Sargento da PM que matou a esposa com 51 facadas e tiros premeditou o crime por acreditar que estava sendo traído, diz delegada


Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o caso do sargento da PM Samir Carvalho, que matou a esposa em Santos, no litoral de São Paulo. Ele foi indiciado por feminicídio devido à morte de Amanda Fernandes Carvalho, além de tentativa de homicídio contra a filha, de 10 anos. Samir Carvalho matou a esposa Amanda Fernandes em Santos, SP
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal e Redes Sociais
A Polícia Civil concluiu que o sargento da PM Samir Carvalho, que matou a esposa com 51 facadas e três tiros dentro de uma clínica médica em Santos, no litoral de São Paulo, premeditou o crime por ciúmes. As informações foram confirmadas pela delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da cidade.
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O crime aconteceu no dia 7 de maio, dentro de uma clínica localizada na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé. Samir foi preso em flagrante e a esposa, Amanda Fernandes Carvalho, teve a morte constatada no local. A filha do casal, de 10 anos, sofreu ferimentos e ficou internada por três dias.
Conforme informado pela delegada, o fato do sargento ter ido para a clínica médica com um revólver e um punhal comprovou a premeditação do crime. Estas, inclusive, foram as armas usadas para matar Amanda.
Ainda de acordo com a Deborah, o sargento premeditou o crime por acreditar que estava sendo traído. Durante as investigações, a delegada afirmou ter sido comprovado que Amanda não tinha um relacionamento extraconjugal, ou seja, fora do casamento com Samir.
“A motivação foi ciúmes. Ele achava que a Amanda estava o traindo, coisa que não aconteceu, mas ele achava e essa foi a causa desse crime horrível”, disse a delegada em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo. “Esse crime pegou todos de surpresa, realmente. Pela maneira como foi, por tratar-se até de um policial militar, então realmente acho que a cidade inteira ficou abalada”.
Inquérito
Samir Carvalho matou a esposa a tiros dentro de clínica médica em Santos (SP)
Redes sociais e Daniela Rucio/TV Tribuna
Os laudos e depoimentos de todos os envolvidos foram juntados no inquérito policial, que foi encaminhado ao Fórum de Santos. Além de ter sido indiciado por feminicídio, a delegada afirmou que Samir também deverá responder por tentativa de homicídio contra a filha.
Para Deborah, a reconstituição do crime, realizada no dia 22 de maio, foi essencial para o esclarecimento da dinâmica da ocorrência e conclusão do inquérito. Agora, o Ministério Público deve avaliar o documento e decidir se há provas suficientes para oferecer uma denúncia e levar o caso à Justiça.
“O que me chamou atenção foi a frieza com que o Samir participou dessa reconstituição. Primeiro, ele disse que não se lembrava de absolutamente nada e me pareceu sem emoção alguma. Até pela gravidade do caso, eu esperava que ele realmente estivesse até triste ou arrependido, mas não. Não me pareceu”, afirmou a Deborah.
Sobre os policiais militares que atenderam a ocorrência e estavam no momento do crime, a delegada afirmou que a conduta deles está sendo investigada pelo inquérito da PM, que deve apontar se eles serão penalizados. Deborah também aguarda a conclusão dos laudos da reconstituição do crime.
Ao ser questionada pelo g1 sobre o inquérito da PM, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que a corporação ainda está apurando a conduta dos agentes. De acordo com a pasta, os policiais que atenderam a ocorrência seguem afastados.
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Versão dos PMs
Quatro policiais militares foram acionados para atender a ocorrência, mas apenas dois deles presenciaram o crime. Os outros ficaram do lado de fora da clínica.
O g1 teve acesso aos depoimentos dos agentes à Polícia Civil. Eles afirmaram que foram levados pela secretária da clínica até a sala, onde o médico trancou Amanda e a filha para protegê-las de Samir. Um dos PMs contou que o sargento estava na porta do consultório, calmo e com um sorriso.
De acordo com os policiais, Samir levantou a blusa para mostrar que estava desarmado e se aproximou dizendo que era sargento e tinha apenas discutido com a esposa. Durante a reconstituição do crime, o acusado revelou às autoridades que escondeu a arma dentro das calças para passar pelos PMs.
Os agentes afirmaram que pediram para Samir se afastar e solicitaram que o médico abrisse a porta. Neste momento, o sargento passou por trás deles e efetuou os disparos, atingindo a esposa e a filha. Em seguida, ele ainda conseguiu dar 51 facadas na Amanda.
Um dos PMs disse que ele e o outro agente tiveram a reação automática de abaixar e procurar um abrigo. Os dois policiais garantiram que apontaram a arma, mas não efetuaram os disparos porque a secretária estava na linha de tiro. No entanto, eles não explicaram como a mulher não foi atingida pelo sargento se a mesma estaria na porta em que ele entrou atirando.
O Sargento da PM Samir Carvalho, que matou a esposa Amanda Fernandes dentro de clínica médica em Santos, SP, participou da reconstituição do crime
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, Claudino Vicente dos Santos, que é advogado da família, afirmou que a secretária contou ter saído da frente dos policiais assim que a porta do consultório foi aberta. “Não tem essa de linha de tiro. Se for essa a argumentação deles, está totalmente furada”, garantiu ele.
Os policiais acrescentaram que gritavam para Samir largar o revólver, enquanto pediam para a secretária sair da frente para que pudessem entrar na sala. Quando a mulher saiu, ainda de acordo com os policiais, o sargento já tinha terminado os disparos e saiu com as mãos levantadas.
Um dos policiais algemou Samir, enquanto o outro agente contou com a ajuda do PM que estava do lado de fora para socorrer a criança. Ao chegar perto da viatura, o agente contou que o sargento apenas disse “ela me traiu”, sem expressão alguma.
Laudo necroscópico
Laudo do IML mostra onde Amanda Fernandes Carvalho foi esfaqueada pelo marido
Reprodução
O laudo necroscópico, obtido pela equipe de reportagem, indica que a maioria das facadas atingiu o lado direito do corpo de Amanda, com golpes da coxa até a face. O documento aponta também que os tiros foram disparados à distância.
O médico legista responsável pelo documento concluiu que Amanda sofreu “morte violenta, decorrente de anemia aguda por hemorragia interna traumática, em consequência dos ferimentos” causados pelos tiros e facadas.
Laudo do IML aponta partes do corpo de Amanda atingidas pelos tiros
Reprodução
Inativo da PM
Samir está detido no Presídio da Polícia Militar Romão Gomes, na capital paulista.
Segundo apuração do g1 junto à Justiça Militar, a prisão do sargento resultou na chamada agregação militar, status que o coloca como inativo temporariamente. Nessa condição, ele perde o direito ao salário e o tempo de serviço não é contabilizado.
Entenda o caso
O sargento da Polícia Militar (PM) Samir Carvalho foi preso em flagrante após matar a esposa Amanda Fernandes, na tarde do dia 7 de maio, dentro de uma clínica médica na Avenida Senador Pinheiro Machado, no bairro Marapé.
A filha do casal foi levada à Santa Casa de Santos. Ao g1, o hospital informou que a paciente foi atendida pela equipe multidisciplinar da emergência e recebeu alta no dia 13 de maio.
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Em depoimento à polícia, o médico proprietário da clínica disse ter sido surpreendido por Amanda e pela filha. Ele aguardava o horário de chamá-las para uma consulta que estava agendada.
O profissional contou às autoridades que Amanda estava muito nervosa e disse que estava sendo ameaçada pelo companheiro.
“Meu marido está comigo, está armado, é policial e ele quer me matar, pois estamos nos separando”, teria dito Amanda ao médico.
O médico contou que trancou o consultório, colocou duas cadeiras atrás da porta e ficou segurando, com medo de que fosse arrombada. Disse ainda que pediu para Amanda chamar a polícia, mas ela respondeu que uma amiga já havia acionado a corporação. Por isso, insistiu por uma nova ligação.
O homem relatou que ouviu uma batida na porta e questionou quem era, mas não teve retorno. Momentos depois, ele escutou a voz da secretária pedindo para a porta ser aberta porque a PM havia chegado. Segundo o relato, também foi possível escutar uma voz masculina dizendo: “pode abrir, é a polícia, está tudo sob controle”.
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Redes sociais
Após questionar se os agentes estavam uniformizados, o médico abriu parcialmente a porta e, em seguida, foi para atrás da mesa. Ele disse que viu, no fim do corredor, um policial fardado e depois ouviu uma sequência de mais de dez tiros.
Segundo apurado pelo g1, a menor tentou salvar a mãe, que era o alvo dos disparos, pulando na frente dela. O profissional disse para polícia que se abrigou debaixo da mesa para se proteger e acredita que o atirador tenha começado os disparos do lado de fora da sala. Ele só se levantou depois que o agressor foi contido pelas equipes policiais.
O homem contou que socorreu a filha de Amanda e, logo depois, viu o corpo da mulher com uma faca “cravada no pescoço e banhada em sangue”. Ele garantiu que nunca havia visto as vítimas antes e não chegou a ver o atirador porque se escondeu ao ouvir o primeiro tiro.
Defesa de Samir
Por meio de nota, o advogado Paulo de Jesus, que representa Samir, afirmou que na tarde do dia 8 de maio foi realizada audiência de custódia e a prisão em flagrante do policial foi convertida em preventiva. Paulo de Jesus disse que a defesa se manifestará apenas quando as investigações forem concluídas.
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