Prefeitura de BH aplica método de Paulo Freire para corrigir, em 45 dias, déficit de leitura das crianças da rede municipal

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) realiza um processo inspirado no método do educador Paulo Freire nas escolas da rede municipal. A intenção é que um “intensivão” ajude a corrigir o déficit de leitura entre os alunos. Um levantamento realizado pelo município no início deste ano identificou que mais de sete em cada 10 estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental não têm as habilidades de alfabetização mínimas esperadas para a faixa etária.

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As informações foram dadas pela Secretária de Educação, Natália Araújo, em entrevista ao BHAZ. Ela explicou que o projeto, que já está em andamento desde abril, vai durar 45 dias. Neste período, os alunos com defasagem vão participar de aulas de reforço. A depender da faixa etária e nível de desafio de cada criança, as tarefas são aplicadas durante turno normal, no quinto horário ou no contraturno.

“Vamos contar com uma organização [escolar] que já estava acontecendo. Vamos ter essa ousadia de retirar um pouco da força [de trabalho] que estava muito centrada no treino de uma prova [Ideb] para o quinto e o nono ano”, explicou Natália sobre os professores dedicados ao processo.

A Secretária de Educação explica que a ideia é replicar um modelo já testado no Brasil. “A gente tem uma experiência alfabetizadora no Brasil que é modelo para o mundo. Aconteceu nos idos da década de 1970, quando Paulo Freire reuniu 300 homens adultos no Rio Grande do Norte e promoveu a alfabetização deles em 45 dias. É um programa de 40 horas. É essa aposta na metodologia freiriana que a gente tem para tentar”, completou.

Ao final do ciclo, em junho, a prefeitura vai promover uma nova avaliação dos alunos. O objetivo é garantir que ao menos 80% dos 75% alunos em situação crítica consigam superar a defasagem.

Impacto da leitura

As crianças que hoje frequentam o primeiro e o segundo anos do ensino fundamental têm, por padrão, entre seis e sete anos. Ou seja, elas nasceram próximas ao início da pandemia de Covid-19. Para a secretária de Educação, é justamente o contexto de isolamento social uma das possíveis causas para o retardo na alfabetização.

“Eles eram muito pequenos [no início da pandemia], mas a gente precisa entender que o processo de leitura depende de você reconhecer palavras . Não adianta eu te ensinar o código, como exemplo, ‘cabide’ e você conseguir falar. Se você nunca viu um cabide na vida, você não imagina ele. Então, lê aquilo e não entende nada”, pontua.

“Ficou comprovado com a pandemia que, quanto mais ficamos isolados e paramos de interagir no universo das brincadeiras, fora de casa, tivemos um rebaixamento geral do desenvolvimento da linguagem. E o uso de telas também contribui para isso”, completa.

Devido à rearticulação da equipe que iria treinar os alunos para o Ideb, Natália Araújo acredita que a próxima avaliação ainda pode ter resultado baixo na capital mineira. No entanto, a secretária avalia como “um passo atrás” que precisa ser dado para garantir a melhoria do ensino na cidade.

“Esses meninos não se formaram leitores. E o que é que vai ser de nós dali para a frente? Porque a gente vê hoje que problemas de matemática, às vezes, existem porque a criança não entende um problema matemático, porque ela não sabe o português. Que dirá história, geografia e ciências, que são conhecimentos que são acessados pela linguagem”, avalia.

Um levantamento feito pelo BHAZ aponta que, entre os anos de 2005 e 2023, Belo Horizonte foi referência do Ideb de anos iniciais na região Sudeste por oito vezes. São elas: 2005, 2009, 2011, 2013, 2015, 2017, 2019 (empatou com São Paulo) e 2021.

Criado em 2027, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um indicador que reúne os resultados de dois aspectos importantes que medem a qualidade da educação: o fluxo escolar e as médias de desempenho dos estudantes nas avaliações. As notas são consideradas a partir dos dados sobre aprovação escolar, no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Paulo Freire

Formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paulo Freire se dedicou ao estudo da filosfofia da linguagem e lecionou Língua Portuguesa. Se tornou um dos mais reconhecidos pensadores da educação no século 20, com mais de 30 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da América e Europa.

Criou um método de ensino em que propõe uma aprendizagem focada no diálogo e na realidade dos estudantes, muitas vezes, propondo que o aluno tenha uma postura crítica sobre sua vida e as opressões que sofre. O educador acreditava na valorização dos conhecimentos e nas experiências já adquiridas pelo analfabeto para aprender a ler e interpretar o mundo.

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