Será que foi ataque de arma química e eu não vi? Deve ser um colapso coletivo da sanidade ou só o tédio da espécie humana dando seus últimos suspiros, antes que Putin aperte o botão e comece a terceira guerra mundial trocando bombas atômicas com Trump, brincado de War. Claro que você brincou de War! Não brincou? Menino amarelo. Mas o fato é que nasceu — direto do útero do absurdo — a moda mais esquisita dos últimos tempos: os bebês Reborn. Sim, esses bonecos hiper-realistas que parecem resultado de uma parceria entre um taxidermista emocionalmente instável e o capeta com curso técnico em artes plásticas que queria um irmão para Chuch.E como o Brasil nunca perde a chance de importar uma ideia duvidosa (vide calça saruel e coaching motivacional), o mulherio brasileiro abraçou essa tendência com um entusiasmo de Black Friday. Brasileiro é louco por brequi-fraude. Agora temos adultos trocando fraldas de silicone, dando mamadeira pra um manequim de bebê e — prepare o facepalm — brigando na Justiça pela guarda do boneco após o divórcio. Sim, é real. Tem gente indo à vara de família pra decidir quem fica com o filho de borracha no fim de semana. Se isso não é o apocalipse em slow motion, sinceramente, não sei o que seria. Você viu a moça com seu Reborn tentando passar no supermercado pelo caixa de prioridade por que ela estava com a filha Reborn no carrinho (era fake?). Sei não.O mais surreal é o pacote de rituais em torno dessas criaturas de silicone e tinta, sem alma. Tem chá de fraldas (para um boneco que nunca vai evacuar nem no plano espiritual), ensaio fotográfico (porque seu Instagram precisa saber que você é “mãe” de um pedaço de borracha premium), batizado (provavelmente o único momento em que Deus cogita pedir exoneração) e até cartão de vacinação. Pra quê, exatamente? Sarampo emocional? Catapora simbólica?E tome a insanidade. Aqui em Salvador, Bahia, Brasil, alguém mais lúcido e esperto já montou uma creche para a mamãe deixar seu “filho” Reborn quando for sair, pois ele não pode ficar sozinho em casa pois pode ligar o fogão e se queimar, por exemplo. A creche está faturando. Tem gente levando Reborn pra praia (prepare-se para o salva-vidas tentando reanimar um silicone com respiração boca a boca), para o cinema (será que o boneco tem carteirinha de estudante?) e até para o pediatra. Sim, o médico olha nos olhos da senhora e, com toda a paciência de um monge tibetano, precisa dizer: Se o médico for ético vai dizer: “Senhora, seu bebê não está com cólica. Ele não tem órgãos.” Mas aí a “mãe” vai processar ele no Cremeb. Já tem psicólogos garantindo que o Reborn ajuda mulheres que perderam filhos ou não podem tê-los. Tudo bem, a dor é legítima. Mas quando a terapia vira um cosplay de maternidade 24 horas por dia, com direito a berço, fralda e banho em boneco que nem suja, talvez a gente tenha ultrapassado a fronteira da saúde mental e chegado direto no território do “vamos conversar seriamente sobre internação.”E os homens no meio disso? Uns fingem apoio, outros fingem que não estão ali. Porque, sejamos honestos, você, homem moderno, conseguiria dividir a cama com alguém que acorda às três da manhã pra amamentar um boneco? Hum!!! Tem homem também entrando na onda de “pai” de Reborn. Eu só pensaria em duas coisas: fuga ou exorcismo. Afinal, o que temos é uma sociedade que, em vez de encarar a solidão, a frustração e o vazio existencial como adultos, decidiu gastar muita grana num boneco caro e viver uma maternidade cenográfica. Como se o plano fosse: “Vamos fingir que isso é normal até que a realidade se curve ao nosso delírio.” Devo, no entanto, falar, sem a senhora ou o senhor me pedir: Queridas mamães e papais Reborn, sinto informar, mas o seu “filho” não chora, não sorri, não cresce e, acima de tudo, não te ama. Ele é um objeto. Bonitinho? Sim. Realista? Talvez. Caro? Com certeza. Mas ainda assim, só um amontoado de silicone travestido de afeto. E não vaio te dar netos. Sei, sei que vão lançar “netinhos” Reborn e fica a dica para os empreendedores e quero minha parte em euro.Caríssimos, se acordarem e perceberem que estão a dedicar mais tempo, carinho e fraldas perfumadas a um boneco do que a seres humanos reais, talvez seja hora de reavaliar as prioridades. Ou, no mínimo, parar de maratonar filme de terror como se fosse documentário.(P.S.: Se você tem um Reborn e se sentiu ofendida (o)… calma. Seu bebê não vai sentir. Ele não tem sistema nervoso. Acredite que não tem alma. Pergunte ao padre da paróquia, mas cuidado que ele pode querer te exorcizar ou mandar para o psiquiatra. Será que tem psiquiatra com filho Reborn? E padre? E freira? Vixe!). Aperta aí o botão Putin.Escritor, jornalista. Autor do romance “A Peleja dos Zuavos Baianos Contra Dom Pedro os Gaúchos e o Satanás” e de “Histórias da Bahia-Jeito Baiano”, dentre outros (Amazon)
Mamãe Reborn o seu filho não tem alma
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