Os planos do Brasil de ampliar em mais de 20% a produção de petróleo e gás até 2030 trazem riscos econômicos relevantes. Uma nova análise mostra que até 85% do petróleo previsto em novos projetos da Petrobras não seria lucrativo em um cenário compatível com o limite global de 1,5°C. Na prática, a conta só fecharia se o mundo caminhar para 2,4°C ou mais — hipótese que contraria os compromissos climáticos internacionais.
A Petrobras concentra mais da metade da expansão nacional, incluindo projetos considerados de fronteira, mais caros e arriscados. Em um mercado cada vez mais competitivo, e dada a estrutura de custos dos campos brasileiros, a maior parte dos novos empreendimentos só se pagaria em um mundo perigosamente mais quente.
Números que pressionam a estratégia
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85%: parcela do óleo de novos projetos que não é economicamente viável sob 1,5°C.
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2,4°C: patamar de aquecimento em que os projetos mais arriscados começariam a dar retorno.
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US$ 97 bilhões (2025–2029): plano de investimentos da Petrobras em exploração, produção, transporte e refino.
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15%: fatia destinada à descarbonização das operações e diversificação em energia limpa — considerada insuficiente frente às metas climáticas.
Além do desempenho climático aquém das grandes petroleiras globais, o estudo aponta espaço para melhorar: intensidade de carbono dos produtos, metas de emissões e uma estratégia de diversificação mais robusta.
Leilões e a foz do Amazonas no centro do debate
O governo marcou para 17 de junho a oferta de novas licenças de exploração, com 47 blocos offshore na foz da bacia amazônica, região ecologicamente sensível. A análise adverte que a abertura de novas frentes eleva tanto riscos ambientais quanto riscos financeiros — em especial o de ativos ociosos caso a transição energética avance no ritmo necessário.
O que recomenda o relatório
1) Conter a expansão de petróleo e gás
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Interromper novas licenças de exploração e eliminar gradualmente licenças de desenvolvimento, começando pelos ativos com maior probabilidade de se tornarem inviáveis em trajetórias de baixo carbono.
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Integrar o planejamento nacional de transição com rotas setoriais e regionais confiáveis e com execução no nível empresarial.
2) Redefinir o mandato da Petrobras
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Construir, junto à companhia, um plano de transição ambicioso e crível, alinhado a metas climáticas e de desenvolvimento.
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Adotar estratégia de “modo colheita”: maximizar fluxo de caixa e retorno aos acionistas evitando novos investimentos em desenvolvimento de óleo e gás.
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Resolver contradições regulatórias que travam a transição, com coordenação de governo como um todo.
3) Redirecionar o capital para energia limpa
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Incentivar a migração de investimentos para renováveis e tecnologias de baixo carbono.
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Evitar o desenvolvimento de campos ainda em fase de exploração pode poupar a Petrobras de US$ 13 bilhões a US$ 36 bilhões em perdas por ativos ociosos, dependendo da velocidade da transição.
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Reformar subsídios fósseis e criar regras de sustentabilidade para o sistema financeiro, garantindo condições equitativas para novas tecnologias.
Sinal da sociedade: transição já
Levantamentos recentes indicam apoio popular à mudança de rota: 81% dos brasileiros preferem que a Petrobras migre imediatamente para renováveis, contra 19% favoráveis à manutenção do foco em combustíveis fósseis. O dado reforça que liderar a transição não é apenas uma exigência climática, mas uma demanda social e econômica.
Por que a conta não fecha
Em trajetórias compatíveis com 1,5°C, a demanda global por óleo desacelera; os projetos mais caros e distantes tendem a ficar por último na fila de viabilidade. Com custos de capital mais altos para ativos intensivos em carbono e maior risco de precificação de emissões, margens apertam. O resultado provável é um aumento do risco de “stranded assets” (ativos que perdem valor antes do fim da vida útil econômica).
Oportunidade: transformar risco em vantagem competitiva
Para os autores, o Brasil pode ganhar protagonismo ao:
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Reorientar a Petrobras para ampliar renováveis, armazenamento, redes e soluções de baixo carbono.
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Acelerar ganhos de eficiência e redução de metano na operação existente, encurtando paybacks.
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Alavancar a base industrial, tecnológica e de engenharia do país para exportar soluções de transição energética.
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