Pesquisa e inovação agrícola marca os 50 anos da Embrapa em Cruz das Almas

Há meio século, a Embrapa Mandioca e Fruticultura fincou raízes em Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, com a missão de transformar a agricultura tropical. A unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária celebra um legado de entregas tecnológicas que transformaram a produção de alimentos no Brasil.Em visita institucional nesta terça-feira, 3, Carlos Estevão Leite Cardoso, chefe-geral substituto da unidade, foi recebido por Eduardo Dute, diretor da A TARDE FM, e pela diretora de Conteúdos e Projetos Especiais, Mariana Carneiro.Durante a conversa, Cardoso destacou os principais marcos das últimas cinco décadas e os caminhos que estão sendo traçados para responder a desafios como mudanças climáticas, doenças de plantas e uso sustentável da água.“A principal entrega que a gente não pode esquecer, é dessa variedade, a variedade da Angola. A laranja-pera, a D-6. Ela não só atende ao entorno de onde a unidade está em Cruz das Almas, até toda a citricultura do norte e nordeste, 80% é em cima da laranja-pêra D6. Já a banana, é a variedade prata-anã. Toda banana prata-anã que se consome, no supermercado, de uma forma ou de outra tem um vínculo com esse material que foi lançado há 30, 40 anos por nós. Então, são algumas das grandes entregas nesses 50 anos”, conta.

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Reconfiguração de cadeias produtivasCom forte base na fruticultura, a unidade também atua no redesenho de cadeias produtivas. O caso do abacaxi é emblemático: com origem no Recôncavo Baiano, a produção foi migrando para o semiárido e agora passa por nova transformação com o lançamento de cultivares resistentes a doenças.“O abacaxi saiu daqui da nossa região, do Coração de Maria, que era fortemente acometido também por uma doença. Foi para a região de Itaberaba, aqui na Bahia. Então, lá houve uma convergência de interesse de produtoras, de empresários, de outros parceiros, e mudou totalmente toda essa cadeia de produção de abacaxi. Nós participamos ativamente disso. Mas ainda falta um pulo, nós vamos lançar, certamente no próximo ano, duas variedades de abacaxi, que é a Sol Bahia e a Diamante. BRS Sol Bahia e BRS Sol Diamante. Com as mesmas características da variedade pérola e com a vantagem de ser resistente à doença”, descreve.

Carlos Estevão Leite Cardoso, chefe-geral substituto da Embrapa de Cruz das Almas (esq)

|  Foto: .José Simões / Ag. A TARDE

Foco em culturas estratégicasA criação da unidade teve como base a relevância da Bahia na produção de abacaxi, citros, banana, maracujá e mamão. Essas culturas seguem como foco da unidade, mas novas demandas também vêm sendo absorvidas com o passar dos anos.“A gente vem com foco nessas culturas […] mas temos uma janela aberta para o que nós chamamos de cultura de oportunidade”, afirma. A inclusão depende de fatores como relevância local e disponibilidade de financiamento para pesquisa.A decisão de atuar sobre uma nova cultura envolve avaliação de escopo e capacidade técnica. “Desde que não esteja totalmente fora do nosso escopo e se não tiver uma outra unidade da Embrapa com vantagens mais competitivas do que a nossa para dar resposta em prazo mais curto. Se você traz uma demanda hoje pra gente, por exemplo, de manga a gente vai priorizar as unidades que estão trabalhando.”Respostas para a crise climática e doençasCom foco em sustentabilidade e adaptação às mudanças do clima, a Embrapa também prepara novos lançamentos genéticos com melhor desempenho hídrico e tolerância a temperaturas extremas.“Hoje os genótipos quando são lançados eles têm que vir já preparados para gastar menos água. Os genótipos de banana que estão sendo lançados hoje nas regiões que são o polo de produção de banana, têm que ficar preparados para os extremos de temperatura. Nós estamos com um produto já para colocar na praça, em parceria com a iniciativa privada, que é de proteção das culturas para conseguir se adaptar melhor a essas condições de uma mudança climática. E esse produto já conseguiu funcionar muito bem para várias dinâmicas de nossas culturas.”Além das mudanças ambientais, o centro também lida com ameaças fitossanitárias que exigem resposta antecipada da ciência.“Tem uma doença na banana que se chama fusarium. A gente convive aqui com a chamada raça 1, mas já tem outros lugares do mundo a raça 4. E se entrar no Brasil, nós podemos estar numa situação muito complicada. Então nós estamos já com pesquisas bastante avançadas com relação a isso, e é bem provável que em breve nós teremos notícias muito boas com relação a novos mecanismos de enfrentamento dessa doença, novas variedades e inclusive, com menos agressão. Porque você vai ter a capacidade genética da planta conviver naquela condição, desse estresse da presença de doença e vai evitar que esteja utilizando mais agrotóxico”, conclui.

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