PF encontra PowerPoint no celular de auxiliar de Braga Netto com plano de pressão no 7 de Setembro


Documentos apreendidos pela PF revelam que o governo Bolsonaro via o 7 de setembro como “um ponto de decisão e de inflexão” e articulava com militares cenários de pressão sobre outros Poderes. Powerpoint encontrado no celular do auxiliar do general Braga Netto, Flávio Peregrino
Documentos obtidos pela reportagem
Mensagens encontradas nos celulares do ex-ministro da Defesa Braga Netto e de seu auxiliar, o coronel Flávio Peregrino, revelam “mecanismos de pressão” articulados pelo governo Bolsonaro às vésperas do 7 de setembro de 2021. A análise consta de relatório da Polícia Federal.
Naquele ano, o então presidente Jair Bolsonaro escalou a crise com o Supremo Tribunal Federal (STF), fazia ameaças públicas a ministros e caminhoneiros chegaram a romper bloqueios da Polícia Militar, invadindo a Praça dos Três Poderes, em Brasília.
As mensagens foram interceptadas em novembro de 2024, durante uma operação da PF que teve Braga Netto e Flávio Peregrino como alvos, por suspeita de obstrução de Justiça.
Em duas delas, Peregrino compartilha apresentações em PowerPoint sobre a atuação do Ministério da Defesa — comandado por Braga Netto — nas comemorações do 7 de setembro.
O primeiro documento trata da “guerra de narrativas”. Segundo ele, entre os “canais bolsonaristas”, a mensagem seria a de que Bolsonaro teve “apoio incondicional” das Forças Armadas para que o povo tivesse “liberdade para celebrar a nossa segunda independência”. Já na grande mídia, a estratégia era transmitir que o Ministério da Defesa via o feriado como uma celebração “em paz e harmonia”.
Powerpoint encontrado no celular do auxiliar do general Braga Netto, Flávio Peregrino
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O segundo PowerPoint, mais contundente, classifica o momento como “um ponto de decisão e de inflexão para o governo”. O material ainda projeta reflexos na eleição de 2022 e traça três cenários possíveis após as manifestações: “desescalar” sem desmobilizar, reação com medidas restritivas por parte da oposição e uso da GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Powerpoint encontrado no celular do auxiliar do general Braga Netto, Flávio Peregrino
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O slide sobre a GLO detalha a possibilidade de convulsão social, com confronto entre PMs e Forças Armadas, distúrbios em Brasília, Rio e São Paulo, além do acionamento das Forças por outros Poderes.
“O possível cenário que tangenciava a instituição da Garantia da Lei e da Ordem, especificamente quanto ao acionamento das FA [Forças Armadas] por outros poderes chegou próximo à sua concretização”, ressalta a PF em seu relatório.
Powerpoint encontrado no celular do auxiliar do general Braga Netto, Flávio Peregrino
Documentos obtidos pela reportagem
A PF menciona uma reportagem do jornal O Globo segundo a qual o então presidente do STF, Luiz Fux, teria dito que pediria GLO se manifestantes ameaçassem o prédio da Corte.
O 7 de setembro de 2021 marcou uma escalada na crise entre Bolsonaro e o STF. O ex-presidente ameaçou ministros, disse que não cumpriria mais decisões de Alexandre de Moraes e falou em reunião do Conselho da República — passo necessário para decretação de estado de sítio.
Na véspera, caminhoneiros ocuparam a Esplanada. Em determinado momento, romperam o bloqueio policial e chegaram à Praça dos Três Poderes.
Dias depois, Bolsonaro adota uma postura conciliatória.. Com mediação de Michel Temer, ele publica uma carta baixando a temperatura da crise.
A trégua causou frustração em aliados próximos, como Braga Netto e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Em conversa com Cid, Braga diz que agora “podemos virar a mesa” porque Bolsonaro “fez tudo para apaziguar”. E vai além: “Se não cumprirem, ele abre o jogo e viramos com ele. Os Cmts [comandantes] estão cientes.”
A análise das mensagens, segundo a PF, revela que nos dias anteriores e posteriores ao 7 de setembro “indicam os mecanismos de pressão, as intenções e o cenário politico daquele momento”.
Em outro diálogo, de 6 de agosto de 2021, Braga Netto envia a Cid uma foto do golpe de 1964 e a classifica como “histórica”. Na sequência, escreve: “Não manda para o 01, mas pode mostrar” — numa provável referência a Bolsonaro.
Mensagens encontradas no celular do general Braga Netto
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