Após derrota no IOF, Lula reforça discurso de proteção a mais pobres e cobrança de mais impostos dos ricos


Para presidente, parte da oposição se relaciona a projeto que amplia isenção do Imposto de Renda. Derrubada de decreto expõe fragilidade da base de apoio do governo no Congresso. Após ver o Congresso derrubar a alta do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou um evento sobre reforma agrária para reforçar o discurso de proteção aos mais pobres e defender a cobrança de mais impostos de pessoas ricas.
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Lula esteve nesta sexta-feira (27) em Araguatins, no Tocantins, e voltou a se apresentar como um presidente que dá prioridade aos trabalhadores brasileiros.
“Eu não sou o presidente dos pobres. Eu sou vocês na Presidência da República”, discursou.
“Eu governo esse país para todo mundo, mas eu tenho um lado, e o meu lado é o do povo trabalhador desse país, o meu lado são os professores desse país, o meu lado é o povo, o meu lado é a classe média desse país que é quem paga Imposto de Renda. É por isso que eles não gostam”, acrescentou Lula.
Presidente participou nesta sexta-feira (27) de evento no Tocantins.
Cláudio Kbene/PR
Segundo o presidente, muitas pessoas não o aprovam porque ele enviou ao Congresso o projeto de lei que isenta de IR quem recebe até R$ 5 mil mensais. O governo propôs compensar a perda de arrecadação com a cobrança de um imposto mínimo sobre as rendas mais altas.
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“Eles não querem pagar porque quem paga imposto é quem trabalha e recebe o contracheque no final do mês, que é descontado na fonte”, disse Lula.
Derrota expõe fragilidade
O presidente fez o discurso dois dias após Câmara e Senado aprovarem uma proposta que barrou a alta na alíquota do IOF definida por Lula em um decreto. O Planalto, agora, avalia questionar o ato no Supremo Tribunal Federal (STF).
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Foi umas das principais derrotas de Lula neste terceiro mandato e escancarou a fragilidade da base parlamentar e os descontentamentos com o governo, inclusive dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Ministros e aliados de Lula argumentam que o aumento do IOF não tinha viés somente arrecadatório. Além de garantir a meta fiscal, a medida estaria em um conjunto de ações de “justiça tributária”, termo que o governo adotou nas redes sociais e em entrevistas para apresentar suas propostas.
Na semana passada, Lula defendeu o aumento do IOF, em entrevista ao rapper Mano Brown e à jornalista Semayat Oliveira, com o objetivo de evitar novos bloqueios no orçamento, reduzindo investimentos em saúde, educação e outras áreas
“Essa briga nós temos que fazer, não dá para a gente ceder toda hora. Essa briga temos que fazer”, disse Lula na ocasião.
Auxiliares do presidente afirmam que ele insistirá no discurso de defesa dos mais pobres e da tentativa de promover “justiça tributária”. A estratégia visa a recuperação da popularidade de Lula e mira as eleições de 2026, quando o petista pode tentar um quarto mandato.
Parlamentares reclamam que o governo tenta repassar ao Congresso a imagem de que deputados e senadores são contrários à cobrança de mais impostos de pessoas ricas e adotam medidas que aumentam o custo de vida, a exemplo da derrubada de vetos presidenciais que tornarão a conta de luz mais cara.
Mesmo ciente das reclamações, o presidente não pretende recuar no discurso de justiça tributária, mas acredita que será possível melhorar a relação com Motta, Alcolumbre e a base no geral.
Lula conta com o apoio dos dois para aprovar o projeto que aumenta a faixa de isenção de IR a tempo de ter as regras em vigor em 2026.
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