Nos últimos dias, o título do Tesouro IPCA+ 2029 com juros de até 8% ao ano acima da inflação foi apontado por muitos como a “melhor oportunidade do ano” em renda fixa. Mas será que essa rentabilidade bruta realmente compensa quando colocada lado a lado com o Tesouro pré-fixado? Uma análise detalhada mostra que, na prática, a vantagem pode não ser tão grande quanto parece — e que o título pré-fixado pode, inclusive, se sair melhor em muitos cenários.
A comparação começa no Tesouro Direto
No momento da análise, o Tesouro IPCA+ 2029 oferecia 7,80% ao ano mais a variação da inflação. Já o Tesouro pré-fixado mais próximo, com vencimento em 2028, pagava 14,32% ao ano. Para determinar qual é mais vantajoso, é preciso considerar um fator fundamental: a inflação futura.
Qual inflação o IPCA+ precisa para empatar com o pré-fixado?
Por meio de uma simulação simples, mas eficaz, foi possível calcular qual seria a taxa de inflação anual média necessária para que o IPCA+ rendesse o mesmo que o pré-fixado: 6,05% ao ano durante três anos. Isso porque o retorno do IPCA+ é a soma da inflação + a taxa real de 7,80%.
Se a inflação anual for de 6,05%, ambos os títulos renderiam, ao final de três anos, aproximadamente 49,41%.
E o que o mercado realmente espera de inflação?
Segundo o último Boletim Focus do Banco Central:
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Para 2025: inflação projetada de 5,65%
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Para 2026: 4,5%
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Para 2027: 4%
Com essas projeções, o rendimento acumulado do Tesouro IPCA+ cairia para 43,84% em três anos — bem abaixo dos 49,41% prometidos pelo pré-fixado. Isso representa uma diferença significativa de 5,6 pontos percentuais a favor do pré-fixado.
E se a inflação for muito maior que o previsto?
A simulação também considerou um cenário pessimista: inflação de 6,5% em 2026 e 7% em 2027. Ainda assim, o IPCA+ superaria o pré-fixado por apenas 1,40% (50,82% contra 49,41%).
Ou seja, mesmo em um cenário inflacionário pior do que o previsto, o IPCA+ só se destaca marginalmente. Para realmente compensar, a inflação teria que explodir — e ainda assim, o ganho seria pequeno frente ao risco de errar nas projeções.
E se a inflação for ainda menor?
Agora imagine o cenário oposto: o Brasil melhora fiscalmente e as metas do Banco Central são atingidas. Com inflação de 4% em 2026 e 3,5% em 2027, o IPCA+ renderia apenas 42,46%, reforçando ainda mais a vantagem do pré-fixado.
O erro comum: olhar só para a taxa de 8%
Muitos investidores se deixam levar pelo número “IPCA+8%” e consideram que estão fazendo um ótimo negócio, sem levar em conta o cenário inflacionário necessário para que esse rendimento seja de fato vantajoso.
É aí que entra o diferencial do pré-fixado: ele já entrega exatamente o que promete, sem depender da inflação.
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