
Os dois países, que concordam em devolver prisioneiros feridos e corpos de 12 mil soldados, trocam os maiores ataques aéreos da guerra que já dura mais de 3 anos. Representantes da Rússia e da Ucrânia fizeram nesta segunda-feira (2) a segunda rodada de negociação direta desde o início da guerra, há mais de três anos. Os países concordaram em trocar prisioneiros jovens e gravemente feridos, mas não houve avanços sobre um cessar-fogo. A reunião ocorreu um dia depois de um ataque sem precedentes de drones ucranianos contra bases militares russas.
Russos e ucranianos ficaram frente a frente na mesa de negociação. O ministro do Exterior da Turquia, que mediou a conversa em Istambul, disse que o objetivo era avaliar as condições de cessar-fogo e planejar uma reunião de Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky. Ao fim do encontro, Rússia e Ucrânia concordaram em trocar mais prisioneiros de guerra e devolver os corpos de 6 mil soldados de cada lado.
O Kremlin propôs um cessar-fogo parcial de dois a três dias, em algumas áreas do fronte de batalha. A Ucrânia quer um cessar-fogo de 30 dias e amplo, por terra, ar e mar. O ministro da Defesa ucraniano declarou que um cessar-fogo só pode ser resolvido pelos dois presidentes e cobrou a participação de outros líderes, como o americano Donald Trump.
Cavalo de Troia: como foi o mega-ataque de drones camuflados da Ucrânia contra a Rússia
A agência estatal russa Tass divulgou nesta segunda-feira (2) o memorando com as exigências de Vladimir Putin para acabar com a guerra:
o reconhecimento jurídico internacional da incorporação da Crimeia – que foi anexada ilegalmente pela Rússia em 2014 – e das quatro regiões ucranianas – Luhansk, Donetsk, Zaporíjia e Donetsk, que a Rússia tomou nos últimos três anos;
que nesses territórios haja uma retirada completa das forças armadas ucranianas;
e que a Ucrânia se torne um país neutro, renunciando à tentativa de ingressar na Otan, a Aliança Militar do Ocidente.
Na imagem é possível ver os tetos retráteis e os drones escondidos entre as vigas
Jornal Nacional/ Reprodução
Os dois lados negociavam ao mesmo tempo em que trocavam artilharia. A Ucrânia diz que no domingo (1º) conseguiu atingir 41 aviões militares da Rússia – usados para transportar bombas e mísseis. Foram 18 meses de preparação. O serviço secreto ucraniano escondeu 117 drones e explosivos dentro de contêineres. Um agente contratou caminhões russos para transportar a carga para ao menos cinco regiões do território russo. Oficialmente, eram casas de madeira. Quando os veículos estavam próximos das bases aéreas, o teto dos contêineres foi aberto remotamente – de maneira coordenada – permitindo que os drones voassem. Na imagem é possível ver os tetos retráteis e os drones escondidos entre as vigas.
“O que chama atenção é que esses ataques ocorreram não perto da fronteira com a Ucrânia, mas dentro da Rússia”, diz Oliver Stuenkel, professor da FGV-SP.
Bases aéreas foram atingidas no território russo. Uma delas – Belaya – está a mais de 4 mil km de distância da Ucrânia. Imagens de satélite mostram uma parte da destruição em duas dessas bases aéreas da Rússia.
Em três anos de guerra, a Ucrânia teve 20% de seus territórios invadidos. Mas com ajuda militar do Ocidente, tem conseguido resistir. O Jornal Nacional perguntou ao professor Oliver Stuenkel se o ataque de domingo (1º) pode mudar o curso da guerra ou causar uma escalada do conflito.
“A Ucrânia demonstrou que possui capacidade de resposta. Isso também pode afetar tanto a opinião pública ucraniana, quanto a opinião pública russa. Porque, para a Rússia, é fundamental convencer a população de que aquilo é uma guerra necessária e que ela não tem um impacto grande sobre o dia a dia da população russa. Mas esses ataques em cidades, em várias regiões da Rússia, certamente podem abalar essa narrativa russa. Do lado ucraniano, esse ataque é fundamental porque o governo Zelensky precisa demonstrar que ainda há esperança mais de três anos depois do início da invasão russa”, afirma Oliver Stuenkel.
A Rússia também tem intensificado o uso de drones: lançou quase 500 deles contra a Ucrânia no domingo (1º). Em outro ataque russo, mas com mísseis, 12 soldados ucranianos morreram e mais de 60 ficaram feridos em uma unidade de treinamento. O professor Stuenkel não considera que os russos retomem a ameaça nuclear.
“Me parece, continua parecendo pouco provável que a Rússia queira dar esse passo que mudaria por completo não apenas a relação da Rússia com a Ucrânia e o conflito, mas com o Ocidente de forma mais ampla. Também vale lembrar que a China, que é o principal parceiro da Rússia, se opõe a qualquer uso de armas nucleares”, diz Oliver Stuenkel.
Rússia e Ucrânia divergem sobre a possibilidade de um cessar-fogo
Jornal Nacional/ Reprodução
Na Europa, os governos não têm se mostrado otimistas com a negociação. O primeiro-ministro lançou nesta segunda-feira (2) uma revisão dos programas de defesa. Ele quer as Forças Armadas de prontidão e disse que o país precisa estar preparado diante do cenário de ameaças internacionais – que, segundo ele, são as mais sérias desde a Guerra Fria.
“A Ucrânia e a Rússia, no fundo, não têm pressa para encerrar o conflito, porque não há ainda uma proposta na mesa que seja aceita pelos dois. A Ucrânia ainda possui bastante capacidade militar, receberá mais apoio militar dos seus aliados europeus ao longo dos próximos meses e anos. A Rússia também está aumentando a produção de equipamento militar. Ou seja, os dois estão se preparando para um conflito de longo prazo”, afirma Oliver Stuenkel.
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