O cenário econômico brasileiro vive um momento de tensão: a inflação segue acima da meta estabelecida pelo Banco Central, enquanto a taxa básica de juros atinge um patamar historicamente elevado. Ainda assim, o governo Lula mantém discurso de confiança na sustentabilidade do crescimento, mesmo com a sinalização de novos bloqueios no orçamento de 2025 para alcançar a meta fiscal.
Governo aposta em equilíbrio fiscal e crescimento
Durante evento do jornal Valor Econômico nos Estados Unidos, o secretário executivo do Ministério da Fazenda defendeu que o país está no caminho certo. Ele admitiu que medidas como cortes no orçamento serão necessárias novamente este ano para manter o equilíbrio entre crescimento econômico e responsabilidade fiscal.
“Ano passado, muita gente dizia que o presidente Lula não iria admitir bloqueios. Bloqueamos R$ 20 bilhões. Neste ano, continuaremos tomando medidas para garantir um país que cresça com equilíbrio social, ambiental e fiscal”, afirmou o secretário.
Segundo ele, o crescimento econômico é viável mesmo com ajustes orçamentários, desde que haja coordenação entre as políticas fiscal e monetária.
Inflação elevada ainda não preocupa o governo
A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, atingiu 5,53% até abril — bem acima da meta de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Apesar disso, o governo não demonstra alarde.
“A inflação está acima da meta, isso é inegável, mas não é um problema dramático. As projeções indicam uma tendência de queda”, afirmou o secretário da Fazenda.
O boletim Focus e estimativas internas do governo preveem desaceleração da inflação nos próximos meses, mesmo diante das pressões nos preços e da rigidez de determinados setores da economia.
Selic em 14,75%: crescimento travado para conter preços
A resposta do Banco Central tem sido clara: juros elevados para controlar a inflação. Com a taxa Selic fixada em 14,75% ao ano, o crédito encarece, o consumo diminui e os investimentos ficam mais cautelosos. Na ata da última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que a política monetária contracionista continuará sendo adotada para conter a alta de preços.
“Dadas as defasagens naturais da política monetária, a Selic seguirá contribuindo para a moderação do crescimento”, diz trecho da ata.
Contudo, economistas alertam que o remédio pode trazer efeitos colaterais duradouros, como a desaceleração do PIB e a piora nas condições de investimento.
Crescimento estrutural em risco, segundo analistas
Para que o Brasil cresça de forma sustentável nos próximos anos, especialistas destacam a importância de políticas que estimulem a produtividade, a qualificação da mão de obra e o investimento em infraestrutura.
“Um crescimento de longo prazo só será possível com mais capital produtivo — fábricas, máquinas, tecnologia e educação. Infelizmente, em muitos desses pontos, o Brasil tem falhado”, afirma um economista ouvido pelo Valor Econômico.
Além disso, há um fator demográfico que começa a pressionar o potencial de crescimento: a desaceleração do crescimento populacional e a redução da força de trabalho disponível nas próximas décadas.
Demografia e produtividade são gargalos
A transformação demográfica do Brasil é um desafio inevitável. A taxa de crescimento da população economicamente ativa já está em declínio, com projeções indicando estagnação na próxima década. Isso significa que, sem ganhos expressivos de produtividade, será difícil manter o crescimento econômico no ritmo desejado.
Segundo especialistas, esse é um dos principais entraves para que o país sustente taxas de crescimento acima de 2% ao ano no longo prazo.
O dilema fiscal: conter gastos ou estimular a economia?
O governo enfrenta um dilema clássico: conter despesas para cumprir o arcabouço fiscal ou ampliar investimentos públicos para estimular o crescimento e enfrentar gargalos estruturais.
A expectativa de bloqueios no orçamento de 2025 reforça a necessidade de ajustes, mas também acende o alerta sobre possíveis impactos sociais e políticos. A depender da magnitude dos cortes, programas prioritários podem ser afetados, o que exigirá do governo habilidade para manter o equilíbrio entre responsabilidade fiscal e inclusão social.
A inflação elevada e os juros nas alturas desafiam o otimismo do governo. Embora as projeções oficiais apontem para um cenário de desaceleração da inflação e crescimento contínuo, analistas seguem cautelosos. Sem reformas estruturais, aumento da produtividade e investimentos robustos, o Brasil corre o risco de ver seu crescimento comprometido no médio e longo prazo.
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