
Tucanos aprovaram proposta para absorver Podemos; dirigentes esperam que tratativas sejam concluídas na próxima semana. PSDB avalia que movimento fortalecerá e retomará bases históricas da sigla. Tela de votação da Executiva Nacional do PSDB, com pergunta sobre incorporação do Podemos à sigla
Kevin Lima/g1
A convenção nacional do PSDB aprovou nesta quinta-feira (5) a união da sigla com o Podemos.
Em reunião com dirigentes e parlamentares tucanos de todos os níveis, o partido deu aval à incorporação do Podemos à estrutura partidária do tucanato.
O órgão máximo do PSDB também decidiu dar poderes à direção nacional do partido para concluir as negociações junto a dirigentes do Podemos.
Ao g1, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, disse esperar que o arranjo seja concluído e enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima semana.
‘Ideal seria seguirmos solo, mas ficamos pequenos’, diz presidente do PSDB sobre possível fusão
Inicialmente, a cúpula tucana vinha anunciando a união como uma fusão, o que daria origem a um novo partido.
Nas últimas semanas, no entanto, predominou o entendimento de que o movimento a ser feito junto ao Podemos será o de uma incorporação — quando um partido é absorvido por outro.
Aliança quebrada
🔎O instrumento foi escolhido para evitar uma disputa jurídica com o Cidadania, ao qual o PSDB está federado. Federações são uma espécie de casamento por, no mínimo, quatro anos.
Embora o Cidadania já tenha anunciado que vai se separar dos tucanos, pelas regras, a aliança entre as legendas só poderá ser quebrada em 2026. O rompimento antes do prazo levaria a penalidades aos partidos, segundo a legislação.
Com a incorporação, no entanto, o entendimento de dirigentes tucanos é que o PSDB seguirá existindo e a regra seria, portanto, driblada.
O presidente do Instituto Teotônio Vilela — entidade mantida pelo PSDB —, deputado Aécio Neves (MG), projeta que a incorporação será aprovada pelo TSE até outubro. A princípio, segundo Aécio, o novo partido será chamado de “PSDB+Podemos”.
Alguns detalhes do formato da união com o Podemos ainda não estão completamente fechados, segundo dirigentes. Há divergências, por exemplo, em relação à governança e ao número de urna (45 do PSDB ou 20 do Podemos).
A união entre PSDB e Podemos tem sido construída há meses entre dirigentes das duas siglas. A medida foi a saída encontrada pelo PSDB para estancar o que muitos tucanos chamam de uma grave crise interna de identidade.
O desgaste, que se acelerou a partir das eleições de 2018, tem levado a uma debandada em série de tucanos.
Neste ano, o PSDB perdeu dois dos três governadores eleitos pela sigla em 2022: Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco), que migraram para o PSD.
O único governador tucano, Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul), tem sido disputado por outras legendas. Em conversas com dirigentes do PSDB, Riedel disse que só tomaria a decisão após a conclusão das tratativas com o Podemos
Ao discursar na convenção desta quinta, Eduardo Riedel disse apoiar “integralmente” a união com o Podemos “E que a gente continue fortalecendo o nosso partido”, disse.
Juntos, PSDB e Podemos podem chegar a ter a sétima maior bancada da Câmara, em números atuais, com 28 deputados.
A hipótese, neste caso, ocorre porque a Justiça Eleitoral permite que deputados migrem para outras siglas sem punição em cenários como esse, de incorporação de partidos.
No Senado, a nova sigla poderá se tornar a quarta maior bancada da Casa, com 7 senadores. Aécio Neves acredita que a decisão de reunir as siglas trará mais “musculatura” ao PSDB e poderá impulsionar a filiação de novos quadros.
A união entre os partidos também deverá ter direito, em 2026, à 6ª maior fatia de recursos públicos para financiamento de campanhas.
Bonés com novo slogan do PSDB, ‘radical no que importa’
Kevin Lima/g1
Um ‘novo’ PSDB
Dirigentes do PSDB tratam a incorporação do Podemos como um marco para um processo de renovação e reavivamento da sigla.
O partido, que presidiu o Brasil por duas vezes, quer restaurar as bases históricas da legenda. Segundo Aécio Neves, tucanos históricos têm sido convidados a retornar à sigla para contribuir na construção de um novo programa partidário.
Aécio afirma que a sigla quer se “radicalizar” no centro e reunir votos de fatias da população que não se identificam com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O novo mote do partido estava presente, inclusive, em bonés distribuídos na entrada do evento desta quinta. No acessório, a marca do PSDB é acompanhada do slogan: “Radical no que importa”.
O deputado federal avalia que as mudanças devem encorpar os quadros do PSDB. Aécio Neves também diz que a união com o Podemos é um passo para que o ninho tucano volte a disputar o comando do país.
Segundo ele, com a nova estrutura partidária, o PSDB terá musculatura para disputar — eventualmente — a presidência em 2026 e eleger bancadas mais imponentes no Congresso. Aécio estima que o novo partido pode conquistar até 50 deputados federais.
O presidente nacional do partido, Marconi Perillo, afirma que o novo programa partidário do PSDB será baseado em quatro pilares:
combate veemente à desigualdade social;
equilíbrio fiscal;
gestão das políticas públicas;
e reformas estruturais.
“É hora de atualizar o nosso jeito de fazer política, de usar nossa experiência para construir soluções para o presente e o futuro. O Brasil está mudando e mudou muito. E o PSDB está mudando também”, disse.
Além da união com o Podemos, a convenção nacional desta quinta também decidiu abrir margem para ampliar alianças do PSDB com outras legendas.
Segundo Marconi Perillo, com a deliberação, a cúpula do PSDB também poderá negociar “casamentos” com outros partidos.
Novo partido em números
O “PSDB+Podemos” deverá ter direito, em 2026, à 6ª maior fatia de recursos públicos para financiamento de campanha.
A distribuição dos recursos levará em conta a soma do resultado eleitoral obtido pelas siglas em 2022 e não será influenciado pela saída de deputados federais com o processo de fusão (entenda mais abaixo).
Em números atuais, a nova sigla terá:
28 deputados federais — sétima maior bancada da Câmara
sete senadores — quarta maior força dentro do Senado
sétimo maior número de prefeitos em todo o país, com 405 prefeituras
um governador
R$ 384,6 milhões em fundo eleitoral (números de 2024) — 6ª maior fatia do Fundão
R$ 77 milhões em fundo partidário (números de 2024) — 8º maior volume de dinheiro
Da presidência do Brasil ao risco de sumir
O PSDB, que já chegou a presidir o país e ocupar o topo do ranking de parlamentares eleitos, tem enfrentado debandada em todos os estados.
O declínio, segundo tucanos, é resultado direto das eleições de 2022, quando o PSDB registrou o pior desempenho eleitoral.
À época, mergulhado em divergências, a sigla se federou ao Cidadania, que recentemente rompeu com a aliança, em uma tentativa de melhorar os seus resultados.
O resultado foi:
eleger a menor bancada da história dos tucanos na Câmara;
ficar sem bancada no Senado;
não indicar candidato ao Planalto pela primeira vez desde 1989;
perder o governo do estado de São Paulo, que estava nas mãos do partido há quase três décadas.
O temor do ninho tucano é que o processo de desidratação leve a um asfixiamento financeiro e a uma aceleração do desaparecimento do partido.
O motivo principal é o endurecimento da cláusula de barreira — regra que determina, com base em número de votos válidos e deputados eleitos, quais partidos terão direito a recursos públicos mensais para o funcionamento das siglas (fundo partidário) e ao tempo de propaganda em TV e rádio.
Em 2026, a distribuição destes recursos se dará com base nos resultados de 2022 — para esse fim, será utilizado a soma dos deputados eleitos pelos dois partidos: 25, e não os 28 parlamentares atuais.
Na prática, isso quer dizer que a fusão, ao ser oficializada, terá direito a um fundo partidário maior e a maiores fatias do fundo público de financiamento de campanha — o Fundo Eleitoral — e do tempo de rádio e TV.
A expectativa, dos dois lados, é que isso possibilite maior investimento em campanhas e favoreça a eleição de correligionários no próximo ano, o que driblaria a cláusula de barreira.
A partir de 2027, para que os partidos tenham direito ao tempo de TV e rádio e ao fundo partidário, será preciso:
obter, nas eleições de 2026, ao menos 2,5% dos votos válidos para a Câmara — distribuídos entre 9 estados com, no mínimo, 1,5% dos votos válidos em cada estado;
ou eleger, em 2026, no mínimo, 13 deputados distribuídos em pelo menos 9 estados.