Pernambués desafia rótulos e atrai moradores com valorização e infraestrutura

Por mais de meio século, o bairro de Pernambués foi lembrado por seu passado periférico, sua luta por serviços básicos e o cotidiano marcado por contrastes sociais. Hoje, esse mesmo território urbano localizado no coração de Salvador, ao lado de grandes avenidas como a ACM, a Paralela e a Bonocô, começa a escrever um novo capítulo de sua história. Com imóveis mais valorizados, novas construções e um crescente interesse por parte da classe média e de jovens profissionais, Pernambués desponta como uma das áreas com maior potencial de transformação urbana da capital baiana.De acordo com dados da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), o valor médio do metro quadrado no bairro cresceu 13% no primeiro trimestre de 2025, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Saiu de R$ 5.240 em 2024 para R$ 5.963 neste ano. “Esse crescimento está diretamente ligado à melhoria da infraestrutura local e à posição estratégica do bairro, que margeia importantes avenidas e oferece acessibilidade para quem trabalha em áreas como a Avenida Paralela e a Avenida ACM”, explica o presidente da Ademi, Cláudio Cunha.A atratividade geográfica, somada à mobilidade urbana e à chegada de novos empreendimentos, tem redesenhado o perfil de quem busca viver em Pernambués.

O valor médio do metro quadrado em Pernambués cresceu 13% no primeiro trimestre de 2025

Segundo Cunha, há uma migração crescente de moradores da classe média e de jovens profissionais em busca de imóveis com preços mais acessíveis, mas que ofereçam estrutura condizente com o ritmo de vida atual. Em função disto, ele diz discordar do último Censo de 2022 do IBGE, que classificou o bairro como favela. “O bairro possui favelas localizadas em pontos específicos, como é comum em diversas regiões de Salvador. No entanto, classificá-lo inteiramente como favela é um equívoco que não condiz com a realidade local. Pernambués é um bairro em ascensão, com importantes avanços em urbanização e serviços e que tem atraído a classe média de Salvador”, destaca.Hoje, os imóveis disponíveis na região apresentam uma faixa de valor médio entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, oferecendo opções nas tipologias econômica e standard. São, em geral, imóveis de dois ou três quartos, perfil que reforça a vocação familiar do bairro, além de abrigar novos edifícios com infraestrutura completa.

Vista geral do Pernambués e arredores

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

“Estamos vendo surgir condomínios com academia, salão de festas, áreas de convivência. São projetos que respondem às demandas de famílias e casais que desejam resolver a vida dentro do próprio prédio”, enfatiza a corretora de imóveis e empresária, Cristiane Mascarenhas.Ela também observa uma movimentação significativa na economia local, impulsionada por pequenos negócios que se consolidam nas proximidades dos conjuntos residenciais. “É uma região com grande fluxo de pessoas e muitos comércios de bairro. Isso facilita o dia a dia dos moradores e aquece a economia. O que estamos vendo é um crescimento sustentado por essa acessibilidade de valores e por um consumo que acontece no próprio bairro”, aponta Mascarenhas.

Os imóveis disponíveis na região de Pernambués apresentam uma faixa de valor médio entre R$ 250 mil e R$ 500 mil

Essa transformação, no entanto, enfrenta um entrave importante: a regularização fundiária. Muitos imóveis antigos da região ainda não possuem escritura, o que dificulta o financiamento bancário e, por consequência, a formalização das vendas. “Há muita burocracia e isso desestimula o processo de legalização por parte dos moradores. Esse é um dos maiores desafios do mercado imobiliário na região”, ressalta a empresária.Apesar das ressalvas, a valorização de Pernambués tem sido expressiva. A corretora e documentarista Cláudia Andrade estima que, a depender da localização específica dentro do bairro, o metro quadrado pode alcançar entre R$ 6.500 a R$ 7.600. Ela associa esse aumento a três fatores principais: a chegada do metrô, o crescimento do Horto Bela Vista e a proximidade de grandes centros comerciais, como os shoppings da região. “A valorização foi em torno de 13% a 15%. Isso tem relação direta com a mobilidade urbana e a consolidação do bairro como eixo de serviços e habitação. Além disso, como a região era formada por antigas fazendas, como a Numa Pompilio, ainda havia espaço disponível para novos empreendimentos, acabando de vez com as fazendas da região”, analisa Cláudia.Segundo ela, onde hoje ainda predominam casas, começa a dar lugar para prédios com infraestrutura moderna. 

Empreendedores estão comprando casas e transformando os terrenos em condomínios com estrutura completa. Isso está mudando a paisagem urbana”

Cláudia Andrade – corretora e documentarista

Acompanhando essa transformação, a produtora cultural e servidora pública aposentada, Jaciara Arandiba, que é uma das moradoras mais antigas da região buscou os novos empreendimentos para morar. Ela conta que viveu toda a sua vida em Pernambués e testemunhou de perto essa evolução. “Cresci aqui. Quando eu era criança, morávamos na Avenida Hilda, onde sentávamos na porta de casa para assistir televisão com os vizinhos, porque só nós tínhamos uma TV na rua”, lembra.Hoje, Jaciara vive em um apartamento no Horto Bela Vista, que embora esteja localizado no bairro do Cabula, ela considera parte da mesma região. “Eu me sinto em casa. Aqui é colado com Pernambués. Vivi toda minha vida aqui e vejo com orgulho o bairro crescer, ganhar infraestrutura e se tornar referência. Digo sempre aos jovens que eles podem, sim, sonhar e conquistar. Eu sou prova disso. Pernambués é o melhor lugar para se viver”, constata.Apesar de todos os sinais de valorização, o presidente da Ademi, contesta um dado que circulou amplamente em setembro de 2024, divulgado pelo índice FipeZAP, que colocou Pernambués com o 5º metro quadrado mais caro de Salvador, estimado em R$ 7.514. “A Ademi não concorda com esse número. Nossas pesquisas, feitas mensalmente pela Brain Inteligência Estratégica, mostram que os bairros mais valorizados ainda são Vitória, Barra, Ondina, Graça, Horto Florestal, Pituba, Itaigara, Jaguaribe e Caminho das Árvores”, afirma.Apesar da divergência nos números, a percepção geral é de que o bairro segue em curva ascendente. A combinação entre localização estratégica, desenvolvimento da infraestrutura e preços mais acessíveis tem consolidado Pernambués como uma escolha viável e desejada para quem busca qualidade de vida sem sair das regiões centrais da cidade.E como indicam os exemplos de outros grandes centros urbanos, bairros que historicamente foram subestimados, mas que possuem localização privilegiada, tendem a atrair investimentos e transformar-se em polos de moradia e serviços. “Se olharmos para outras capitais, onde bairros populares passaram a ser muito procurados por conta da mobilidade e do custo-benefício, podemos antever que Pernambués continuará a se desenvolver. A chegada de mais escolas, comércios e serviços essenciais é uma questão de tempo”, conclui Cláudio Cunha.

Horto Bela Vista

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Boom imobiliário redesenha o futuro com novos empreendimentosA consolidação de Pernambués como uma das regiões mais promissoras para novos empreendimentos residenciais de padrão médio e médio-alto vêm transformando o bairro em uma espécie de novo polo habitacional da classe média soteropolitana. Quem confirma essa mudança é o servidor público e professor, Marivaldo Braga Júnior, que recentemente adquiriu um apartamento no Jardim das Tulipas, novo empreendimento imobiliário localizado no Jardim Brasília — uma das áreas mais valorizadas do bairro. O projeto conta com infraestrutura completa de lazer, entre piscina, academia, salão de festas e área gourmet. “É um bairro que está no centro de tudo. Tem supermercado, shopping, serviços. E o melhor é que os imóveis estão valorizando cada vez mais”, destaca Marivaldo.

Vista geral de Pernambués e arredores

Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Data: 14/05/2025

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Essa percepção não é isolada. Dados de incorporadoras e corretores locais indicam que a valorização do metro quadrado em Pernambués tem superado a média de Salvador.Um dos principais símbolos dessa virada é o próprio Jardim das Tulipas, empreendimento da S3 Engenharia. De acordo com o sócio-diretor da empresa, Fabrício Fiss, a decisão de investir no bairro remonta há duas décadas. “A escolha de Pernambués foi sugestão do pai de um dos sócios. Ele via um grande potencial no bairro, principalmente por causa da excelente localização, perto dos principais centros comerciais de Salvador. Hoje, damos continuidade a essa visão empreendedora, afirma Fiss.Além do Jardim das Tulipas, localizado no Jardim Brasília, com torre única de sete pavimentos e apenas 23 unidades — todas nascentes —, tem o Morada Flor de Lis, também na mesma área, com unidades de dois quartos, sendo uma suíte, e metragens entre 52 e 54 m².

Construção do Condomínio Jardim das Tulipas

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Segundo Fabrício Fiss, a valorização do bairro deve continuar em ritmo acelerado. “Acreditamos que, apesar de já ser um dos bairros que mais valorizaram, Pernambués ainda não atingiu nem 10% de seu potencial. Tanto o setor privado quanto o poder público têm olhado com mais atenção para o bairro, sobretudo para a região do Jardim Brasília”, avalia.O empreendedor também contesta a classificação do bairro como favela, como apontado pelo Censo de 2022 do IBGE, que registrou 52.564 habitantes em Pernambués, sendo que cerca de 35 mil viveriam em áreas consideradas periféricas. “Entendemos que o bairro de Pernambués, com sua área territorial de cerca de 330 mil m², consegue mesclar diversos perfis socioeconômicos, assim como bairros nobres de Salvador, como Rio Vermelho ou Barra, que também dividem espaço entre apartamentos luxuosos e moradias mais simples das comunidades vizinhas”, defende Fiss.Ele vai além e acredita que o Jardim Brasília, onde a S3 Engenharia concentra seus investimentos, deve se emancipar urbanisticamente nos próximos anos. “Assim como o Horto Florestal já foi considerado parte de Brotas, acreditamos que a região do Jardim Brasília irá virar um novo bairro, separado de Pernambués. Muitas pessoas que não conhecem a região ficam surpresas com o padrão construtivo das moradias”, observa.

Vista geral de Pernambués e arredores

Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Data: 14/05/2025

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

A projeção da incorporadora não para por aí. “Já possuímos outros terrenos comprados na região. Estamos aqui há mais de 20 anos, chegamos antes de todos os outros investidores. Acreditamos que o bairro ainda irá crescer muito. O Jardim Brasília será o novo Horto Florestal. O Jardim das Tulipas é o nosso foco atual, mas até o final do ano temos previsão de trazer um novo lançamento para o mercado da região, que segue aquecido”, antecipa Fiss.Diante desse crescimento acelerado, as autoridades municipais têm intensificado o trabalho de ordenamento urbano. A Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) vem atuando em frentes diversas para adequar a infraestrutura viária à nova realidade do bairro. “Nossas equipes de sinalização realizam rotineiramente ações de recolocação de placas de trânsito e de pintura de faixas de pedestres e outras sinalizações horizontais. Paralelamente, as equipes de fiscalização atuam para coibir infrações que coloquem em risco a segurança viária”, explica o superintendente de Trânsito, Diego Brito.Um dos principais desafios com todo esse crescimento é apontado pela Transalvador como o estacionamento irregular, especialmente na Rua Thomaz Gonzaga, via estreita e de intenso movimento. “Muitos condutores estacionam sobre a ciclofaixa em alguns trechos, o que impede a circulação de ciclistas. Por isso, nossos agentes estão diariamente nas principais vias do bairro para garantir o ordenamento do fluxo no bairro”, destaca Brito.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.