O sonho da casa própria ainda domina o imaginário do brasileiro, mas em um país de juros estruturalmente elevados, a decisão entre alugar ou financiar precisa ser tratada com mais racionalidade e menos emoção. Em 2025, essa escolha envolve cálculos, simulações e, acima de tudo, compreensão sobre o custo de oportunidade de cada alternativa.
A seguir, você entenderá por que não existe uma resposta única para essa dúvida e verá como simular o cenário ideal com base na sua realidade financeira.
Por que a dúvida ainda persiste?
A cultura brasileira associa a compra da casa própria à conquista de estabilidade, segurança e até maturidade. Frases como “quem casa, quer casa” e “quem compra terra, não erra” perpetuam a ideia de que alugar é jogar dinheiro fora. No entanto, a matemática por trás do financiamento revela um cenário diferente.
Dados da Brain Inteligência Estratégica, em pesquisa para a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), mostram que 83% dos imóveis financiados no Brasil são adquiridos para moradia própria, especialmente entre famílias de menor renda. À medida que a renda sobe, aumenta também o uso do financiamento com foco em investimento.
Mas o que torna um financiamento vantajoso ou não?
Taxas de juros como ponto de partida
De acordo com a mesma pesquisa, 76,5% dos brasileiros consideram inviável financiar um imóvel com juros superiores a 10% ao ano mais TR. Quando essa taxa sobe para 11%, esse número salta para 88,4%. Ainda assim, a média de juros para financiamento em 2025 está justamente em torno de 11%, segundo o site Quinto Andar.
Apesar da aparente insatisfação com os custos, o volume financiado em 2023 cresceu 4%, atingindo R$ 251 bilhões, o que mostra que, mesmo com juros altos, os brasileiros seguem financiando.
Custo de aluguel x custo de financiamento
Uma regra de bolso amplamente usada é considerar que alugar custa cerca de 5% ao ano do valor do imóvel, enquanto um financiamento médio custa cerca de 10% ao ano. Essa diferença de 5% só se justificaria se o imóvel valorizasse pelo menos isso ao ano, o que não é uma realidade em boa parte do Brasil.
Exemplo prático com simulação
Imagine um imóvel de R$ 350 mil financiado em 35 anos (420 meses) com uma entrada de R$ 70 mil e taxa de juros de 11% ao ano. O saldo financiado seria de R$ 280 mil. Ao final do contrato, o comprador terá pago cerca de R$ 792 mil, ou seja, mais de duas vezes o valor do imóvel.
A planilha de simulação mostra ainda que, se em vez de financiar, você investir os R$ 70 mil iniciais mais R$ 1.250 mensais (equivalente à diferença entre o custo do financiamento e o aluguel), com uma rentabilidade de 0,84% ao mês (pouco abaixo da Selic atual), ao final dos 35 anos você teria acumulado mais de R$ 7 milhões.
E a valorização dos imóveis?
Muitos se apoiam na ideia de que o imóvel vai valorizar, compensando o custo alto do financiamento. Isso pode até acontecer em locais como Balneário Camboriú ou algumas áreas nobres de São Paulo, mas os dados do Índice FipeZap mostram que, desde 2015, a valorização média dos imóveis no Brasil tem sido inferior à inflação.
Por exemplo, em 2021, a valorização foi de 5,3%, enquanto a inflação oficial (IPCA) passou de 10%. Ou seja, na média, o imóvel perdeu valor real.
Custo de oportunidade: o ponto-chave
Um dos conceitos mais importantes ignorados por quem financia sem simular é o custo de oportunidade. Ao optar por pagar uma prestação de financiamento, você deixa de investir esse valor no mercado financeiro.
Se seus investimentos rendem mais do que a valorização do imóvel, o aluguel com aplicação do capital pode ser mais vantajoso. Por outro lado, se o imóvel valoriza mais do que seus investimentos, o financiamento pode compensar.
Simulando o cenário híbrido: financiar e investir
Existe ainda um cenário misto: você financia o imóvel, mas mantém parte da capacidade de aporte para investir. Se a parcela do financiamento consome R$ 3.100, e sua capacidade de aporte mensal é de R$ 4.000, você ainda consegue investir R$ 900.
Com uma taxa conservadora de 0,84% ao mês, esses aportes geram R$ 3,5 milhões em 35 anos, além da valorização do imóvel.
E se a rentabilidade aumentar?
Caso seus investimentos rendam 1% ao mês, o cenário muda completamente. O valor acumulado pode ultrapassar R$ 12 milhões, superando com folga o valor futuro do imóvel, mesmo com valorização acima de 6% ao ano.
Quando financiar pode fazer mais sentido?
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Quando a taxa de financiamento é menor que a sua rentabilidade de investimentos;
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Quando você tem acesso a programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida, com taxas reduzidas;
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Quando você já tem estabilidade pessoal, familiar e profissional, reduzindo o risco de precisar se mudar;
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Quando o imóvel desejado está em uma região com alto potencial de valorização comprovada.
Quando o aluguel é mais vantajoso?
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Quando a taxa de financiamento está acima de 10% ao ano;
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Quando você tem perfil investidor e consegue rentabilidades acima da média;
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Quando precisa de flexibilidade geográfica (ex: profissionais em fase de transição);
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Quando o mercado imobiliário local tem baixa valorização histórica.
A resposta certa para a pergunta “morar de aluguel ou financiar?” é: depende. Depende do seu perfil, do imóvel, da taxa de juros, da sua capacidade de investir e das condições do mercado. Antes de tomar uma decisão que comprometerá décadas da sua vida financeira, simule, compare e reflita com base em números, não apenas em crenças populares.
O post Alugar ou financiar um imóvel em 2025? Veja o que realmente vale mais a pena apareceu primeiro em O Petróleo.