Os filósofos estoicos diziam sobre o perigo de se preocupar com o que está além do nosso mando.
Os filósofos estoicos diziam sobre o perigo de se preocupar com o que está além do nosso mando, mas essa sabedoria raramente serena o coração. Sêneca disse: “Sofremos mais na imaginação do que na realidade”, e ainda assim a imaginação insiste em construir cenários de desgraça. Um pai teme pelo filho que sai à noite, um marido imagina a doença silenciosa na esposa, um amigo prevê o abandono. A vida, nessa perspectiva, é um longo adiar do inevitável. Até mesmo Epicuro, que pregava a busca pelo prazer, sabia que o temor da morte envenenava a existência.Nietzsche, por sua vez, via na capacidade de suportar o sofrimento a verdadeira medida da grandeza humana. “Tudo o que não me destrói me fortalece”, escreveu, mas e se a destruição for lenta, invisível, como a corrosão do tempo? A espera pelo pior é um fardo que muitos carregam em silêncio, não só a morte, mas uma doença, um acidente travante (neologismo, perdoe). Aí vai mais uma citação, mal citada por mim e corrija-se se estiver errada: “Tenho todos os sonhos do mundo, mas também os pesadelos (…)”, foi mais ou menos assim que falou o poeta Fernando Pessoa.Até mesmo o amor, tão celebrado como redenção, pode ser fonte de terror. Kierkegaard via no compromisso afetivo uma “doença mortal”, pois amar é se render à possibilidade da dor. Uma mãe que vigia o sono do filho não está apenas vendo uma criança, mas todas as desgraças que poderiam roubá-lo. A vida é sempre pensada demais e até parece uma armadilha, sabe-se lá quem a armou.
Os existencialistas, como Sartre, lembravam que estamos condenados à liberdade, e com ela, à responsabilidade de escolher sob o peso da incerteza.
“O inferno são os outros”, disse. Camus afirmou que “o único problema filosófico verdadeiramente sério é o suicídio”, pois a vida, em sua absurdidade, nos confronta com o vazio. E ainda assim, seguimos.Será que a resposta mora não na negação do medo, mas na aceitação de sua inutilidade? O poeta Mário Quintana caçoou: “A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa”. Se o pior nunca chegar, teremos sofrido à toa; se chegar, o sofrimento antecipado não o terá impedido. Montaigne sugeria que “quem teme sofrer já sofre com o que teme”.Só nos resta, entre tantos temores, o espaço para um inesperado alegre. O receio do futuro aqui, ali, lá, nos condena. Quando é que o pior deixa de vir? Estou cansado de perder colegas, amigos, amadas e parentes. Vamos ao futuro, então. O que Espinosa diria? Levanta-te e fala, Santo Agostinho!*Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista, autor dos livros “Baianidade” e “Histórias da Avenida Sete de Setembro”, dentre outros.