Bicicletas são meio de locomoção, de trabalho, de prática esportiva e de lazer, mas seu uso também é um desafio diante da falta de estrutura adequada, relatada em Salvador e Região Metropolitana. Com o ”boom” de entregadores de aplicativos – muitos utilizam bikes – essa dura realidade vem sendo escancarada pela falta de segurança no trânsito, relatam profissionais da área. Apenas entre janeiro e julho deste ano 38 ciclistas foram feridos em acidentes, com uma morte, conforme dados da Transalvador.Em 2023, foram 56 feridos e nenhum óbito; enquanto em 2024, 46 ciclistas se feriram e um veio a óbito. Os números estão diminuindo, mas ainda são preocupantes, considerando que são ocorrências evitáveis, como indica o pesquisador do Observatório da Mobilidade de Salvador (Obmob), Pablo Fiorentino. “Não temos um espaço urbano que seja convidativo para o usuário de bicicleta. Tivemos tímidos avanços em Salvador, mas quem depende da bicicleta, como entregadores, é uma vida em um ambiente que não é seguro”.Ele aponta que os maiores riscos para ciclistas são a baixa conectividade da malha cicloviária e a alta velocidade dos veículos na cidade. “Não consigo ir de um determinado ponto da cidade a outro sem que precise compartilhar a via com carros. Carros e ônibus que estão a 60, 70, 80 km por hora dentro da cidade. Temos uma rede cicloviária que está desconectada”, argumenta.Dificuldades e riscosO entregador de aplicativo, Genivaldo da Silva, 37, atua na profissão há um ano e conta viver essas dificuldades. O que começou como renda extra, agora é a principal ocupação de Genivaldo, que consegue tirar algo entre R$600 e R$700 no mês fazendo entre 12 e 13 corridas no dia. “A dificuldade é que não tem ciclovia, que muitas vezes os carros não respeitam a gente. Carro fecha a gente, entra sem sinalizar. Temos que desviar e ficar atentos”, comenta.A falta de segurança para si e para seu equipamento de trabalho (celular e bicicleta) também são motivos de preocupação do entregador. “Entrei querendo uma renda extra, mas vou continuar. Pretendo evoluir, passar pra moto. A insegurança a gente tem que encarar”, afirma.O entregador Rodrigo de Oliveira, 22, atua na área há 3 anos e relata já ter vivido essas dificuldades, mas destaca a falta de segurança de seu equipamento. “Já tive minha bike roubada e conheço amigos que tiveram a bike e o celular roubados. É uma profissão que não tem segurança. As empresas deviam ter um seguro”, aponta. Agora, Rodrigo comprou uma moto e usa o veículo para realizar as entregas. “Posso fazer mais entregas e paga melhor no aplicativo”, pontua.‘Não há segurança’Os riscos aos quais os ciclistas estão suscetíveis incluem os condutores alcoolizados que em 2023, em Salvador, teve uma frequência de 5,4% de adultos que declararam beber e dirigir, de acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). No estado a taxa é superior à nacional (6,9% na Bahia contra 5,8% no país) e gera preocupação. Apenas em 2023, foram 981 mortes por acidente de trânsito por uso de álcool, crescimento de 12,6%, em relação a 2022.Ontem, no Dia Nacional do Ciclista, e segundo Pablo Fiorentino, não há o sentimento de segurança na população para que utilize a bicicleta como meio de locomoção ou para resolver coisas na cidade. “Não conseguimos ver mães confortáveis para levar seus filhos para passear ou para ir à escola de bicicleta”, comenta Pablo. O especialista em planejamento urbano e gestão de cidades pela Unifacs, Hendrik Aquino, aponta que o uso de bicicletas é extremamente positivo para qualquer cidade.“A bicicleta continua sendo, cada vez mais, além de um veículo de transporte, uma ferramenta que garante a geração de empregos e renda de maneira limpa, sem gerar poluição sonora e atmosférica. Estimulando a prática saudável de atividades físicas para o trabalhador, sobretudo aqueles que possuem um orçamento mais limitado”, ressalta.
Pedalar no trânsito de Salvador é sinônimo de desafio e resistência
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