Banco do Brasil (BBAS3) despenca 14%: crise no agro e nova regra contábil pressionam lucros e dividendos

O Banco do Brasil (BBAS3) enfrentou uma das semanas mais difíceis do ano na Bolsa de Valores. As ações da estatal despencaram cerca de 14% em apenas cinco dias úteis, uma queda equivalente a perder o rendimento de um CDI de um ano inteiro. O movimento gerou forte apreensão entre os investidores, que agora se questionam sobre o futuro dos lucros e dividendos da instituição.

O pessimismo foi agravado pela conjunção de dois fatores principais: o aumento expressivo da inadimplência no setor agropecuário, que representa quase um terço da carteira de crédito do banco, e a implementação das novas exigências contábeis da Resolução nº 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou profundamente a forma de provisionamento e reconhecimento de receitas dos bancos brasileiros.

Impacto direto no lucro e no pagamento de dividendos

O resultado do Banco do Brasil no primeiro trimestre de 2025 revelou uma queda de aproximadamente 20% no lucro líquido, que ficou em R$ 7,44 bilhões. A elevação das provisões para devedores duvidosos, impulsionada pela alta inadimplência, foi um dos principais responsáveis por esse desempenho negativo.

A inadimplência de 90 dias na carteira total do banco saltou de 2,9% para quase 3,9%, superando a média do Sistema Financeiro Nacional, atualmente em 3,2%. No agronegócio, setor historicamente robusto, a situação é ainda mais crítica: a inadimplência de 30 dias passou de 1,77% para 4,11%, e a de 90 dias praticamente triplicou, saindo de 1,19% para mais de 3%.

Esse cenário pressionou fortemente a necessidade de provisões, elevando o custo do crédito em quase 19% na comparação anual.

Nova regulamentação piora o balanço

A Resolução nº 4.966, implementada no início de 2025, exigiu que os bancos passassem a contabilizar as perdas esperadas com créditos problemáticos, e não apenas as perdas efetivas, como era permitido anteriormente. Além disso, os créditos classificados no “Estágio 3” — com atraso superior a 90 dias — deixaram de gerar receita para os bancos, impactando diretamente o resultado financeiro.

No caso do Banco do Brasil, o volume de créditos classificados nesse estágio ultrapassa R$ 86 bilhões, que agora não geram mais receitas, mas exigem provisões maiores.

Esse novo cenário levou analistas de instituições como o BTG Pactual a rebaixar a recomendação para as ações do banco, com avaliações negativas indicando que “o pior ainda pode estar por vir”.

O setor agro como vilão da vez

O agronegócio, antes visto como um trunfo do Banco do Brasil, hoje se tornou um fator de risco. A combinação de eventos climáticos extremos — como chuvas excessivas no Sul e secas severas no Norte e Centro-Oeste — e o aumento dos custos de produção afetaram fortemente a capacidade de pagamento dos produtores.

Muitos agricultores, especialmente os de médio porte, estão aguardando medidas do governo para renegociar dívidas, como o programa Desenrola Rural, que promete descontos de até 80% para agricultores familiares. Essa postergação no pagamento dos débitos tem elevado a inadimplência no setor e, consequentemente, a exposição de risco do Banco do Brasil.

O que esperar dos dividendos?

Apesar do cenário desafiador, o Banco do Brasil sinalizou a manutenção de sua política de distribuição de 40% do lucro líquido em dividendos para 2025. Se esse percentual se mantiver sobre o lucro atual, os acionistas podem esperar um dividendo de cerca de R$ 2 por ação no ano — abaixo dos valores recordes de 2023 e 2024, mas ainda superior ao patamar histórico de anos anteriores.

A perspectiva, contudo, depende diretamente da evolução do lucro nos próximos trimestres e do desenrolar da crise no setor agropecuário.

Narrativas opostas e o conselho aos investidores

O atual momento do Banco do Brasil ilustra bem como as narrativas de mercado podem mudar rapidamente: o que antes era visto como uma vantagem competitiva — o forte vínculo com o agronegócio — agora é percebido como um risco relevante.

Para investidores, o desafio é separar emoções das decisões racionais. O Clube do Valor, responsável pela análise que inspirou esta matéria, reforça a importância de estratégias sistemáticas e baseadas em dados para evitar decisões precipitadas influenciadas por sentimentos ou tendências de curto prazo.

Segundo eles, quem adota critérios objetivos e disciplinados — como aqueles da chamada “Máquina de Dividendos”, focada em empresas perenes e consistentes — tem maior chance de manter bons retornos no longo prazo, independentemente das oscilações de mercado.

Oportunidade ou risco?

A grande pergunta que paira sobre o mercado é: a queda recente das ações do Banco do Brasil representa uma oportunidade de compra ou sinaliza problemas estruturais mais graves?

Se, por um lado, o valuation atual pode ser atrativo para investidores de longo prazo, por outro, o ambiente de maior inadimplência, pressão regulatória e incertezas no setor agro exigem cautela e análise aprofundada.

O histórico do Banco do Brasil como uma das maiores pagadoras de dividendos da Bolsa, com um dividend yield médio de 8,5% nos últimos três anos, é um fator de peso para quem busca renda passiva. Contudo, a continuidade desse desempenho dependerá, inevitavelmente, da capacidade do banco de atravessar o atual momento adverso.

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