
Crime aconteceu em janeiro de 2024 no bairro Porto da Pedra, em São Gonçalo. Polícia pediu prisão de suspeitos, que são os mesmos já presos por participação no assassinato de advogado no Centro do Rio, um mês depois. Eduardo Sobreira (de camisa vermelha) e Cezar Daniel Mondego (de camisa preta) em foto tirada durante monitoramento de vítima, segundo a Polícia
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A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí pediu a prisão preventiva de quatro suspeitos de monitorar o empresário Thiago Trigueiro Gomes, de 37 anos, antes de ele ser executado em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O crime aconteceu em janeiro de 2024.
A investigação aponta para mais um homicídio ligado à atuação da máfia dos cigarros. O motivo: Thiago estaria vendendo o “cigarro errado”.
Segundo a Polícia Civil, os são os mesmos suspeitos que já estão presos pela morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, no Centro do Rio, na capital, em fevereiro do mesmo ano:
Cezar Daniel Mondego
Eduardo Sobreira de Moraes
Leandro Machado
Ryan Patrick Barboza de Oliveira
Ryan foi preso por participar de outro crime que foi cometido pelo mesmo grupo, de acordo com a polícia: o assassinato do dono do bar Parada Obrigatória, Antônio Gaspaziane Mesquita Chaves.
Máfia do cigarro e assassinatos
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Os cigarros Gift falsificados são vendidos em metade dos 92 municípios do Rio, em uma disputa que envolve violência e assassinatos: comerciantes que se negam a vender são mortos e os concorrentes, executados.
De 2022 a 2024, já são mais de vinte crimes provocados pela máfia do cigarro no Rio – entre tentativas de homicídio, desaparecimentos, sequestros e assassinatos.
A Polícia Civil, o Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado do Ministério Público e a Polícia Federal apontam um nome como o homem por trás da venda ilegal de cigarro no Estado: Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, que também é ligado ao jogo do bicho.
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GPS revelou monitoramento
A análise do GPS do veículo mostra que o carro dos criminosos circulou pela região onde a vítima morava entre os dias 4 e 9 de janeiro, quando houve a execução.
Uma foto, encontrada a partir da quebra de sigilo telemático de Eduardo Sobreira, mostra ele e Mondego dentro de um carro. Para a polícia, o horário em que a foto foi tirada coincide com um momento em que o Gol Branco circulava por uma avenida próxima ao depósito de bebidas de Thiago.
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Eduardo Sobreira Moraes, de 47 anos
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Cezar Daniel Mondego de Souza
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O policial militar Leandro Machado da Silva
Betinho Casas Novas/TV Globo
As investigações da DHNSGI revelaram que o Gol branco utilizado para seguir Rodrigo Marinho Crespo, em fevereiro, também foi usado para monitorar as atividades de Thiago Trigueiro Gomes.
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No dia 4 de janeiro, Leandro Machado da Silva acionou Ryan para que ele e outros dois, Sobreira e Mondego, fossem a alguns endereços para descobrir quem estava “fornecendo produto errado”. Segundo Machado, o “Zero” tinha pedido para ir naquele horário, por volta das 16h.
No mesmo dia, Ryan conversa com Cezar Daniel Mondego, apelidado de “Visão”. Segundo a investigação do caso envolvendo Crespo, ele é suspeito de monitorar as vítimas do grupo ligado a Adilsinho.
As mensagens interceptadas revelam que Ryan diz a Visão que o alvo seria alguém que estava vendendo “cigarro errado” em um depósito bem próximo de casa.
Segundo ele, a mesma vítima já teria sido monitorada anteriormente, quando o chefe do grupo não era Leandro Machado, apelidado de Rabanada:
“O condomínio dele onde ele mora é bem pertinho daquele depósito ali. Com certeza é esse cara, tendeu? Só que era o outro amigo lá que estava no comando, não é esse que tá agora, o Rabanada. Bagulho de antigamente era o cara que distribuía cigarro aqui do errado. Agora é o mesmo trabalho de novo, cigarro do errado”
Entre os dias 4 e 7 de janeiro, segundo as investigações da DH de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, o veículo usado por Sobreira e Moraes circulou em várias partes de Niterói e São Gonçalo, com destaque para a Avenida Joaquim Oliveira, no bairro de Neves.
Dia da execução
No dia em que a vítima foi executada, o carro volta a circular próximo do endereço do depósito de Thiago entre 8h59 e 9h30.
O crime aconteceu justamente nesse intervalo: dois bandidos armados chegaram ao local e fizeram disparos contra Thiago dentro da loja onde trabalhava. A vítima morreu na hora e os criminosos fugiram.
O relatório de localização do GPS revelou ainda que o veículo que monitorou Thiago passou várias noites em um endereço ligado a Eduardo Sobreira e passa no endereço de Cezar Daniel Mondego antes de seguir para São Gonçalo.
No dia da execução, o carro passou pelos dois locais, respectivamente em Maria da Graça, na Zona Norte, e Vicente de Carvalho, antes de ser desligado, já na casa de Sobreira.
Defesas respondem
Procurada, a defesa de Eduardo Sobreira disse que não sabia da investigação. “Aguardarei a devida intimação para me manifestar nos autos”, disse o advogado Felipe Teixeira.
As defesas de Leandro Machado e Cezar Daniel Mondego não responderam ao g1 até a publicação da reportagem.