600 dias de guerra em Gaza: presidente do Conselho Europeu diz que Israel está perdendo apoio e autoridade moral com conflito


Em entrevista exclusiva à TV Globo, António Costa comentou saídas para o conflito e disse que mesmo países sensíveis a Israel estão descontentes com posição adotada na guerra. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, manifestou a preocupação da União Europeia (UE) com o conflito em Gaza, que completa 600 dias nesta quarta-feira (28).
🔎O Conselho Europeu reúne os chefes de estado dos países que compõem a União Europeia e é o órgão responsável por guiar as direções políticas do bloco.
Em entrevista exclusiva à TV Globo, Costa cobrou um cessar-fogo imediato, a entrada irrestrita de ajuda humanitária e a libertação dos reféns pelo Hamas.
O presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Reprodução/TV Globo
“A autoridade moral de Israel está desaparecendo, porque o que justificou sua legítima defesa já não está mais justificado, já não está mais para legítima defesa, [é] simplesmente um ataque massivo a populações civis indefesas sem nenhuma justificativa”, analisou Costa.
Curto e médio prazos
António Costa defendeu uma abordagem de duas frentes para a resolução do conflito, com ações imediatas e de médio prazo.
“Há uma saída imediata e uma de médio prazo. A saída imediata é simples: Israel tem que imediatamente aceitar o cessar fogo e imediatamente aceitar a entrada da ajuda humanitária”, afirmou.
Guerra na Faixa de Gaza completa 600 dias nesta quarta (28)
O presidente do Conselho Europeu também defendeu que o Hamas liberte imediatamente os reféns que ainda mantém em cativeiro.
Para o médio prazo, António Costa ressaltou a importância da solução de dois estados. “É muito importante a conferência que vai existir em NY no próximo mês, patrocinada pela França e Arábia Saudita, em que todos os países da UE vão estar e o Brasil também vai estar, e para contribuir para a solução dos dois estados”, detalhou o representante europeu.
Ele ainda destacou a colaboração com os países da região para a reconstrução de Gaza e o papel da União Europeia como principal suporte financeiro da autoridade palestina. “Trabalhamos de forma muito próxima com a Liga Árabe para apoiar o plano de reconstrução de Gaza apresentado pela liga árabe. A UE é o principal suporte financeira da autoridade palestina”, avaliou.
O líder europeu enfatizou o engajamento diplomático da UE para pressionar por uma solução. “Temos feito essa pressão. (…) Temos procurado mobilizar e fazer pressão direta e mobilizar o plano internacional para assegurar que uma paz justa e duradoura em Gaza é possível e da única forma possível, que é através da solução dos dois estados”, declarou Costa.
António Costa foi incisivo ao condenar a desproporcionalidade da resposta israelense e a perda de apoio internacional. “Isso é absolutamente essencial. Nós não podemos ter dois “standards” (dois pesos e duas medidas). A vida humana é o mais bem precioso que nós temos. E o que estamos a ver é uma tragédia humanitária sem descrição”, disse ele.
Palestino carrega caixa de alimentos e pacotes de ajuda humanitária em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 27 de maio de 2025.
AP Photo/Abdel Kareem Hana
Ele observou que mesmo países da UE com laços históricos com Israel estão adotando uma postura mais crítica. “Mesmo países da UE que por razões históricas têm uma relação particularmente cuidadosa e próxima de Israel têm vindo ter uma posição cada vez mais vocal e clara na pressão sobre Israel”, concluiu.
O presidente do Conselho Europeu citou o chanceler alemão como exemplo da crescente preocupação. “Há dois dias o chanceler alemão disse com toda a clareza: o combate ao Hamas não justifica a tragédia humanitária que estamos a assistir em Gaza’, lembrou ele.
“De fato é triste ver a capacidade que Israel teve de, depois de ter tido todo o apoio da comunidade internacional a seguir dos bárbaros ataques do Hamas em 7 de outubro, e vir repetidamente apoios e amigos em todo o mundo”, concluiu.
Visita ao Brasil
O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, faz visita oficial ao Brasil, onde fica até o dia 29 de maio. O objetivo da vinda é discutir o Fórum de Investimento UE-Brasil, além de trabalhar questões prioritárias nas relações bilaterais entre Brasil e União Europeia, como o acordo entre o Mercosul e o bloco europeu.
Costa teria encontro bilateral com Lula nesta terça-feira (27), mas o encontro precisou ser cancelado pelo mal estar do presidente brasileiro. Lula passou o dia em sua residência no Palácio da Alvorada após ter tido um quadro de labirintite.
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