Leia Também:
Base forte, futuro sem preconceito: o caminho para mudar o futebol
Bahia além das três cores: como o clube virou referência na luta LGBT+
Meia envolvido no lance da lesão de Jamerson é suspenso pelo STJD
“Foi assim que o racismo me deu meu primeiro empresário. O presidente disse que se não ia jogar goleiro negro no profissional, era pra dispensar da base. Mas tinha um que meu treinador acreditava e pediu pra um amigo cuidar. Fui pra um time com 23 japoneses, só eu de brasileiro. Ali, comecei a desenvolver minha carreira, porque eu tinha uma pessoa branca que chancelava minha presença no futebol”, relata. Seja pela vida que levou, seja pelo lugar que ocupa na sociedade, Aranha sempre soube que não é possível desconectar o que pessoas negras vivem da história que carregam. “Vou em escolas, empresas, contando histórias sobre a minha vida, e as pessoas se surpreendem, se sensibilizam em relação a esse problema. Não dá pra resolver um problema sem falar sobre ele, e o Brasil não falava sobre racismo no futebol. Isso é de 2014 pra cá”, diz.“Por que o jovem e o homem negro são tão fissurados por calçado? Porque na época da escravidão, o negro escravizado não podia usar, e o liberto podia. Só nisso, já criava uma rivalidade entre negros, porque um era superior. Ter um calçado se tornou significativo. Hoje, todo mundo tem acesso. Mas agora, a diferença está nas marcas, no preço. O que acontecia lá atrás influencia hoje ainda”, reflete.
Goleiro Aranha durante sua passagem na Ponte Preta
| Foto: Divulgação/Reprodução/EL País
Proibição dos negros no futebolO ex-goleiro lembra que, no passado, os negros eram legalmente proibidos de jogar futebol, e mesmo quando a proibição caiu por terra, ainda precisavam da proteção de dirigentes – brancos – dos clubes para continuar jogando. “O Vasco vinha ganhando muitos campeonatos com muitos negros no elenco, e a Federação Carioca mandou uma carta mandando tirar os negros ou tirariam o clube do campeonato. O clube mandou tirar do campeonato”, lembra.A história perpassa diversos times atuantes até os dias de hoje: “A Ponte Preta tem uma macaca como mascote porque era um time de classe trabalhadora. O futebol não era só para brancos, era para brancos e ricos. Mas caiu no gosto popular, reuniu multidões. Com a pandemia, os estádios tão diminuindo, ficando mais luxuosos, mais caros, e a gente vai voltando pro futebol elitista lá do início”.A busca, então, é por andar para frente, em direção a um futebol que veja o talento de crianças como foi Aranha e não os dispense pela cor da pele. Que enxergue todo e qualquer atleta como igual pela bola que joga dentro de campo e, principalmente, como ser humano digno de respeito.