Com a taxa Selic em 14,75% ao ano, o Brasil vive um cenário em que manter o dinheiro aplicado em títulos públicos se torna mais vantajoso do que investir no setor produtivo. O professor de finanças José Cobori, explica por que esse patamar de juros funciona como um freio para a economia real e favorece o rentismo.
Segundo ele, quando o investidor compara o esforço necessário para empreender — com todos os riscos e incertezas envolvidos — ao retorno praticamente garantido de 14,75% ao ano em aplicações consideradas livres de risco, como os títulos públicos, a decisão tende a pender para o lado financeiro e não produtivo.
Custo de capital e o desestímulo à produção
Cobori detalha o conceito de custo de capital próprio com base na metodologia CAPM (Capital Asset Pricing Model), que parte da taxa livre de risco, no caso, a Selic. O raciocínio é o seguinte: para que valha a pena investir em um negócio, é necessário que o retorno esperado supere o custo de oportunidade, ou seja, os 14,75% disponíveis sem risco no mercado financeiro.
“Ninguém vai sair de um investimento com retorno garantido de 14,75% para aplicar em algo que traga o mesmo rendimento com muito mais risco. É preciso um prêmio adicional, o chamado prêmio de risco”, destacou Cobori.
Exemplo prático: Reginaldo S.A.
Para ilustrar, Cobori simulou o investimento em uma empresa fictícia — Reginaldo S.A. — com um beta de 1,2, ou seja, 20% mais volátil que o mercado. Considerando um prêmio de risco de mercado de 10% (com retorno histórico do Ibovespa em 24,75% e Selic em 14,75%), o investidor exigiria 12% a mais do que a taxa livre de risco.
Resultado da conta:
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Taxa Selic (livre de risco): 14,75%
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Prêmio de risco do ativo (1,2 x 10%): 12%
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Retorno mínimo exigido: 26,75% ao ano
Esse seria o custo de capital próprio da Reginaldo S.A. — um patamar praticamente inalcançável em grande parte dos negócios produtivos, segundo o especialista.
Impactos macroeconômicos
Esse cenário gera uma migração do capital da economia real para aplicações financeiras, limitando investimentos em produção, geração de empregos e inovação. “Quanto maior a taxa de juros, maior o custo de capital exigido. E isso torna o empreendedorismo desinteressante”, reforça Cobori.
Ele também destaca que, para tornar os investimentos mais viáveis, as empresas recorrem ao capital de terceiros — geralmente mais barato — e combinam com capital próprio por meio do WACC (Weighted Average Cost of Capital), buscando reduzir o custo total.
A crítica de Cobori ecoa entre empresários e economistas: juros elevados drenam recursos que poderiam impulsionar o crescimento econômico. Com a Selic nesse patamar, o Brasil enfrenta o dilema entre conter a inflação e estimular o desenvolvimento produtivo.
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