Trancistas celebram reconhecimento inédito da profissão; veja o que muda

Uma conquista histórica marca um novo capítulo na trajetória de milhares de mulheres negras: a profissão de trancista agora é oficialmente reconhecida pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 5161-65.Na CBO, também é possível encontrar a nomenclatura “artesão capilar”, “profissional das tranças” ou “trançadeiro capilar”. Esse avanço também representa impulso para um setor que já movimenta bilhões de reais, principalmente com o fortalecimento da estética afro e da valorização da identidade negra.Denise Melo, trancista engajada na luta pela formalização, destaca outro reconhecimento importante: “O mais urgente é o reconhecimento do valor cultural, histórico e identitário das tranças. O nosso saber não veio de uma sala de aula tradicional, ele vem de gerações, da oralidade, da vivência nas periferias, da ancestralidade africana que resiste em cada fio trançado”.

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Para ela, educar também é valorizar: É necessário investir em formação, acesso a políticas públicas, espaços de visibilidade e incentivo ao empreendedorismo negro, porque muitas de nós começamos com pouco ou nenhum apoio, apenas com coragem, talento e força de vontade”.Profissão ganha forçaSem a oficialização, torna-se trancista talvez não seja a primeira opção de várias mulheres. Mesmo assim, as vivências do desenvolvimento da profissão são maiores que o título.“Percebi que poderia viver do meu trabalho quando comecei a ver as clientes voltando, indicando, chorando de emoção ao se verem no espelho. Era mais do que um penteado, era autoestima, cura, ancestralidade. A partir daí, entendi que trançar era minha missão. E não só vivo disso, como hoje emprego outras mulheres, formo novas profissionais e sigo lutando pelo reconhecimento de todas nós”, relata Denise.A trancista destaca a luta da vereadora Ireuda Silva (Republicanos), que foi crucial para a causa: “Ela foi até Brasília, conversou diretamente com o Ministro do Trabalho e defendeu com firmeza a regulamentação da nossa profissão. Isso foi um divisor de águas. Ver uma mulher preta em posição de poder nos representando e abrindo caminhos foi extremamente inspirador”.

Trancistas são oficializadas como profissionais

|  Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Enraizada na ancestralidade, o aprendizado das técnicas de fazer tranças geralmente vem de casa. Taiana Louise, dona do salão Toda Trançada, conta que sua maior motivação foi sua mãe: “Aprendi a trançar desde os 10 anos, trançava o cabelo de uma vizinha que morava com o pai. Quando cresci, me especializei na área. Minha maior motivação foi minha mãe”.Para a trancista, o reconhecimento da profissão é motivo de muita alegria; “Representa muita felicidade e luta, hoje com muito orgulho posso falar que sou profissional e regulamentada, antes eu era vista simplesmente como um bico ou desocupada”.Trançar é ato de afetoTrançar não é só um serviço, é um ato de afeto, especialmente dentro da comunidade negra. Para Taiana, o valor desse trabalho vai muito além do que pode ser cobrado: “Mais do que uma fonte de renda, as tranças são uma conexão com minha história, com minhas raízes, com a cultura e a ancestralidade. Cada trança carrega uma história, um significado. Para minhas clientes, as tranças são uma forma de se sentirem representadas, empoderadas, bonitas e conectadas com sua própria identidade”.O reconhecimento abre muitas portas, especialmente a possibilidade de acesso a cursos de formação e certificados, formalização de negócios, a emissão de notas fiscais e permite contribuições à Previdência Social e ao MEI.A trancista Taiana ressalta, ainda, que essas oportunidades podem não somente ajudá-la, mas abrir portas para outras mulheres: “É importante a oferta de cursos para que possamos trabalhar de forma segura, profissional e com mais dignidade. Também acredito que é fundamental a conscientização da sociedade sobre o valor cultural, histórico e econômico do nosso trabalho, para que o respeito e a valorização sejam constantes, não apenas uma conquista no papel”.*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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