O mercado financeiro vive uma semana decisiva, marcada pela chamada Super Quarta, quando o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil anunciam suas decisões sobre as taxas de juros. A tensão se agrava com a crise fiscal brasileira, impulsionada pela polêmica Medida Provisória dos impostos, que o Congresso ameaça derrubar.
Cenário internacional: Fed deve manter juros, mas inflação preocupa
O mercado aposta em manutenção dos juros norte-americanos na faixa de 5,25% a 5,50%. Porém, o otimismo com eventuais cortes no segundo semestre perdeu força.
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, a inflação nos EUA deve voltar a subir no segundo semestre, pressionada pelas tarifas comerciais impostas recentemente. Isso ocorre porque, antes da vigência dessas tarifas, empresas norte-americanas anteciparam importações, retardando o repasse inflacionário.
Expectativa do mercado americano
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Manutenção dos juros em junho e julho: cerca de 100% de chance.
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Corte de juros?: cada vez mais improvável antes de dezembro.
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Inflação futura pressionada: impacto das tarifas começa a ser sentido no segundo semestre.
O Fed, portanto, tende a adotar uma postura cautelosa e conservadora, priorizando o combate à inflação e ignorando, por enquanto, pressões políticas por cortes de juros.
Brasil: risco de alta na Selic volta ao radar
O mercado financeiro brasileiro, que acreditava no fim do ciclo de alta da Selic, agora vê risco real de novo aperto monetário.
Probabilidade de alta na Selic:
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Até maio: chance de manutenção era dominante.
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Atualmente: cerca de 60% de chance de alta de 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 14,75% ao ano.
Motivos que pressionam a Selic:
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Inflação desancorada para 2025 e 2026.
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Crescimento econômico acima do esperado.
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Incertezas fiscais crescentes, especialmente após a edição da MP dos impostos.
O Banco Central deve adotar tom mais duro, mesmo que opte por manter os juros, indicando Selic elevada por mais tempo, possivelmente até o final do primeiro trimestre de 2026.
Crise fiscal no Brasil: MP dos impostos gera caos
O governo recuou de parte do aumento do IOF, após forte reação negativa de empresários, parlamentares e mercado. Para compensar a perda de arrecadação, propôs:
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Taxação de 5% sobre LCI, LCA, CRIs e CRAs emitidos a partir de 2026.
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Fim da isenção para cotas de novos FIIs e Fiagros emitidos também a partir de 2026.
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Aumento na CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
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Mudanças no JCP (Juros sobre Capital Próprio).
O problema é que o Congresso ameaça derrubar toda a MP via Projeto de Decreto Legislativo (PDL), o que geraria um efeito colateral grave: o retorno do IOF aos níveis anteriores, mais altos, recriando outro problema fiscal.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, e o relator Hugo Motta, já declararam publicamente que o “clima é desfavorável para aumento de impostos”.
Riscos e consequências
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Risco fiscal elevado: aumento da percepção de descontrole nas contas públicas.
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Impacto nos investimentos: incerteza sobre a tributação de FIIs, Fiagros, LCIs e LCAs gera fuga de investidores e pressiona ativos.
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Selic mais alta por mais tempo: encarece crédito, desestimula consumo e investimento produtivo.
Impacto no mercado financeiro
O IFIX, índice dos fundos imobiliários, caiu 0,88% na última semana, refletindo:
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Ruídos fiscais.
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Aversão ao risco com o cenário externo, especialmente o Oriente Médio.
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Incerteza sobre a taxação de fundos a partir de 2026.
Mesmo assim, o IFIX acumula alta de 9,71% no ano, sustentado por uma busca por ativos que oferecem renda mensal, apesar da alta da Selic.
Oriente Médio: tensão geopolítica no radar
O aumento nos preços do petróleo, que subiu de US$ 65 para US$ 70, ainda não gerou impacto direto nas decisões dos bancos centrais. O risco maior está na possibilidade de o Irã bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa 21% do petróleo mundial.
Se o conflito se intensificar, os efeitos podem ser:
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Pressão sobre a inflação global.
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Aumento dos juros em vários países.
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Fuga de capitais de mercados emergentes, como o Brasil.
O que observar nos próximos dias
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Quarta-feira (Super Quarta): decisão do Fed às 15h e coletiva de imprensa às 15h30. No Brasil, decisão do Copom sai às 18h30.
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Relatório Focus: mostra expectativas de inflação ainda desancoradas para 2025 e 2026.
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Debates no Congresso: risco de queda da MP dos impostos e retorno de alíquotas antigas de IOF.
A semana é decisiva para o rumo da economia brasileira e dos mercados globais. Investidores devem acompanhar de perto tanto a Super Quarta quanto a crise fiscal no Brasil, que podem redefinir o cenário para juros, câmbio, inflação e até para os investimentos em renda fixa e fundos imobiliários.
O post Super Quarta: alta de juros, crise fiscal e risco para investidores no Brasil e EUA apareceu primeiro em O Petróleo.