PIB do Brasil cresce 2,9% no 1º trimestre, mas melhora não chega ao povo, dizem especialistas

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado de 12 meses, o crescimento foi de 3,5%. Apesar do bom desempenho numérico, especialistas ouvidos no programa Outubro, do canal Opera Mundi, apontam que esse crescimento não representa uma melhora real na vida da maioria da população.

Agro lidera o crescimento, mas contribui pouco para o bem-estar

Segundo o IBGE, o setor agropecuário teve alta de 12,2% no trimestre, puxando o desempenho da economia. Em contrapartida, a indústria encolheu 0,1% e o setor de serviços cresceu apenas 0,3%. Para a doutoranda em Políticas Públicas Bianca Valsk, o crescimento liderado pelo agro tende a ampliar a concentração de renda e não contribui para geração significativa de empregos.

“O agro utiliza pouca mão de obra, é altamente concentrador de renda e tem baixa capacidade de melhorar o bem-estar social”, destacou Valsk.

Além disso, como grande parte da produção é voltada para exportação, o agronegócio se beneficia duplamente: com o volume vendido e com a valorização do dólar, o que, segundo ela, aumenta os lucros sem gerar efeitos positivos diretos no mercado interno.

Baixo impacto multiplicador e indústria estagnada

O economista Luís Gonzaga Belluzzo reforçou que a renda gerada pelo agro tem pouco efeito multiplicador na economia. Isso ocorre porque boa parte dos insumos utilizados são importados, o que limita a circulação de capital no país e enfraquece cadeias produtivas internas.

“A maior parte do que é utilizado no agro vem de fora. Isso compromete o desempenho da economia como um todo e prejudica a indústria nacional”, alertou Belluzzo.

O cenário da indústria, que teve retração no trimestre, é mais um fator preocupante. Em 1985, o setor representava 25% do PIB brasileiro. Hoje, essa participação gira entre 9% e 11%. O jornalista Igor Felipe e a economista Bianca Valsk apontaram que a desindustrialização é resultado da falta de um projeto de desenvolvimento nacional de longo prazo.

Serviços crescem pouco e oferecem empregos de baixa qualidade

Embora o setor de serviços seja responsável por grande parte dos empregos formais no país, os especialistas alertam para a baixa qualidade dessas vagas. Segundo Igor Felipe, o crescimento do setor tem limitado impacto social porque os salários médios são baixos, geralmente entre um e dois salários mínimos.

“Estamos falando de empregos precários, com baixos salários e pouca proteção social. Isso não garante melhora nas condições de vida da população”, afirmou.

Bianca também chamou atenção para a discrepância entre o crescimento econômico e os rendimentos dos trabalhadores. De acordo com ela, mais da metade dos brasileiros vive com renda mensal inferior a R$ 1.850, enquanto o salário ideal calculado pelo Dieese para suprir as necessidades básicas de uma família gira em torno de R$ 7.300.

Crescimento econômico sem desenvolvimento

Os especialistas destacaram ainda que o atual modelo de crescimento — baseado na expansão do agronegócio e na contenção dos gastos públicos — não resolve os problemas estruturais do país. O novo arcabouço fiscal limita os investimentos públicos, prejudicando áreas fundamentais como infraestrutura, reindustrialização e políticas sociais.

“Crescimento não é sinônimo de desenvolvimento. Sem política industrial, tecnológica e ambiental, o Brasil corre o risco de crescer sem melhorar a vida de sua população”, alertou Belluzzo.

FMI revisa projeções e reforça contraste

Na mesma semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima a previsão de crescimento da economia brasileira em 2025, elevando-a para 2,3%. No entanto, os especialistas foram unânimes em afirmar que a euforia com os números não deve ofuscar a realidade vivida pela maioria dos brasileiros.

Percepção da população continua negativa

Apesar do crescimento do PIB, uma pesquisa da consultoria Quest revelou que 48% dos brasileiros ainda têm uma percepção negativa da economia. Entre os que ganham até dois salários mínimos, a maioria afirma que a vida não melhorou nos últimos dois anos — um sinal de que os frutos do crescimento não estão sendo sentidos pela base da pirâmide social.

 Crescimento desequilibrado e risco de estagnação social

O desempenho positivo do PIB brasileiro no início de 2025, embora relevante do ponto de vista macroeconômico, expõe fragilidades estruturais e limitações sociais. Sem um projeto robusto de reindustrialização, investimentos públicos estratégicos e políticas que garantam inclusão e qualidade de vida, o crescimento tende a se concentrar em poucos setores e beneficiar apenas uma parcela restrita da população.

Como resumiu a economista Conceição Tavares: “O povo não come PIB”.

Se desejar, posso complementar este conteúdo com gráficos sobre a evolução da participação da indústria no PIB, tabelas com dados de renda média ou uma linha do tempo da desindustrialização no Brasil. Deseja incluir isso?

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