“Eu vou tomar um tacacá…”. Embalado pelo ritmo calipso eternizado na voz de Joelma, o famoso prato da região Norte do Brasil virou realidade para quem mora em Itajaí. Há pouco mais de um ano, os paraenses Maria de Nazaré e Vando Moisés abriram um restaurante no bairro Dom Bosco para trazer à cidade a autêntica culinária do Pará, repleta de sabores intensos e tradições como o famoso tacacá, maniçoba, vatapá e o açaí paraense servido com farinha de tapioca.
Segundo o Censo IBGE (2022), quase 11 mil pessoas moravam em estados do Norte e Nordeste antes de residirem em Itajaí. O Pará lidera com 2.637 pessoas, seguido da Bahia, com 1.287. A projeção é dos últimos 10 anos.
A cultura, tradição e costumes são seguidos à risca. Os pratos seguem as receitas tradicionais. O tacacá é feito com jambu, goma de mandioca e camarão. Já a maniçoba, uma espécie de feijoada paraense, leva folhas da mandioca cozidas por sete dias, além dos mesmos ingredientes de uma feijoada comum. E o açaí é puro, com farinha, carne salgada ou Bordon, e pimenta. “Nós viemos com o propósito de representar o Pará, colocar a culinária paraense em Itajaí. Graças a Deus, tem aparecido paraenses de todos os lugares: Florianópolis, Balneário Camboriú, Blumenau, Joinville… O pessoal tem experimentado e gostado. É uma forma de matar a saudade e mostrar nossa cultura”, conta Vando.
Para valorizar a cultura e os costumes do Norte e do Nordeste do país, entre os dias 3 e 6 de julho, acontece a 1ª Festa das Tradições, no Centreventos de Itajaí. O evento terá programação com horários estratégicos para contemplar diferentes públicos: quinta e sexta das 17h às 00h, sábado das 12h às 00h e domingo das 12h às 21h. Além da diversidade gastronômica das regiões, o evento contará com 20 atrações musicais e apresentações de dança com os principais ritmos nordestinos: forró, arrocha, seresta, pagode, brega, piseiro e carimbó.
A valorização das raízes também move outros empreendimentos na cidade, como o restaurante e mercado da Morgana de Oliveira, que vende produtos do Norte e Nordeste. Nascida em Juazeiro do Norte, no Ceará, a empresária está há 15 anos em Itajaí. “O produto que mais vende do Nordeste é a rapadura, a farinha, o queijo coalho, o queijo de manteiga, o nosso charque, bolacha, dendê, feijão fradinho e camarão seco”, comenta.
Outro prato típico do Nordeste que encantou os itajaienses foi o cuscuz. Prato típico do Nordeste, também conquistou o paladar dos itajaienses. A receita é servida com carinho no restaurante de Eunice Santos e Raíssa Santos, mãe e filha naturais de Salvador, que escolheram Itajaí como novo lar há cerca de dois anos. “O cuscuz sempre esteve presente na nossa casa. Lançamos o restaurante há 8 meses para oferecer uma refeição leve, artesanal e saborosa que faz o nordestino se sentir em casa e encanta quem não conhece a culinária da Bahia”, explicam.
O cardápio é uma homenagem à terra natal. Os nomes dos pratos fazem referência a bairros icônicos de Salvador, como o “Cuscuz Pelô” (carne seca, queijo coalho e banana-da-terra), “Cuscuz Itapuã” (carne seca e catupiry) e “Cuscuz Curuzú” (calabresa e catupiry). A operação é delivery e retirada, mas em breve as empreendedoras abrirão um espaço físico no bairro São Vicente.
E não poderia faltar o acarajé, carro-chefe da baiana Gilvaneide de Jesus Maia, a Dona Neide. Professora por formação, ela transformou sua paixão pela cozinha em profissão após chegar a Itajaí, em 2015. “Nunca tinha vendido acarajé. Comecei a cozinhar em casa, influenciada pelos programas de culinária que minha filha assistia. Um dia fiz vatapá, caruru, e me pediram o bolinho de acarajé. Resolvi tentar, me apaixonei e fui estudar”, relembra.
Hoje, Dona Neide é conhecida por seu camarão gourmetizado e pelo acolhimento que oferece com cada prato. “Minha clientela é diversa: tem baianos, cariocas, gaúchos, itajaienses… É gratificante ver a felicidade de quem prova um sabor diferente. Essa festa que celebra a diversidade cultural é um reconhecimento muito importante. Viemos para somar, para vencer e levar sabores inesquecíveis para Santa Catarina”, completa.
Em comum, essas histórias mostram que a gastronomia é mais que alimento: é memória, é afeto e é resistência cultural de um povo, que agora é celebrado em terras catarinenses. A crescente presença de nortistas e nordestinos tem contribuído para o desenvolvimento do estado. Segundo o Censo IBGE (2022), entre 2017 e 2022, Santa Catarina apresentou o maior saldo migratório do país, com um acréscimo de 354 mil habitantes, um aumento de 4,66% na população total. Pela primeira vez desde 1991, o estado superou São Paulo nesse indicador. Esse número reflete uma transformação significativa na região.
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