
Encontro ocorreu na manhã desta sexta-feira (6), em Rio Branco, no dia em que o Morhan comemora 44 anos, discutiu formas de atendimento a pacientes e importância da atuação da Atenção Primária à Saúde no combate à doença. Representantes da Sesacre e Morhan discutiram ações para descentralizar atendimentos de hansenianos
Júnior Andrade/Rede Amazônica
O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesacre) se reuniram na manhã desta sexta-feira (6), na sede do Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) para discutir a descentralização dos atendimentos médicos para pessoas acometidas pela doença no Acre. Nesta sexta, inclusive, celebra-se os 44 anos de existência do movimento.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Bil Souza, diretor executivo do Morhan, explicou que o órgão faz um trabalho em todo o Brasil e a reunião desta sexta tratou-se de um diálogo, visto por ele como necessário para que as políticas públicas de saúde possam ser mais voltadas para as pessoas atingidas pela enfermidade.
“Essas pessoas ainda sofrem preconceito. Um diagnóstico tardio prejudica a vida da pessoa atingida pela doença. Quando recebe um diagnóstico precoce, a pessoa faz um tratamento conforme recomendação médica e depois da suspensão do medicamento, a pessoa volta à vida normal”, explicou ele.
LEIA MAIS:
Cerca de 1,5 mil pessoas no AC devem ser beneficiadas com pensão para vítimas da segregação por hanseníase em nova lei
No AC, mutilados pela hanseníase contam como eram ‘caçados’ devido à doença: ‘que nem bicho’
Acre tem oitava maior taxa de casos de hanseníase a cada 100 mil habitantes no país, diz Ministério da Saúde
Bil Souza, diretor executivo nacional do Morhan
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Bil frisou que um diagnóstico tardio vai trazer sequelas físicas e dores neurológicas. Por esse motivo, ele considera que seja importante a descentralização dos atendimentos.
“Essa conversa institucional, com o apoio do Tribunal de Contas do Estado, vai contribuir com essa luta, nessa conscientização dos poderes de saúde para organizar esse fluxo de atendimento, garantir o diagnóstico precoce para que não aconteça o que vem acontecendo ao longo dos anos”, destacou.
Preocupação
Elson Dias, coordenador estadual do Morhan, apoia descentralização do atendimento de hansenianos
Júnior Andrade/Rede Amazônica
O coordenador estadual do Morhan, Elson Dias, comentou que a parceria junto ao TCE visa buscar um cuidado com as pessoas acometidas pela hanseníase, não só em Rio Branco, mas em todo o estado.
Ainda segundo ele, crianças com 9 anos já foram diagnosticadas, o que acende um alerta já que há fonte próxima de transmissão. Por isso, ressalta a importância da busca ativa dos contactantes para saber onde é a fonte de contato.
“Nós temos jovens de 28 anos que [também] foram diagnosticados e perderam o seu trabalho, ficaram com sequelas e já estão na fila de cirurgia. Isso psicologicamente mexe muito com essas pessoas, que são jovens que tinham uma vida normal e agora eles estão reclusos em casas”, complementou.
O coordenador também pontuou que o diagnóstico no início da doença é o ideal para a qualidade de vida do enfermo.
“Se ela for tratada no início, de seis meses a um ano, essa pessoa vai ficar de alta sem ficar com sequelas. O que está faltando é busca ativa e que os próprios municípios assumam a sua parte e esse diagnóstico seja feito em qualquer centro de saúde, para que essas pessoas não tenham que vir para o centro de referência em busca de um diagnóstico que poderia ter sido feito lá na sua comunidade”, comentou.
Diagnóstico
A enfermeira Suilani Souza, representante da Sesacre na reunião, concorda com a importância do diagnóstico precoce da doença
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Suilani Souza, representante da Sesacre na reunião, informou que em 2024, foram confirmados 163 novos casos de hanseníase e em 2025 já há 53 registros. Ela frisou sobre a importância do debate acontecido nesta sexta, pois os acometidos pela hanseníase são uma população fragilizada, tanto psicologicamente quanto fisicamente.
“Esse debate é super importante por conta da necessidade que a gente tem de instituir políticas melhores no Estado. Sabemos que a maior parte das mazelas, das infecções, se concentram na capital. Em contrapartida, na capital temos os grandes centros e laboratórios e tem toda uma máquina para atender justamente na atenção especializada”, disse.
A enfermeira salientou que é importante que os profissionais de saúde estejam atentos, principalmente os médicos da atenção primária, para identificar os sintomas da doença logo nos primeiros atendimentos do paciente.
“Nossa luta é de descentralizar o atendimento para a atenção primária, porque a maioria dos pacientes estão chegando na atenção especializada já com algumas sequelas. Então, assim, por isso, por essa razão a gente precisa descentralizar e os médicos têm que estar atentos para diferenciar na questão do diagnóstico”, destacou.
Hanseníase no Acre foi discutida durante reunião desta sexta (6)
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Hanseníase
A hanseníase é uma doença crônica e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. No Brasil, são cerca de 28 mil casos por ano, conforme o Ministério da Saúde.
A principal característica da hanseníase é a alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, em especial em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes.
Suilani comentou que a doença se manifesta clinicamente através de manchas na pele, mas o diferencial para outras dermatoses, dermatites ou até alergias, é que na mancha a pessoa não sente sensação de calor, nem de gelado, perdendo a sensibilidade nessas manchas.
Janeiro Roxo alerta para tratamento e combate à hanseníase
Raiza Milhomem/Secretaria Estadual da Saúde
“Tem outros sinais, como formigamento nas mãos e nos pés, dores nas articulações, e isso pode confundir na hora do diagnóstico com outras doenças, então os médicos têm que estar atentos”, pontuou ela.
No passado, um dos tratamentos adotadas era o isolamento ou internação compulsório dos pacientes. Atualmente, o tratamento é feito sem a necessidade de internação, com uso de medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Janeiro Roxo: médico explica sobre a hanseníase, tratamento e estigmas
Doença no Acre
Em janeiro de 2024, o Acre teve a oitava maior taxa de casos de hanseníase a cada 100 mil habitantes no país, segundo boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde.
Com 16,26 casos a cada 100 mil habitantes, o índice colocou o Acre na quarta posição na região Norte, e acima da média nacional que foi de 9,67. O estado com maior taxa foi Mato Grosso, com 66,20 casos.
Em dezembro do ano passado, foi anunciado que mais de 1,5 mil ex-hansenianos e filhos de hansenianos, que sofreram com a segregação e separação por causa da doença no Acre, devem ser beneficiados por um novo decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O documento, regulamentou a Lei nº 11.520/2007, que concede pensão especial à pessoas atingidas pela hanseníase submetidas a isolamento e internações compulsórias até 31 de dezembro de 1986, e aumentou o grupo de beneficiados.
*Colaborou o repórter Júnior Andrade, da Rede Amazônica Acre.
Filhos de pessoas portadoras de Hanseníase recebem orientação sobre pensão vitalícia no AC
VÍDEOS: g1