A equipe econômica do governo federal estuda solicitar dividendos extraordinários da Petrobras (PETR4) para reforçar o caixa da União em 2025. Com um déficit primário previsto em R$ 96,6 bilhões, segundo a última estimativa do Ministério da Fazenda, e uma dívida pública bruta de R$ 7,95 trilhões (76,1% do PIB), o Executivo mira as estatais como fonte de alívio fiscal.
No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, o governo estimou R$ 55 bilhões em dividendos a serem pagos pela Petrobras ao longo do ano. Dessa quantia, R$ 14,6 bilhões iriam diretamente para os cofres da União, que detém 36,6% das ações ordinárias da companhia.
Preço do petróleo compromete projeções orçamentárias
A base para o cálculo orçamentário considerava o barril do petróleo Brent cotado a US$ 81, mas o cenário atual é menos otimista. Em junho de 2025, o Brent opera na faixa de US$ 66, queda de mais de 18% em relação ao valor previsto. Essa desvalorização reduz diretamente a geração de caixa da Petrobras e, por consequência, sua capacidade de distribuir lucros extraordinários.
A estatal já distribuiu R$ 0,91 por ação em dividendos referentes ao 1T25. A expectativa é que, com base no lucro projetado de R$ 93 bilhões para o ano, o dividend yield com proventos recorrentes fique entre 10,6% e 11%.
Cálculo de dividendos extraordinários: quanto mais o governo quiser, maior o impacto
Segundo estimativas do Bradesco BBI:
-
A cada US$ 1 bilhão em dividendos extraordinários, o dividend yield aumenta em 1,3 p.p.
-
Considerando o câmbio atual (US$ 1 = R$ 5,56), esse montante representa R$ 5,56 bilhões.
-
Dividido por 13 bilhões de ações em circulação, o impacto seria de aproximadamente R$ 0,43 por ação.
Se a Petrobras distribuir US$ 2 bilhões extras, os acionistas poderiam receber até R$ 0,86 adicionais por ação, elevando o dividend yield para mais de 12% no ano.
Projeção | Valor |
---|---|
Dividendos recorrentes esperados (2025) | R$ 3,14 por ação |
Yield estimado com recorrentes | 10,6% |
Lucro líquido estimado para 2025 | R$ 93 bilhões |
A cada US$ 1 bi em dividendos extras | R$ 0,43 por ação |
A cada US$ 2 bi em dividendos extras | R$ 0,86 por ação |
Preço-alvo segundo Genial | R$ 48 |
Margem de segurança projetada (ações a R$ 29) | ~76% |
A Genial Investimentos alertou que o pagamento de dividendos extraordinários pode ser positivo no curto prazo, mas representa riscos para o planejamento estratégico da estatal. Entre os pontos de atenção:
-
Comprometimento da capacidade de investimento em novos projetos, inclusive no pré-sal e na transição energética.
-
Aumento da percepção de risco regulatório, por possível interferência política nas decisões da empresa.
Ainda assim, a Genial manteve recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 48, enquanto as ações PETR4 estão cotadas abaixo de R$ 30, indicando potencial de valorização acima de 60%.
Histórico reforça expectativas: três proventos por trimestre
A Petrobras tem mantido consistência na política de remuneração:
-
Em 2022, 2023 e 2024, o 2º trimestre de cada ano contou com três proventos anunciados, entre dividendos e juros sobre capital próprio.
-
O balanço do 2T25 será divulgado em 7 de agosto, com potencial anúncio de novos dividendos no dia seguinte, 8 de agosto.
-
Dividendos extraordinários, quando anunciados, tendem a ocorrer no 2º semestre, aproveitando o fechamento fiscal anual.
Governo repete padrão de uso de estatais, mas mercado cobra responsabilidade
A estratégia do governo de recorrer aos lucros das estatais não é novidade. Tanto gestões anteriores quanto a atual já lançaram mão desse expediente. A diferença agora é o nível elevado da dívida pública e a queda na arrecadação, o que aumenta a urgência e o risco de interferência.
Excesso de distribuição pode reduzir a nota de crédito da Petrobras, impactar sua capacidade de captação no exterior e comprometer sua sustentabilidade em médio prazo, segundo especialistas ouvidos pela XP, Itaú BBA e Eleven Financial.
O post Governo pressiona Petrobras por dividendos extraordinários para cobrir rombo fiscal de até R$ 100 bilhões apareceu primeiro em O Petróleo.