Leia Também:
Conversa Brasileira convida Evandro mesquita e Paulo Ricardo
Fragmentos de Amor realiza edição de São João na Casa de Castro Alves
The Fevers celebram 60 anos com show especial na Pupileira
Ainda segundo ela, as apresentações também terão audiodescrição, tradução em Libras e monitores de acessibilidade. Parte das contrapartidas também envolve a distribuição de convites por meio de associações de bairro e a realização de shows em escolas públicas. “A gente consegue incluir profissionais da acessibilidade e expandir a comunicação. Traduzimos vídeos, dinamizamos nossa presença nas redes e ampliamos o alcance do projeto”, destaca.Temporada e lançamentosAlém das novidades no formato, a nova temporada da Jam no MAM também marca o lançamento do disco Queindá?, trabalho que mescla clássicos da música brasileira com composições autorais e arranjos contemporâneos. No repertório, obras de Jacob do Bandolim, Gilberto Gil, Chico Buarque e Violeta Parra, ao lado de faixas assinadas pelo duo formado por Aline Gonçalves e Rodrigo Picolé. “É uma proposta que valoriza a tradição, mas sem abrir mão de uma abordagem inventiva”, afirma Rodrigo. A apresentação começa às 18h.O disco Queindá? — cujo nome evoca uma variação regional da palavra “ainda”, surgiu de encontros informais nas ruas do Rio de Janeiro, onde o duo deu os primeiros passos. Com arranjos pensados para a formação inusitada de vibrafone e sopros, o álbum propõe uma sonoridade singular, combinando composições próprias e de artistas próximos com releituras de temas clássicos da música brasileira e latino-americana. O uso de flautas, clarinete, flauta baixo e outros instrumentos tocados por Aline dá ao som uma dimensão experimental e melódica que escapa dos padrões convencionais.“É um disco que atravessou três cidades: começamos a gravação no Rio, depois seguimos em Belo Horizonte e também aqui em Salvador. Foi um processo longo, feito à distância, que agora ganha esse momento bonito de encontro e celebração”, diz Rodrigo.Frequentador assíduo da Jam, ele também destaca a importância do projeto para além da música. “A Jam é fundamental para a cena instrumental de Salvador. Um espaço de excelência artística, mas também de diversidade, com mulheres, pessoas trans, artistas de diferentes raças e origens. E mais: é raro ver tanta gente reunida para ouvir música instrumental. Já estive ali em noites com mais de 1.500 pessoas. Isso tem um peso enorme”, afirma.Após a apresentação do duo, a banda Geleia Solar — anfitriã do projeto — sobe ao palco para sua tradicional jam session. A formação é variável, reunindo músicos de diferentes gerações e trajetórias em encontros marcados pela improvisação e pelo cruzamento entre jazz, ritmos brasileiros e experimentações ao vivo.Ritmo vivoCriada em 1993, a Jam no MAM nasceu com a proposta de promover a improvisação na música instrumental. Segundo Ivan Bastos, um dos idealizadores, o projeto mantém-se fiel ao espírito das tradicionais jam sessions. “O que acontece no palco é um encontro espontâneo. Cada nova formação decide na hora o que vai tocar”, explica.A trajetória da Jam acompanha a própria transformação da cena instrumental na Bahia. Se nos anos 1990 o cenário era mais restrito, com menos músicos e forte influência do jazz norte-americano —, hoje o panorama é outro. Uma nova geração, mais numerosa e diversa, tem produzido uma sonoridade profundamente conectada às tradições locais. “A gente abrasileirou a Jam. Hoje ela é mais local e, paradoxalmente, mais universal”, resume Ivan.Essa virada estética se deu de forma gradual, com a inserção crescente de repertórios baianos e nacionais. Em paralelo, o avanço da educação musical na Bahia teve papel decisivo nesse processo. A produtora Cacilda Povoas destaca iniciativas como a criação do curso de música popular na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o trabalho dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), a atuação de Bira Reis com a Orquestra Afro Sinfônica e a formação oferecida por escolas como o Rompe Lázaro. “Os jovens chegam à Jam mais preparados, com mais vivência de conjunto, o que eleva o nível das apresentações”, afirma.Ao longo dos anos, a Jam no MAM também se consolidou como um espaço de formação. Professores da UFBA, como Rowney Scott e o próprio Ivan Bastos, integram a banda base e frequentemente dividem o palco com seus alunos, construindo pontes entre gerações. Um exemplo é o saxofonista Lucas Declier, que teve sua primeira experiência no palco da Jam como aluno de Rowney, durante uma apresentação de turma. “É uma oportunidade única para os jovens tocarem com músicos experientes, num ambiente de troca verdadeira”, destaca Cacilda.Apesar das mudanças no cenário cultural e das exigências crescentes para ocupação dos espaços públicos, a Jam no MAM preserva sua essência. “Mantivemos a fidelidade ao formato original, mesmo agregando novos elementos”, reforça Ivan.Desde o início, o projeto tem buscado fortalecer a música instrumental por meio de ações que combinam formação, difusão e intercâmbio artístico. Às vésperas de uma nova edição, ele compartilha o entusiasmo da equipe com os próximos passos. “A cada edição, a gente renova o fôlego e a vontade de fazer mais. Estamos preparando tudo com muito cuidado para que essa próxima etapa seja ainda mais potente, levando a música instrumental a novos públicos e territórios”, conclui.JAM no MAM – Abertura da Temporada JAM e Petrobras 2025 / Hoje, 18h /Praça Maestro Letieres Leite, no MAM Bahia /Ingressos: De R$ 5 a R$ 40 / Vendas: Ingresso Live*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.