Naufrágio em Suape: médico que pilotava veleiro e noiva que morreu afogada se separaram após duas horas nadando juntos, diz advogado


Segundo Ademar Rigueira, Seráfico Junior perdeu contato com Maria Eduarda Medeiros depois que onda forte os jogou contra um paredão de rochas. Corpo de advogada foi achado três dias após acidente. Advogado de médico que pilotava veleiro que naufragou em Suape dá detalhes de como foi o acidente
A defesa do médico Seráfico Pereira Cabral Junior, de 55 anos, que pilotava o veleiro que naufragou há uma semana na praia de Suape, no Grande Recife, disse que o urologista se separou da noiva, Maria Eduarda Carvalho de Medeiros, depois que uma onda forte os jogou contra um paredão de pedras (veja vídeo acima). A advogada de 38 anos foi achada morta três dias após o acidente.
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Além do casal, estava a bordo a cadela de estimação da vítima, Belinha. O médico foi resgatado depois de nadar por três horas até a costa e pedir ajuda (relembre o caso abaixo). Segundo o advogado Ademar Rigueira, Seráfico estava segurando Belinha, mas acabou soltando o animal após os três serem atingidos pela onda.
“Ele seguiu com ela, ele com o cachorrinho nadando, ela ao lado o tempo todo. Eles chegaram bem nas pedras. Mais de duas horas nadando, mas chegaram bem, conversando, inclusive, festejando porque chegaram nas pedras. Mas o mar jogou ele violentamente nas pedras, com o cachorro, e ele não conseguiu mais contato com ela”, contou o advogado.
De acordo com o advogado, o veleiro pertenceu à família do médico por mais de 30 anos, mas foi doado ao condomínio onde ele tem um flat na praia de Muro Alto. O passeio começou na marina do residencial e seguiu pelo mar por dentro de uma área protegida por arrecifes até a foz do Rio Ipojuca, bem próximo ao Porto de Suape.
O urologista tentou conduzir o barco de volta, mas o vento puxou a embarcação para mais perto do rio e o veleiro foi arrastado pela correnteza, segundo Ademar Rigueira.
“Bateu numa pedra, o barco virou, eles conseguiram ainda se segurar no barco, conseguiram colocar o cachorrinho em cima do casco. E aí a maré levou eles para dentro do mar […]. Vão segurando o barco até naufragar. Seráfico tem uma experiência náutica grande e disse a ela: ‘não vamos nadar agora, vamos deixar a correnteza levar a gente’. Entraram no mar bastante até a correnteza parar e eles foram acompanhando o ritmo das ondas”, afirmou.
Após duas horas de nado, conseguiram chegar perto dos arrecifes, a alguns metros de onde o barco tinha naufragado.
“Até o paredão do porto, eles estavam conversando, o tempo todo ele orientando ela, o tempo todo ela preocupada com a cachorrinha. […] Ele só solta a cachorra depois da pancada [no paredão, após ser arrastado pelas ondas]. Eles estavam muito cansados, lógico, mas estavam bem”, disse Rigueira.
Praia de Muro Alto, em Ipojuca, no Grande Recife
Reprodução/TV Globo
Sem habilitação e coletes salva-vidas
Os detalhes sobre o acidente foram divulgados durante entrevista coletiva no escritório do advogado na sexta-feira (27). Segundo Ademar Rigueira, o médico não tinha habilitação para pilotar, mas o tipo de embarcação, um monocasco com vela bermudiana, não exige habilitação, pois não tem motor.
Apesar da obrigatoriedade do uso do colete salva-vidas, não havia esse equipamento de segurança na embarcação que naufragou.
“Colete é obrigado para toda embarcação, mas não tinha. Logicamente, a gente tem essa cobrança depois que os fatos acontecem, como uma tragédia dessa que aconteceu, mas naquela região ninguém usa colete”, declarou.
Após ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros, Seráfico foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ipojuca. Depois, ficou internado num hospital particular, onde recebeu alta na sexta (27). Na quarta (25), policiais cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa do urologista, no Recife. Ele ainda não prestou depoimento à polícia.
De acordo com o advogado, o médico, que tinha pedido a advogada em casamento pouco antes do naufrágio, está “completamente abalado” desde que o acidente aconteceu.
“Eles já vinham num relacionamento. Ele já tinha tido um relacionamento anterior, ele tem 55 anos. Ele disse que uma das coisas que ela queria muito era ter um filho. Ele já tinha filhos. E ele tinha concordado com isso. Ele disse: ‘nunca imaginei que, depois dos 55 anos, eu ia aceitar ter outro filho. E aí ele concordou com isso. Eles estavam muito felizes. E ele pediu ela em casamento”, afirmou Ademar Rigueira.
Advogado de médico que pilotava veleiro fala sobre acidente que causou morte de advogada
Cronologia do acidente
Na coletiva de imprensa, Ademar Rigueira apresentou uma cronologia do acidente, com os horários detalhados dos principais momentos do naufrágio do veleiro. Confira a seguir:
17h08: entra o chamado de barco à deriva no Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods);
17h20: confirmação de barco à deriva a 1 km da costa;
17h56: coordenação do Ciods consegue contato com a Capitania dos Portos de Pernambuco;
19h17: médico é resgatado na guarita de Suape;
20h54: confirmação do naufrágio.
VÍDEO: advogada filmou passeio no mar com noivo e cadela antes do acidente
Naufrágio em Suape
O acidente aconteceu na tarde do sábado (21), na praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho.
A Praia de Suape é a última orla marítima do Cabo de Santo Agostinho antes do Complexo Portuário de Suape, em Ipojuca.
Segundo testemunhas, Maria Eduarda estava no barco com o namorado e a cadela quando a embarcação virou. A advogada e o animal de estimação ficaram perdidos no mar.
O médico Serafico Pereira Cabral Junior, de 55 anos, foi resgatado pelos bombeiros na costa e levado à UPA de Ipojuca, município vizinho ao Cabo.
De acordo com a prefeitura de Ipojuca, ele relatou às autoridades que nadou por três horas até à costa, onde conseguiu pedir ajuda.
O trabalho de buscas na região começou ainda na tarde do sábado (21).
As operações foram retomadas no domingo (22) e na segunda (23) e seguiam o dia inteiro, sendo suspensas no fim da tarde por causa da falta de visibilidade à noite.
O corpo de Maria Eduarda foi encontrado na manhã da terça-feira (24), quarto dia de buscas.
A Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia de Porto de Galinhas.
A Marinha do Brasil também instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias e causas do naufrágio, buscando esclarecer se houve falha humana, técnica ou condições adversas de navegação.
A Justiça negou permissão à família para cremar o corpo da advogada.
Segundo a juíza Danielle Christine Silva Melo Burichel alegou que a declaração de óbito emitida pelo Instituto de Medicina Legal (IML) não substitui o laudo pericial tanatoscópico, que vai trazer detalhes das análises da perícia e as conclusões técnicas sobre a causa da morte.
Maria Eduarda Medeiros e Belinha, advogada e cadela de estimação que desapareceram no mar após acidente de barco na praia de Suape, no Grande Recife
Acervo pessoal
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