Baile do Maestro Fred Dantas presta homenagem a Walmir Lima

Se hoje o sol brilha mais forte do que em qualquer outro dia na Bahia, nesta quinta-feira, 3, ele promete continuar brasileiro. O motivo é a celebração do Baile da Independência, que convida o público a dançar em homenagem à libertação do povo do Brasil. O evento acontece de forma gratuita no Campo Grande, a partir das 18h.O baile tem como principal atração a Orquestra Fred Dantas, regida pelo maestro Fred Dantas, que trará um repertório vibrante e eclético para embalar a noite do público.A cada edição, uma personalidade marcante da Bahia é homenageada nesse espetáculo, e este ano não foi diferente: a grande homenagem será ao sambista Walmir Lima, ícone da música baiana, cuja obra será revisitada com arranjos especiais.O próprio Walmir, hoje aos 94 anos e celebrando 70 de carreira, dará voz às suas canções no tributo. Entre as escolhidas para serem revisitadas com a roupagem clássica, estão Mudança da Ribeira, Santo Amaro é uma Flor, que foi gravada por Alcione, e a emblemática Ilha de Maré, considerada um hino afetivo do povo baiano.A pedido de Walmir, a Orquestra Fred Dantas recuperou também um samba-enredo em homenagem a Jorge Amado, que Walmir fez nos anos 1960 para uma escola de samba do Tororó.“Ele disse que Jorge Amado, quando viu a escola cantando, chorou. Não existia partitura, não existia nada desse samba-enredo. Eu fiquei muito alegre de ter podido fazer essa arqueologia musical”, diz o maestro.Nos últimos dois anos, o evento homenageou, respectivamente, Muniz do Garcia e Guiga de Ogum. Ainda no ano passado, Fred Dantas se adiantou para garantir o tributo de 2025: prometeu a Walmir Lima que ele seria o próximo protagonista do Baile da Independência.“Eu disse que o próximo homenageado seria ele e Walmir respondeu: ‘vou fazer 94 anos’. Falei: ‘exatamente. Vamos comemorar os seus 94 anos’. Ele está firme, cantando, com um bom humor. Walmir costumava ser um cara chato de ensaiar, mas agora está mais legal”, brinca o maestro.Para o sambista, ter suas músicas revisitadas numa homenagem em pleno 2 de Julho é um momento especial. “Confirma essa coisa linda, esse respeito, porque é uma data que eleva e que considera tudo aquilo que aconteceu. (…) Eu recebi o convite com muita simplicidade, porque eu faço as obras, mas não me pertencem. As minhas composições pertencem ao público, aquele que segue, aquele que gosta. E eu posso dizer que eu me sinto muito feliz”, diz.

Baile do Maestro Fred Dantas

|  Foto: Divulgação | Secom PMS

Além da homenagem a Walmir Lima, o repertório trará uma diversidade já característica da Orquestra Fred Dantas, com participações especiais dos cantores Letícia Coutinho e Mário Bezerra. O público ouvirá desde um arranjo especial do Hino ao Dois de Julho para voz e orquestra popular até New Rules, da cantora anglo-albanesa Dua Lipa, em arranjo erudito.Clássicos populares baianos e novidades do axé trazem um Carnaval fora de época para o Baile, com Chame Gente, de Moraes Moreira, e o sucesso Energia de Gostosa, de Ivete Sangalo. Para o maestro, essa é uma maneira de trazer o público soteropolitano de todas as gerações para perto da música clássica, e continuar a fazer música para as pessoas da cidade é motivo de orgulho.“Eu tive vários ápices ao longo da vida, mas posso te garantir que fazer parte dessa engrenagem que se chama cultura da Bahia é a minha maior realização e eu estou no topo da montanha. Ver o meu nome impresso na programação oficial é ter o meu nome na engrenagem, e fazer parte dessa movimentação é uma realização que não tem preço. Eu acho que eu cheguei onde eu queria, porque eu me sentiria muito infeliz tendo que, para sobreviver como maestro, me mudar para outro lugar”.Corpo, alma e poesiaWalmir Lima nasceu em meio à música. Seu pai era maestro da Orquestra Bahia Serenaders e tocava nos principais clubes soteropolitanos, o que o fez absorver desde cedo da música popular e da erudita. O resultado foi a composição da primeira canção, Sem o seu amor, com apenas 23 anos de idade.Depois disso, viu sua carreira tomar forma: em 1962, venceu seu primeiro concurso com a marchinha Sonho de Pierrô. Mas foi nos anos 1970 que começou a firmar seu nome entre os grandes. Suas composições passaram a ser gravadas por nomes como Ederaldo Gentil, Alcione e Beth Carvalho, consolidando uma ponte entre a Bahia e o grande circuito da música popular brasileira. Construiu uma trajetória musical marcada pela elegância melódica, pela força poética e por uma atuação decisiva na projeção do samba baiano em âmbito nacional.Ainda nos anos 1970, quando o gênero era fortemente associado ao Rio de Janeiro, Walmir Lima já havia gravado quatro LPs e circulava entre Salvador, São Paulo e a capital fluminense com naturalidade, sendo uma das figuras mais respeitadas da cena musical.Para o maestro Fred Dantas, um dos aspectos fascinantes da obra de Walmir é a verdade. Ele explica: “O Bezerra da Silva, sambista do Rio, é assumidamente um blefador, leva o fenômeno popular para o campo do humorismo, mesmo. Mas Walmir Lima, não. Ele está sendo sincero quando canta: ‘Graças a Deus que eu já trouxe meu irmão. Ele tava preso lá na Ribeira’. O irmão do cara bebe, cria confusão com todo mundo e depois acaba preso. E ele vai lá e consegue libertar o irmão”, diz.Com sua voz própria e músicas marcadas nas mentes de milhares de brasileiros, Walmir Lima celebra a homenagem e a união com o arranjo orquestral. “Uma nova roupagem é sempre um novo horizonte que se abre e eu fico muito feliz com isso. A minha felicidade é grande de ver o maestro Fred Dantas transformar a minha música, e eu me sinto honrando o nome do meu querido pai”.Viva o 2 de JulhoO Baile da Independência é tradição na programação oficial do 2 de Julho em Salvador. Conforme conta o maestro Fred Dantas, essa manifestação surgiu no século XIX, mas foi interrompida por muito tempo. Retornou nos anos 1980, por solicitação da recém surgida Fundação Gregório de Mattos (FGM), e foi aí que o maestro entrou na jogada – e, ano após ano, inova na realização do baile.As celebrações com a orquestra começam hoje, com o tradicional Encontro de Filarmônicas, que acontece logo após o tradicional cortejo e a cerimônia do Fogo Simbólico, também no Campo Grande, a partir das 17h30.No evento, que chega a sua 34ª edição, se reúnem a Banda da Guarda Municipal, a Filarmônica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Filarmônica 13 de Junho – de Paratinga –, a de Bom Jesus da Lapa e a 15 de Março – que vem de Muritiba.A celebração se encerra com o show da Oficina de Frevos e Dobrados, a banda de Fred Dantas, que contará com a participação da cantora Laurinha Arantes, uma das pioneiras da axé music, que interpretará sucessos populares com arranjos inéditos para voz e banda filarmônica.Baile da Independência 2025 / Com Orquestra Fred Dantas, Walmir Lima, Letícia Coutinho e Mário Bezerra / Amanhã, 18h / Praça 2 de Julho (Campo Grande) / Gratuito*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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