Menina autista realiza sonho de conhecer fábrica de elevadores: ‘Ela é feliz com pouco’


Eloá Hazel, de 9 anos, é moradora de Jacareí (SP) e tem nível 2 de suporte no Transtorno do Espectro Autista (TEA). O hiperfoco dela em elevadores começou aos 4 anos de idade. Menina autista de Jacareí tem hiperfoco em elevadores e visita fábrica em São José dos Campos.
Subir e descer de elevador, apertar os botões dos andares e ver as portas se fechando. Uma atividade corriqueira para muitas pessoas, é motivo de alegria e realização para uma criança autista do interior de São Paulo. Mais do que um frio na barriga ao andar de elevador, a menina tem hiperfoco – e um encantamento – pelo equipamento.
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Segundo a família, Eloá Hazel, de 9 anos, é moradora de Jacareí, no interior de São Paulo. Ela é autista, sendo classificada como nível 2 de suporte no Transtorno do Espectro Autista (TEA). E o hiperfoco dela são os elevadores.
🧩 O hiperfoco é uma das características das pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O termo é usado para descrever o estado de concentração intensa em um determinado assunto.
Em entrevista ao g1, a mãe de Eloá, Dayanni Vanessa, contou que a filha começou a ter hiperfoco em elevadores aos 4 anos de idade. Desde então, sempre que a menina vai a algum prédio ou estabelecimento que tem o equipamento, a criança visita o espaço e memoriza os detalhes de cada elevador, além de subir e descer entre os andares, o que pra ela é um passeio.
A paixão especial pelos elevadores ganhou uma nova etapa recentemente, quando a menina realizou o sonho de conhecer uma fábrica de elevadores que fica em São José dos Campos, cidade vizinha de Jacareí. No local, Eloá acompanhou todas as etapas de produção e conheceu mais sobre o equipamento que a deixa tão feliz.
A mãe conta que a experiência foi um marco importante para a filha, que se sentiu realizada, e também para a família, que viu Eloá com um sorriso genuíno estampado no rosto.
“Ela adora apertar os botões. Quando sobe ou desce, fica tão alegre que contagia quem está por perto e as pessoas acabam sorrindo junto. A felicidade de um filho é a dos pais. Ver ela sorrindo e balançando os bracinhos, enche nosso coração de gratidão a Deus por essa criança ser feliz com tão pouco”, contou emocionada.
Segundo a mãe, o comportamento com o foco em elevadores vai além de uma simples curiosidade, pois a filha consegue até reconhecer prédios por causa dos elevadores. Ela vai associando os modelos de elevadores aos locais que passa.
“No consultório, ela corre para a frente do elevador, quer ser a primeira a apertar o botão. Quando passamos pelo prédio Boulevard, ela diz ‘olha, mãe, o Boulevard!’, porque lembra do elevador. Ela tem um vínculo afetivo com isso”, comentou.
Menina autista de Jacareí tem hiperfoco em elevadores e visita fábrica em São José dos Campos.
Arquivo pessoal/Dayanni Vanessa
Hiperfoco
O hiperfoco é uma característica comum entre pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), definida por uma atenção intensa, prolongada e seletiva sobre um único tema.
Durante esse período, a pessoa pode se desconectar do ambiente ao redor, ignorar estímulos externos e até mesmo necessidades básicas, como fome ou sono.
De acordo com a fonoaudióloga Elisabeth Crepaldi de Almeida, esse padrão está presente em até 90% das pessoas autistas, sendo importante que haja um trabalho multidisciplinar para orientar e aproveitar esse padrão de comportamento.
“Quando bem direcionado, o hiperfoco pode ser valioso para o desenvolvimento da pessoa com autismo, da linguagem à alfabetização e até às habilidades sociais. É possível transformar esse interesse em ponte para o aprendizado, desde que respeitando o tempo e os limites da criança”, afirmou a fonoaudióloga.
A especialista reforça que o hiperfoco também pode representar um desafio em alguns contextos.
“Quando o foco intenso começa a interferir na rotina, como na alimentação, no sono ou na socialização, é preciso atenção. Nesses casos, pode ser necessário um plano de intervenção com apoio de profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos”, disse.
“Trabalhar o hiperfoco exige acolhimento e estratégia. Não se trata de eliminar o interesse, mas de torná-lo funcional e saudável. Uma criança que ama elevadores pode aprender matemática contando andares, desenvolver linguagem ao descrever o funcionamento ou socializar ao compartilhar o que sabe com colegas e professores”, finalizou.
Eloá Hazel e sua mãe Dayanni Vanessa.
Arquivo pessoal/Dayanni Vanessa
Diagnóstico
Antes de ter o diagnóstico de autismo, Eloá Hazel teve uma batalha ainda maior em sua vida. A menina nasceu com Sequência de Pierre Robin (SPR), também conhecida como Síndrome de Pierre Robin.
É uma condição rara que afeta bebês, caracterizada por uma tríade de anomalias: mandíbula pequena (micrognatia), língua deslocada para trás (glossoptose) e, frequentemente, fenda palatina.
Segundo a mãe, ela tinha muita dificuldade de respirar e, consequentemente, de mamar.
“Os primeiros meses de vida dela foram verdadeiras batalhas, mas graças a associação AAFLAP, de São José dos Campos, e ao Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC-USP), em Bauru, ela foi muito bem atendida e sempre teve os melhores resultados naquela situação que estava passando”, lembrou.
Como esteve em constante acompanhamento médico, os pais notaram que Eloá tinha algumas dificuldades, como sentar, rolar, segurar brinquedos e foi através disso que eles procuraram um neuropediatra, quando a menina estava com 8 meses.
“Desde então, ela foi acompanhada por uma especialista que sempre me pediu paciência quanto ao laudo, porque ela queria ter certeza se era autismo ou atraso do desenvolvimento, devido às condições e restrições que ela teve ao longo dos primeiros anos de vida. Foram 4 anos para, enfim, termos o diagnóstico de autismo”, explicou Dayanni Vanessa.
“Nós focamos que ela tivesse a melhor qualidade de vida possível. Foram anos de muitos desafios, mas hoje podemos dizer que fizemos um ótimo trabalho”, completou.
Eloá Hazel e família.
Arquivo pessoal/Dayanni Vanessa
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