Consciência sobre identidade étnico-racial é foco de ação em escolas

Na Bahia 22,4% da população se identifica como preta conforme o Censo de 2022, porém na rede estadual de ensino esse índice é de apenas 17%. Esses números são mais discrepantes, com relação aos pardos, que são maioria no universo estudantil público com 72%, dado superior ao da população geral (57,3%). A questão da identificação é o foco da nova campanha da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) – “Você se reconhece? Autodeclaração Consciente nas Escolas Estaduais da Bahia” -, que busca incentivar o reconhecimento étnico-racial entre os estudantes.Foi essa discrepância de dados que gerou um sinal de alerta para a secretaria, segundo o diretor de execução das políticas para a educação básica da SEC, Fábio Barbosa. Os dados com relação a brancos também apresentam diferenças na comparação da população geral com os estudantes.Enquanto 19,6% dos baianos se veem como brancos, entre os estudantes da rede estadual esse contingente é de 8%. As populações indígenas, quilombolas, amarela e não identificadas não chegam a somar 5% em nenhum dos dois índices.O auto reconhecimento é um dos desafios ao tratar da pauta racial no ambiente estudantil, de acordo com a coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Democrático Bertholdo Cirilo dos Reis, Manoela Santos.“Às vezes por ter um tom de pele mais claro, o estudante não se identifica como preto. Já estamos pensando em ações da campanha para trazer para nosso colégio para que esse estudante se identifique e valorize isso”.A campanha começou, na última terça-feira, no Colégio Estadual de Tempo Integral Professor Pedro Paulo Marques e Marques, no bairro de São Cristóvão, com rodas de conversa, lançamento de materiais pedagógicos de orientação e outras atividades de ensino.A iniciativa é vista com potencial para aumentar a autoestima dos alunos, como conta a estudante do primeiro ano do ensino médio, Ana Carolina Barreto, 15 anos, que se vê hoje como uma negra empoderada, mas nem sempre foi assim. “Eu tinha muita insegurança com isso e, hoje, amo ser uma mulher preta empoderada. Acho que uma ação como essa pode ajudar outros estudantes nesse processo. E acho uma ação muito importante pra alertar e conscientizar as pessoas”.ImpactoPara coordenador de educação da juventude da União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro), Ricardo Henrique, a ação tem potencial para impactar tanto o individual dos estudantes, quanto o ambiente coletivo de ensino. “É uma chance dos estudantes se conhecerem melhor e entenderem suas raízes. Além disso, essa troca de conhecimentos ajuda a criar um ambiente mais respeitoso e acolhedor, em que todos se sentem valorizados”, indica.O aluno interessado em realizar a autodeclaração ou atualizar suas informações no sistema deve procurar a secretaria da unidade escolar e solicitar a revisão. Estão previstas atividades para que o estudante possua as informações para fazer sua autodeclaração.Também foi apresentado no lançamento, o Guia de Orientações para a Autodeclaração Étnico-Racial, que é um material desenvolvido para auxiliar os estudantes na compreensão do que é autodeclaração, raça e etnia, censo e políticas públicas.A expectativa é que, a partir desses dados étnicos e raciais, seja possível identificar questões específicas da rede estadual. “Um aluno que tem a doença falciforme pode ter uma necessidade fisiológica de ir ao banheiro com maior frequência. Um professor ou professora pode não saber disso e é algo mais presente em pessoas negras. Se tenho um demonstrativo indicando uma maior presença de estudantes com essa característica fenotípica, isso me dá condições de traçar estratégias pra lidar com isso”, explica Fábio Barbosa, da SEC.
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