Imagem feita pelo Google Maps através de satélite, em 2025
| Foto: Reprodução Google Maps
“A gente já tinha notado que estava tendo uma movimentação de máquina, só que acreditávamos que seria de outros campos de obra que estão tendo próximos dali”, denunciou, sob anonimato, um morador de um dos condomínios de Piatã.Ele acrescentou: “Estão construindo dois condomínios de prédio [Piatã]. Na semana passada, eles começaram a planear uma região que fica um pouco mais atrás da visão que a gente tem de casa. Mas, a partir do momento que eles começaram a avançar um pouco mais para cá, realmente fica mais visível, tanto para o Senai, quanto para a gente do condomínio”.
Ainda segundo o rapaz, o desmatamento tem acontecido de forma rápida e sem a interferência de nenhum órgão público de proteção ambiental. Em uma semana, a fonte diz ter notado vários pontos de ‘clarão’.
“Estão avançando muito rápido, muito rápido mesmo. Tipo, da semana passada para cá, eles já destruíram um morro inteiro aqui, já estão partindo para o próximo. A gente não esperava que fosse acontecer, não esperava que fosse tão rápido assim. Do nada, de um dia para o outro, eles já destruíram grande parte aqui do que a gente tinha”, completou ele, afirmando que mora na região há 20 anos.Uma imagem aérea do Google Maps, feita este ano por meio de satélite, mostra a mata ainda bastante preservada, com apenas alguns pontos de desmatamento. Não foi possível constatar o mês exato em que foi realizado o levantamento dos dados.
| Foto: Imagens leitor
Visita ao terreno na ParalelaLogo após receber a denúncia, o Portal A TARDE foi até a localidade, na tarde da última sexta-feira, dia 13, para confirmar os fatos. Por quase meia hora, a equipe de reportagem tentou entrar por uma estrada que fica na Rua Geraldo Del Rey, em Piatã, onde estão sendo construídos dois empreendimentos, mas não conseguiu. Só foi possível acessar o espaço uma hora depois, pela Avenida Paralela, através de uma estrada de asfalto que corta toda a extensão da mata.
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
Não havia nenhuma barreira que impedisse a entrada de qualquer pessoa. A demora para confirmar a localização exata do ponto da denúncia ocorreu devido à inexistência de placas públicas de identificação. Assim que a reportagem chegou ao local, que fica a poucos metros de um templo religioso,foi possível notar um imenso ponto de clarão, visível até mesmo por quem passa de veículo ou andando pela Avenida Paralela. Ao entrar, o desmatamento se revelou ainda maior, com diversas áreas sem cobertura vegetal. Enquanto a equipe esteve na mata, não foram observadas máquinas nem trabalhadores no local.
Acesso pela Avenida Paralela
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
Também não foram encontradas placas que indicassem o que será construído na área, tampouco informações sobre liberação e/ou autorização por parte de órgãos ambientais para o desmatamento. Na terça-feira, dia 17, a equipe retornou ao local, pela manhã, para tentar conversar com os trabalhadores, mas já encontrou o acesso fechado com uma cerca de arame.Neste mesmo dia, foi feito um sobrevoo de drone, e o que foi verificado por meio das imagens aéreas era ainda pior do que o registrado na sexta-feira, primeira vez em que o Portal A TARDE esteve no local. Assim como na primeira visita, não havia a presença de homens nem de máquinas.
Acesso pela Rua Geraldo Del Rey, em Piatã
| Foto: Imagens leitor
“A gente não ficou sabendo o que será construído. Eles só chegaram aqui com o maquinário pesado mesmo e foram desmatando. Um tempo atrás, um cara, tentou também fazer isso. Ele chegou aqui desmatando tudo, derrubou uma boa parte. Tanto que hoje em dia tem menos árvores por conta desse outro evento que já teve”, lembrou o leitor, que denunciou o suposto crime ambiental.”Eles estão passando por cima de tudo. Já teve até alguns impactos aqui no condomínio, a gente sentiu um aumento do número de raposas que estão invadindo, estão abrindo mais os sacos de lixo, derrubando as lixeiras que ficam expostas fora da casa. A gente viu também um grande número de pássaros voando ao redor das máquinas. É horrível”, concluiu.O que diz o Senai CimatecNa quarta-feira, dia 18, a reportagem recebeu novas imagens do desmatamento e constatou que na área atrás do Senai Cimatec não havia mais nenhum resquício de Mata Atlântica. A assessoria de comunicação da instituição de ensino foi procurada e se manifestou por meio de nota.
Leitor registrou desmatamento já nos fundos do Senai Cimatec
| Foto: Imagens leitor
“Esclarecemos que a área mencionada não pertence à nossa instituição, tampouco está sob nossa responsabilidade ou gestão. Dessa forma, não dispomos de informações sobre as atividades que ali ocorrem. Reiteramos que a sustentabilidade, o diálogo com a comunidade e a defesa do meio ambiente são princípios que norteiam todas as nossas ações institucionais.”
Inema e Ministério Público se manifestamO Portal A TARDE também procurou o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e o Ministério Público do Estado (MP-BA) para saber se havia algum processo de fiscalização em andamento. No caso do MP, as fiscalizações são feitas através das Promotorias de Meio Ambiente e Urbanismo (CEAMA).
Por meio de nota, o Inema respondeu que, “após análise do nosso setor de fiscalização sobre o tema, informamos que não foi detectada nenhuma denúncia sobre esse desmatamento na localidade. O Inema reitera seu compromisso em realizar ações de fiscalização e de combate a atividades ilegais que colocam em risco os recursos naturais.”
(dir.) Imagem do Google Maps (esq.) um dos clarões registrados no Parque Ogum de Patamares
| Foto: Reprodução Google Maps/ Olga Leiria/ Ag. A TARDE
Ainda no documento o instituto reforçou a importância de a população denunciar atos como o que vem acontecendo no Parque Ogum de Patamares.”A participação da população é fundamental nesse processo, por meio da denúncia de atividades suspeitas, contribuindo diretamente para a preservação do meio ambiente. Para denunciar crimes ambientais, é possível entrar em contato com o Disque Denúncia do INEMA pelo número 08000 71 1400″, finalizou.Já a assessoria de comunicação do Ministério Público afirmou que existem investigações em andamento em algumas áreas da Avenida Paralela; no entanto, não soube informar se uma delas é referente ao Parque Ogum de Patamares. Ainda segundo o setor, uma resposta mais precisa só poderá ser dada após o feriado de Corpus Christi, nesta quinta-feira, dia 19.Confira fotos aéreas da área desmatada
| Foto: Imagens leitor
| Foto: Imagens leitor
| Foto: Imagens leitor
| Foto: Imagens leitor
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde
Imagens aéreas | Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde
| Foto: Raphael Muller/ Ag. A Tarde
| Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde
| Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde
| Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde
| Foto: Olga Leiria/ Ag. A Tarde