
Sthefanny Samyra, estudante de engenharia civil, disse que o suspeito, integrante do diretório estudantil, costumava importuná-la por mensagem e que cometeu o assédio pessoalmente em uma palestra nessa terça-feira (27). Em nota, o DCE informou que não compactua com assédio nem violência. Sthéfanny Samyra é presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil da Ufac, e relata ter sido assediada por um integrante do DCE
Arquivo pessoal
A presidente e fundadora do Centro Acadêmico de Engenharia Civil (CAEC) da Universidade Federal do Acre (UFAC), Sthéfanny Samyra, denunciou ter sido alvo de assédio sexual durante uma palestra promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), cometido por um integrante da gestão da organização. O nome do suspeito não foi divulgado publicamente.
Por meio de nota, o DCE informou que não compactua com assédio nem violência. O vice-reitor da Ufac, Josimar Ferreira, também manifestou solidariedade à jovem. (Veja as notas completas após esta reportagem)
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Segundo a estudante, o caso ocorreu na última terça-feira (27). Contudo, ela contou que o suspeito já a importunava através de mensagens em redes sociais, por onde falava frases de cunho sexual e outras falas consideradas inconvenientes por ela.
Porém, de acordo com a estudante, nunca havia ocorrido nada pessoalmente até o dia da palestra, quando o estudante sentou perto dela e, mais uma vez, proferiu frases ofensivas.
“No dia do evento, ele sentou do meu lado. Ele chegou no meu ouvido e falou a seguinte frase: ‘Cê [sic] tá uma delicinha hoje. Eu te daria uns pegas aqui, agora. Só não vou fazer nada porque perdi o encanto’. E foi isso que aconteceu”, relata.
Sthéfanny conta ainda que a importunação via mensagem ocorria há cerca de dois meses, mas ela teve receio de questionar devido ao fato do suspeito ser membro do DCE, o que, para ela, poderia prejudicar seu centro. Entretanto, após o caso, ela registrou boletim de ocorrência e procurou a ouvidoria da Ufac para relatar o caso.
“Ele me chamava de apelido carinhoso. A partir do momento que o meu centro acadêmico foi fundado, ele começou a conversar comigo pelo Instagram, começou a dar em cima de mim. Às vezes, eu tinha reunião, chegava em casa, ele mandava mensagem dizendo que eu estava muito gostosa, que tava muito linda, [falando sobre] a roupa que eu tava”, acrescenta.
Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco
Victor Lebre/g1
Suposto silenciamento
Inicialmente, a jovem afirma que a única reação foi avisar a um grupo de amigos o que havia ocorrido, e que a orientou a sair do local.
Ela também conta que um integrante da gestão do DCE, que havia lhe convidado para a palestra na qual ocorreu o assédio, tentou convencê-la a não expor a situação e chegou a oferecer um cargo no DCE para que não compartilhasse o relato.
“O mesmo membro que me chamou pro evento, veio conversar comigo depois que ficou sabendo o que aconteceu e me desencorajou, queria que eu ficasse quieta, me ofereceu um cargo no diretório central. Ele falou que achava que eu não deveria, porque provavelmente eu seria atacada. Uma tentativa de silenciamento. Eles estavam tentando deixar o mais coberto possível”, acusa.
Ao g1, o DCE alegou não ter conhecimento sobre esse trecho do relato e que vai apurar o caso internamente.
“Ressaltamos que quem responde oficialmente pelo DCE é a presidência e a Coordenação Geral, os demais diretores respondem apenas mediante autorização. Se houve uma tentativa de acobertamento foi uma ação individual, realizada sem o conhecimento ou autorização desta diretoria, da qual não compactuamos, nem concordamos”, complementou.
Violência contra mulher: como pedir ajuda
Nota do DCE
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) manifesta total solidariedade à Presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil, vítima de assédio por parte de um estudante que atualmente colabora nas atividades vinculadas ao DCE.
Reafirmamos nosso compromisso com a integridade, o respeito e um ambiente seguro para todas as pessoas. Por isso, diante dos fatos, assim que recebemos a denúncia, a diretoria do DCE decidiu imediatamente desligar o estudante de todas as atividades da nossa entidade, bem como, adotamos as medidas cabíveis com a seriedade que o caso exige.
O DCE garante todo o apoio, orientação e acompanhamento necessários para a vítima, tanto nos procedimentos internos quanto nos encaminhamentos externos que já foram tomados.
Deixamos claro: não toleramos e não compactuamos com qualquer forma de assédio ou violência. Seguiremos firmes na defesa de um ambiente universitário ético e seguro.
Nota do vice-reitor
Venho a público manifestar minha solidariedade a todos que já sofreram ou sofrem qualquer forma de assédio. Não há espaço para o silêncio diante de situações que ferem a dignidade e a integridade física e de membros da nossa comunidade acadêmica. Assédio, seja ele moral, sexual ou institucional, é uma violação grave e inaceitável.
Reafirmo meu compromisso pessoal e institucional com o enfrentamento firme e responsável a qualquer prática de assédio. Acolher as vítimas, ouvir com respeito, agir com seriedade e promover uma cultura de respeito, são atitudes que devem nortear nossas ações diárias.
Estamos atentos, e seguiremos trabalhando para fortalecer os canais de escuta, as ações preventivas e as medidas necessárias para garantir que qualquer espaço seja um ambiente seguro para todos.
Josimar Batista Ferreira
Vice-Reitor
A PM disponibiliza os seguintes números para que vítimas peçam ajuda:
(68) 99609-3901
(68) 99611-3224
(68) 99610-4372
(68) 99614-2935
Veja outras formas de denunciar casos de violência:
Polícia Militar – 190: quando a vítima está correndo risco imediato;
Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes;
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
Qualquer delegacia de polícia;
Secretaria de Estado da Mulher (Semulher): recebe denúncias de violações de direitos da mulher no Acre. Telefone: (68) 99930-0420. Endereço: Travessa João XXIII, 1137, Village Wilde Maciel.
Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
Ministério Público;
Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
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