz de Inezita Barroso, narra os desvaneios de um consumidor assíduo de cachaça, produto tradicional da cultura brasileira e conhecido mundialmente. Desde a última semana, os moradores dos Estados Unidos que querem se “atrapaiar” com a bebida, assim como narra a canção, estão pagando mais caro. Isso porque a bebida entrou na lista de produtos brasileiros com sobretaxa de exportação do governo de Donald Trump, que entrou em vigor no dia 06 de agosto. Um cenário que deixa produtores em alerta, especialmente em Minas Gerais, estado com alguns dos rótulos mais famosos do Brasil.

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No último fim de semana, o assunto correu entre os participantes da 34ª Expocachaça, feira anual referência no setor, realizada em Belo Horizonte. Sérgio Maciel, presidente da Associação Nacional de Cachaça de Alambique (Anpaq) vê com preocupação o cenário, mas acredita que os reflexos vão ser sentidos a curto e médio prazo.

O atraso, segundo ele, se deve principalmente pela capacidade de estoque da bebida. Como ela não é perecível, os clientes estrangeiros costumam comprar volumes maiores para mantê-los guardados. Desta forma, a diferença no preço só deve ser sentida nas próximas vendas.

Maciel é produtor em Piranga, na Zona da Mata mineira. O município está entre os principais exportadores do Estado e o empresário tem clientes nos Estados Unidos.

“No meu caso, por exemplo, o cliente disse que vai continuar trabalhando [com o estoque atual] e que na hora de comprar vai avaliar o que vai fazer… Se ele vai absorver metade do custo e a gente metade e se a gente aguenta absorver essa metade”, comentou sobre a incerteza.

O produtor, por outro lado, acredita que o impacto no preço do produto nos Estados Unidos vai ser sentido de formas diferentes entre quem comprar uma garrafa ou a bebida pura ou consumir drinks feitos a partir dela, como as requisitadas caipirinhas brasileiras. Para estes últimos, segundo ele, “a taxação não é tão significativa”.

“Se a pessoa exporta cachaça branca para fazer a caipirinha lá fora, a taxa de 50% cai para cerca de 5% porque é a quantidade de cachaça que ele usa no drink. Quando vai emitir nota fiscal, o valor da cachaça em si, representa pouco no produto”, analisa.

“A cachaça não é conhecida como um produto para tomar puro. O impacto lá fora pode não ser tão grande só por causa disso, mas temos que nos se preocupar, é claro, porque a taxação é absurda”, completa.

Impacto em Minas Gerais

Assim como o café, carne bovina e pescados, a cachaça não ganhou isenção do imposto que chega a 50% sobre o valor dos produtos. A lista de exceções conta com cerca de 700 itens que são estratégicos para a economia estadunidense. Apesar de chamativo, o número não engloba 63% das exportações mineiras, conforme dados da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

Mila Corrêa, secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, explica que o estado acumula quase US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões na cotação de hoje) em exportações de cachaça. “Os Estados Unidos são os principais receptores da cachaça mineira. Minas Gerais tem 8.400 alambiques. Salinas é a capital nacional da cachaça”, comenta sobre a força econômica e cultural da bebida.

O movimento Viva Cachaça calcula que o preço médio do litro exportado deve aumentar de US$ 4,49 (R$ 24,47 na cotação de hoje) para US$ 6,44 (R$ 35,37 na cotação de hoje). O levantamento foi feito com base no Anuário da Cachaça 2025 do Ministério da Agricultora e Pecuária (Mapa).

As cidades mineiras líderes em exportação são Patos de Minas, Extrema, Araxá, Uberaba, Salinas, Contagem, Novorizonte. Juntas, acumulam mais de US$ 1 milhão (R$ 5,4 milhões na cotação de hoje).

Veja a lista completa:

Mapa das cidades exportadoras mineiras (1997-2024)
Faturamento acumulado N.Cid % Principais cidades Acumulado em US$ (1997/2024) Continuidade na Exportações N.Cid %
Superior a 1 milhão de dólares 7 9,4 Patos de Minas – MG 6.975.647 Mais de seis anos 13 12,2
Extrema – MG 5.427.479
Araxá – MG 3.656.439
Uberaba – MG 2.833.172
Salinas – MG 2.762.856
Contagem – MG 2.478.102
Novorizonte 1.410.242
Entre 999 mil dólares a 99 mil dólares 12 16,2 Lagoa Santa 804.933 De três a seis anos 13 12,2
São José da Barra – MG 401.588
Belo Horizonte – MG 390.567
Pirapora – MG 358.361
Divinópolis – MG 332.737
Passa Quatro – MG 292.592
Inferior a 100 mil dólares 55 74,3 São Joaquim de Bicas – MG 83.435 Inferior a três anos 56 75,6
Perdizes – MG 77.576
Esmeraldas – MG 74.693
Piranguinho – MG 58.182
Sacramento – MG 42.260
Piranga – MG 35.640
Total 74 100 Total 74 100

Fonte: Anpaq, a partir de pesquisa na Comexstat (Brasil, 2025b).

O presidente da Anpaq cobra um empenho maior do Governo Estadual em ações específicas para o setor, já que, na percepção dele, as atenções estão mais focadas em produtos perecíveis da cadeia do agro, com maiores chances de impactos imediatos, como a carne bovina.

A secretária de Desenvolvimento, no entanto, afirma que o Estado está se mobilizando para ainda entender os impactos de cada segmento e desenhar propostas específicas.

“A gente tem feito diálogo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) para construir [medidas específicas para os produtores de cachaça], assim como para o café e a carne. Estamos em processo de construção dessas medidas específicas. Até porque foi na semana passada que tivemos a notícia de alguns setores da taxação promovida pelo Governo norte-americano”, completou.

Mila Corrêa lembra que o Governo Zema já anunciou ações gerais para auxiliar os exportadores mineiros. O pacote inclui:

  • Liberação de R$ 100 milhões por ano em créditos acumulados de ICMS;
  • Linha emergencial de crédito do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) de R$ 200 milhões, com juros reduzidos, prazo de até 60 meses e carência de 12 meses;
  • Parcelamento e flexibilização de contratos de energia elétrica e gás natural com a Cemig;
  • Suspensão de prazos para obrigações ambientais;
  • Criação de um fundo estadual para apoiar a participação de empresas em missões internacionais.

“Vamos lançar também o plano de comércio exterior pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico justamente tentando promover a diversificação da exportação dos produtores mineiros”, completa Mila.

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