Mesmo com crescimento sólido nos lucros, as ações da Fleury (FLRY3) seguem desvalorizadas na Bolsa de Valores. A aparente contradição tem origem direta na política monetária do país: com juros elevados, o mercado prioriza a renda fixa e adia movimentos mais expressivos sobre ativos de risco. No entanto, para quem busca oportunidades de médio e longo prazo, a atual cotação pode representar um dos momentos mais vantajosos para investir na companhia.
Por que a cotação não acompanha o lucro?
De acordo com a análise do economista e consultor de investimentos Leandro Cabral, a resposta está no custo de oportunidade. A lógica é simples: se um título público oferece rentabilidade de 12% ao ano com baixo risco, por que investir em uma ação que oferece projeção similar, mas com muito mais volatilidade?
Cabral explica que, em 2019 e 2020, quando os juros estavam no piso histórico, os investidores buscavam alternativas mais lucrativas — e ações como FLRY3 se valorizavam. Agora, com a renda fixa pagando mais, a exigência de retorno sobre ações subiu. Isso obriga o mercado a precificar os papéis com desconto, para que compense o risco.
A lógica da “máquina de camisetas”
Para ilustrar, Cabral utiliza uma analogia: imagine uma máquina que gera R$ 10 mil por ano e custa R$ 100 mil — retorno de 10%. Se você pode aplicar o mesmo valor em um título que paga 12%, o investimento só se justifica se a máquina for mais barata. O mesmo acontece com ações.
Se os lucros da Fleury aumentaram e a ação caiu, o investidor hoje paga menos por um negócio que gera mais caixa. Isso amplia o retorno projetado e torna a ação mais atrativa, especialmente quando se compara com a renda fixa.
Cotação x lucro: o sinal de compra
Na prática, a Fleury entrega atualmente o dobro de lucros em relação a 2020, mas suas ações custam metade do preço de então. Segundo o analista, esse descolamento entre cotação e lucro é o sinal mais claro de oportunidade tanto para quem busca valorização (ganho de capital) quanto para quem foca em dividendos.
Cabral afirma que, sempre que a curva de lucros se descola positivamente do gráfico de cotação — como ocorre agora —, é um bom momento para montar posição no ativo.
Estratégia depende do seu objetivo
A decisão de investir em FLRY3 depende do perfil e dos objetivos do investidor:
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Para quem busca evolução patrimonial: o ideal é comprar com cotação em baixa e vender quando houver valorização.
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Para quem quer renda com dividendos: quedas de preço são bem-vindas, pois permitem aumentar a quantidade de ações compradas a preços menores, elevando os proventos ao longo do tempo.
Quem está comprando Fleury?
Dados atualizados mostram que investidores estrangeiros vêm aproveitando o momento para ampliar posição em empresas brasileiras. Desde 2022, os “gringos” aportaram mais de R$ 120 bilhões na B3, enquanto os institucionais locais seguem vendendo. A presença crescente de capital internacional reforça que há percepção de valor nos preços atuais, mesmo em um cenário de juros ainda elevados.
Perspectiva: juros devem recuar
Embora ainda altos, os juros futuros já começaram a recuar — o que tende a valorizar ações como FLRY3 nos próximos trimestres. Quando o retorno da renda fixa cair, o prêmio exigido pelo mercado para investir em renda variável também será menor, e as ações deverão ajustar esse novo cenário com maior valorização.
A Fleury é hoje uma “máquina de lucros” sendo negociada a preços de liquidação. A cotação pressionada pelos juros não reflete o desempenho operacional da empresa, o que pode representar uma janela rara para comprar barato.
Para o investidor de longo prazo, que entende os ciclos de mercado e a relação entre juros e valuation, momentos como este não são motivo de preocupação — são convites claros à oportunidade.
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