Carta de adeus do marido de Ney Matogrosso, morto pelo HIV, é revelada

O filme Homem com H, que revisita a carreira de Ney Matogrosso, reacendeu o interesse por histórias íntimas do artista, em especial, as que marcaram profundamente sua vida fora dos palcos.Entre elas, está a dolorosa despedida do médico Marco de Maria, um de seus grandes amores, vítima da Aids aos 32 anos.O relacionamento dos dois começou ainda nos anos 1980 e resistiu ao tempo, mesmo após o término oficial. Ney e Marco mantiveram uma relação de cumplicidade e afeto que permaneceu firme até o fim. Durante a crise do HIV, que devastou toda uma geração entre as décadas de 1980 e 1990, Ney acompanhou o ex-companheiro em sua batalha contra a doença.Em meio à fragilidade dos últimos dias, Marco deixou cartas que expõem com delicadeza sua saudade da vida e dos tempos em que a liberdade lhe parecia infinita. Os trechos foram resgatados pela biografia Matogrosso — A Biografia (Companhia das Letras) e revelam um homem que, mesmo diante do fim, ainda se emocionava ao recordar pequenas alegrias.

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“Saudade do tempo em que eu era possibilidade, o mar era possibilidade, minhas fantasias eram possibilidade, e eu era livre. Agora vejo a amendoeira, não mais a que eu subia, mas uma amendoeira onde não posso subir e construir cabanas. Vejo um mar tão longe de mim e das minhas corajosas investidas de golfinho”, escreveu Marco, já bastante debilitado.A última noite do marido de Ney MatogrossoNa madrugada de 16 de fevereiro de 1993, após resistir a três paradas cardiorrespiratórias, Marco recebeu o adeus de Ney.O cantor deitou-se ao seu lado e murmurou, suavemente: “Marco, chega. Não se esforce mais. Você já sofreu muito. O amor da gente continua”. Marco, mesmo fraco, conseguiu fazer um leve movimento de cabeça, sinalizando que entendia.Nos escritos deixados por Marco, ele também lembrou com ternura de momentos recentes com Ney e o irmão, Mauro, em Praia Grande (SP). “Eu e meu amigo nadávamos e nadávamos, íamos longe nesse mar, éramos levados pelas correntezas e saíamos da água muito longe do lugar onde tínhamos entrado. Íamos os dois, um confiando na confiança do outro, um ancorando o outro”, relatou. “Que saudade da liberdade!”No dia seguinte à morte, o corpo do médico foi levado para São Paulo e cremado, atendendo seu último desejo. Marco, que chegou a ter 1,80 m, pesava pouco mais de 20 kg ao falecer.Em sua carta derradeira, deixou um retrato delicado do que lhe fazia falta: “Saudade de voltar para casa, fechar as janelas para os insetos não entrarem e dormir feliz. E amanhã cedo acordar para todas as possibilidades”.

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