‘Copella Arnoldi’: conheça o peixe amazônico que põe ovos fora da água


Além da característica reprodutiva peculiar de desova, os machos são responsáveis por cuidar dos ovos até a eclosão. Copella arnoldi
Frédéric Meki – Edição Biótopo
Entre milhares de espécies de peixe que vivem nos rios da Amazônia, uma se destaca por um comportamento único: botar ovos fora da água. A fêmea do Copella arnoldi é o único peixe conhecido no Brasil que possui essa característica.
O g1 conversou com o biólogo e professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Fernando Dagosta, para entender esse comportamento do peixe.
Segundo ele, a espécie de água doce faz parte da família Lebiasinidae, mesma dos peixes ornamentais “peixe-lápis” e “zepellis”. Eles são encontrados exclusivamente na Amazônia, em território brasileiro e países vizinhos, como Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
“É uma espécie mundialmente reconhecida pelo seu comportamento reprodutivo único, que envolve uma impressionante coreografia entre macho e fêmea fora d’água”, explica Fernando.
Essa exclusividade toda faz parte de um peixe muito pequeno, que mede, em média, 5 centímetros quando adulto. Sua maturidade sexual ocorre quando ele é ainda é menor, com cerca de 1,8 cm.
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Curiosidades da reprodução
Durante o período reprodutivo do Copella arnoldi acontece um espetáculo da natureza: o casal se posiciona lado a lado e, em sincronia, salta para fora da água. O objetivo é fixar os ovos na parte inferior de folhas de plantas que estão acima do nível da água. Tudo isso em questão de segundos.
Fernando explica que essa maneira de procriação não é a única característica dessa espécie que chama atenção. Além da performance reprodutiva, os machos são territorialistas e assumem a missão de cuidar dos ovos.
“Após a desova, o macho fica responsável por manter os ovos úmidos. Ele fica batendo a cauda na água para jogar gotas sobre eles durante cerca de três dias”, conta Dagosta.
Esse comportamento inspirou o nome popular em inglês da espécie: Splash tetra, ou “peixe-pingador”, como é conhecido no Brasil. Segundo o especialista, essa estratégia peculiar surgiu por seleção natural.
A estratégia peculiar da desova não ocorre ao acaso. É uma forma de proteção bem planejada.
“Ao colocar os ovos fora da água, os pais reduzem a chance de que eles sejam devorados por predadores aquáticos. Apesar de exigir mais energia do macho, essa tática aumenta muito as chances de sobrevivência dos filhotinhos em ambientes com alta pressão de predação como são os rios da Amazônia”, explica.
No entanto, o cuidado parental para por aí. Quando os ovos eclodem, os embriões caem diretamente na água e iniciam a vida sozinhos, sem mais interferência dos pais. Um comportamento que, para Fernando Dagosta, resume bem a engenhosidade da natureza.
“À primeira vista, pode parecer estranho. Mas na prática, é uma adaptação evolutiva extremamente eficiente”.
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