O dono do bar é seu melhor influencer

Por essência, bares não são lá empresas muito antenadas digitalmente. Geralmente discutimos impactos de mudanças sociais nos bares depois que esses impactos já foram amplamente discutidos em outros setores.

Um desses impactos é o mercado de influência. Demorou até que os bares entendessem a importância e a relevância de contar com influenciadores digitais para impulsionar seu negócio. Mas enquanto a discussão tem sido “como escolher o influenciador”, “quanto pagar” e “como não parecer uma publicidade paga”, uma outra vertente do tema já precisa ser discutida: O dono do bar precisa ser seu melhor influencer.

Ser a cara do seu próprio negócio é uma tendência mundial. Em Belo Horizonte alguns bares já adotaram essa estratégia e tem tido resultado.

Buteco do Rod

Embora o nome do estabelecimento leve seu apelido, Rodrigo não tinha a expectativa inicial de ser a cara do negócio. Ele queria evitar parecer vaidoso demais e, pensando no crescimento da própria empresa, faria mais sentido que ela não estivesse tão atrelada à sua imagem.

O incentivo pra ele passar a aparecer mais nos vídeos veio da agência de marketing que o atende. Analisando os números de entrega dos conteúdos, perceberam que os vídeos que ele aparecia tinham um alcance muito maior.

Rodrigo conta que a ideia dos vídeos vem da própria agência: “Me considero um cara criativo, mas sou muito consumido pelo dia a dia. [Por isso] não exerço a criatividade como gostaria” – Realidade vivida pela grande maioria dos donos de bar. O roteiro e a produção já vem mastigados pela agência, Rodrigo só faz pequenos ajustes para garantir que tenham sua personalidade também.

A equipe também aparece bastante nos conteúdos do bar. “É uma equipe jovem e que gosta de gravar”, diz. “E virou um legado do Buteco. Em uma TV no bar fica passando os vídeos que já gravamos na playlist que subimos no YouTube”.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por B U T E C O D O R O D 🥳🎁 (@butecodorod)

Vídeo de lançamento do prato do Buteco do Rod no concurso Comida di Buteco 2025.

O Quinteiro

André Calixto e seu sócio, Vinicius Duarte, não imaginavam ser a cara do bar quando abriram o O Quinteiro, no Floresta. Sabiam que marketing era importante, mas preferiam atuar em outras áreas do bar.

O incentivo para que eles aparecessem veio da agência que os atende: “Quando tem rosto, o Instagram entrega mais”, disse André. A agência os auxilia bastante, mas a decisão do que será postado vem dos donos do bar. Eles costumam marcar com a agência dias de gravação, mas aproveitam também trends para gravar e soltar rápido, pois são os vídeos com maior potencial de viralização.

André entende que os bares precisam encontrar agências que se identifiquem com o negócio e o dono precisa estar junto. “Encontrar uma empresa de marketing que esteja alinhada com você é difícil”, diz. No entanto, essa busca é importante, pois os donos e as agências precisam construir um planejamento no qual o feed da página não fique só sobre comida. “As pessoas querem se identificar, e postar só foto de comida sem mostrar quem está por trás, afasta as pessoas”.

O Instagram do O Quinteiro é autêntico e movimentado. Em dois anos de existência, já conquistaram mais de 24 mil seguidores orgânicos.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por O Quinteiro (@quinteirobar)

Exemplo de um dos conteúdos feitos pelo bar, que mostra verdade e cria identificação com o público.

O dono do bar não precisa ser quem não é pra dar certo

Na busca pela identificação, as pessoas vão perceber rapidamente a falta de autenticidade em conteúdos forçados. E aí o tiro vai sair pela culatra. Se o dono é uma pessoa mais tímida, não precisa postar vídeos extravagantes para se conectar com sua audiência. O segredo está em aproveitar traços da personalidade do dono e construir um planejamento de comunicação em torno delas. A identificação vem de maneira orgânica, a medida que as pessoas percebem verdade no que é postado e se sentem representadas.

Isso tudo tem muita relação com o comportamento de consumo atual. Em meio a tantas cópias, fake news e criações por IA, as pessoas estão cada vez mais em busca da verdade. Querem também ser parte de comunidades que se identifiquem. Um bar pode ser uma dessas comunidades, se for capaz de gerar senso de pertencimento. E acho muito improvável que, atualmente, um comércio gere esse senso sem que os donos “coloquem a cara pra jogo”.

Tenho feito as redes do Faísca dessa forma. Conto um pouco de bastidores de receita e criações, reações de clientes, pratos novos e promoções quase sempre em vídeo. Meu sócio e eu aparecemos bastante e, sempre que possível, incluímos também nossa equipe. O resultado é satisfatório. Os novos clientes chegam já sabendo nossos nomes, com uma boa noção do que pedir e se sentindo à vontade por estar ali. Um dos últimos vídeos que postei alcançou números muito relevantes. Conquistei quase 1000 seguidores somente com ele, sem ter feito impulsionamento algum.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Faísca Bar: Cozinha Ordinária na Brasa (@faiscabh)

Vídeo que citei no texto. 50 mil visualizações e 1000 novos seguidores. O único custo do vídeo foi o CMV do prato.

Uma boa forma de começar é abrindo caixinhas de pergunta e respondendo por vídeo. Os temas ajudam você a falar sem precisar apelar para a criatividade. Dessa forma os seguidores podem já ir acostumando com você a medida que você ganha mais auto confiança para gravar.

Encorajo você, dono de bar, a fazer esse teste. Faça algo que você se sente confortável e que tenha a ver com quem você é. Fuja de tudo o que é forçado e construa um planejamento com sua agência. Compare os números desses conteúdos com os números dos conteúdos que você não aparece. Você pode ser seu melhor influencer.

O post O dono do bar é seu melhor influencer apareceu primeiro em BHAZ.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.