Mensalidade acima do teto do Fies eleva evasão em Medicina na Bahia

Estudantes de medicina beneficiários do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) relatam que as mensalidades acima do teto do programa têm gerado evasão acadêmica em todo o país, segundo o grupo “Fies sem fome”. Esse é o caso de Priscila Tavares, ex-estudante de medicina, que largou o curso no terceiro semestre por não conseguir completar o valor que não era coberto pelo programa.“Me sinto triste, frustrada, abalada emocionalmente e psicologicamente, porque é um sonho que você almeja e não consegue realizar”, conta. Além de não seguir com a graduação, Priscila segue com a dívida com o programa, que hoje está no valor de R$200 mil.Essa situação não é uma exclusividade de Priscila. Segundo o presidente do movimento “Fies sem teto”, João Victor Monteiro, essas ocorrências são cada vez mais comuns.“Tem gente que chega a tentar trabalhar, só que medicina é um curso integral. Algumas pessoas conseguem fazer um bico aqui, um ali, para ajudar a pagar, mas chega no ponto que não é viável de jeito nenhum e a pessoa abandona o curso, como inúmeras têm abandonado, após usar o financiamento por vários períodos. Então são obrigados a abandonar e ficar com a dívida”, conta.

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Diante desse cenário, universitários de todo o país se organizaram no movimento “Fies sem teto” em busca de melhora na política de financiamento estudantil. O presidente do coletivo indica que a questão mais urgente neste momento é a correção do teto do Fies.O valor foi corrigido pela última vez em 2023, porém os valores cobrados pelas faculdades são reajustados anualmente, o que gera um déficit entre o teto do programa e as cobranças atuais. Ele aponta ainda que na Bahia todas as faculdades que aceitam o Fies cobram acima do teto do programa, conforme o aumento do preço com o passar dos períodos.Reforma profundaJoão reforça que a questão é ainda mais profunda, por isso é preciso que a reformulação do Fies seja ampla. “As faculdades aumentam quanto elas entendem que devem, sem nenhuma fiscalização. Por lei elas podem aumentar de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), porém aumentam muito mais do que deveriam. O curso de medicina é um curso longo, então lidamos com vários aumentos ao longo desse tempo”, comenta. Ele ressalta que é preciso uma política de correção anual do teto do Fies para evitar que isso seja um problema constante.Os membros do “Fies sem teto” já se encontraram com figuras do Ministério da Educação (MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para reivindicar melhorias no programa.Conforme João, os órgãos competentes já estão com planos para melhorar a situação, porém ainda necessitam de aprovação do comitê gestor do Fies. Ele reforça que a falta de celeridade nas tratativas segue afetando os estudantes. Até o fechamento desta reportagem o MEC não respondeu aos contatos da Reportagem de A TARDE, com questionamentos sobre o número de beneficiários do Fies na Bahia.Se ocorrer uma reforma no funcionamento do programa, Priscila conta que voltaria sim a cursar a faculdade. Inclusive, o retorno de estudantes em condições semelhantes foi uma das pautas da conversa com o MEC. Os graduandos apresentaram proposta de que os universitários que possuem essas dívidas possam voltar a estudar e que esses valores existentes hoje sejam cobrados apenas após o fim da graduação para que eles possam voltar de onde pararam.Segundo o diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Janguiê Diniz, o teto do Fies hoje é um desafio para o acesso ao ensino superior.“Restringe o acesso de estudantes com menor poder aquisitivo a cursos de alta demanda social, como o de medicina. O Fies, criado com o propósito de democratizar o acesso ao ensino superior, precisa ser aprimorado para acompanhar a evolução dos custos educacionais, especialmente em áreas estratégicas e de alto impacto para o sistema de saúde pública”, pontua. Ele reforça ainda que a instituição tem atuado junto ao MEC na defesa da revisão do teto de financiamento do Fies.

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