Leia Também:
Bon Odori Salvador ganha data; confira
Cyria Coentro volta aos palcos com espetáculo sobre as dores e delícias do amor
Entenda proposta que quer excluir obra de Jorge Amado das escolas
A montagem, que estreou originalmente em 2019 no Rio de Janeiro, sob a direção da atriz Vilma Melo, estreia em palcos baianos na próxima quarta-feira, 9, no Teatro SESC Casa do Comércio.A peça traz em cena um coro potente de vozes femininas negras: as atrizes Luana Xavier, Márcia Limma e Meniky Marla, que encenam a trajetória de uma menina negra em diálogo com uma árvore milenar.Na obra, o baobá representa o elo mais forte de força e conexão dessa personagem com as suas mais velhas, que são suas referências em tudo.A trilha sonora ao vivo é das musicistas Aisha Araújo, Ivone Jesus e Meg Azevedo. Segundo Fernanda, “saber que essa obra vai sair da boca e do corpo de outras mulheres pretas, sobretudo mulheres pretas de Salvador, é um dos maiores presentes que esse espetáculo poderia ter me dado”.A autora afirma que o espetáculo é especial por tocar em diversos aspectos do feminino, sobretudo o feminino negro, e por ser coletivo.“É um espetáculo que fala de mim e de tantas outras mulheres e meninas pretas que carregam na pele a negrura, que carregam o crespo na cabeça. Então só quem tem essas características entende a profundidade e a significância que é a dramaturgia do espetáculo Meus Cabelos de Baobá”, diz.Na escritura do espetáculo, Fernanda bebeu da fonte de muitas autoras negras que enriquecem a literatura brasileira, como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Sueli Carneiro. O resultado foi uma peça sensível e potente, que logo chamou a atenção de outros artistas, como o diretor Fred Soares, que começou a tentar trazê-la para Salvador um tempo depois.Aqui, o espetáculo tem uma nova montagem, novidades específicas para a versão soteropolitana. “É uma outra proposta. Fazemos uma nova visão do mesmo texto. A leitura que o público vai ter é uma leitura diferente da que o público do Rio de Janeiro teve, quando viu a peça em 2019. Trazemos outros sentidos e apresentamos ao público outros códigos para o mesmo texto”, antecipa Fred.Mas, ele garante: o público entenderá já nos dois primeiros minutos a mensagem do espetáculo. “Começamos a peça evocando as ayabás, que são as orixás sereninas das religiões de matriz africana, para contar essa história. Essa montagem faz uma conexão direta com essas forças no nosso cotidiano. Falar disso no Brasil, na Bahia e especialmente em Salvador, onde se concentra um número muito grande de pessoas negras da periferia e de Candomblé, além de muito valioso, é necessário para mim enquanto pai de santo e também muito importante enquanto diretor artístico, enquanto realizador. Porque a gente está desmistificando muitas coisas”, afirma Fred.Potência ancestralLuana Xavier, Márcia Limma e Meniky Marla dividem o palco interpretando diferentes gerações da mesma personagem, complementando a arte e a potência umas das outras: a criança, a jovem, a mulher adulta e uma mulher mais velha, uma anciã – histórias banhadas pelas águas musicais das yabás.A obra encena não apenas um rito de passagem, mas um mergulho no que há de mais íntimo, ferido e resistente na trajetória de mulheres negras. Na narrativa, o público presencia o trânsito ancestral e espiralar da personagem.Para Luana, o diferencial do espetáculo é falar das dores e alegrias das mulheres negras de forma lúcida, o que ela tem certeza que tocará a plateia profundamente.“Falar de ancestralidade é mergulhar na minha força vital, naquilo que me sustenta de fato. Eu sou uma mulher negra, criada por outras mulheres negras. Minha existência é forjada pelas mãos de mulheres negras batalhadoras, mas muito conscientes da dificuldade de se viver em um país construído a partir do racismo, e por isso a militância está em mim, desde que me entendo por gente”, defende.No palco, as atrizes trazem à vida histórias que se entrelaçam com as suas próprias. Lembram de suas infâncias e das mulheres que vieram antes delas e mantém em mente as que virão depois.Meniky, por exemplo, reconhece em si mesma traços que a personagem traz de uma menina sonhadora, atenta e conectada às suas mais velhas e à força que vem da natureza. Segundo ela, a construção da personagem foi um desafio com o tempo.“O fato da personagem fazer a passagem do tempo por quatro faixas etárias de sua vida me desafiou a resgatar uma criança negra feliz, mas que já vivia os atravessamentos do racismo na infância, e viver uma adulta forte e determinada que, em sua passagem, deixa um legado do sagrado feminino nutrido de amor familiar, coragem e serenidade”, conta.Dar vida a histórias de ancestralidade e força de mulheres negras é o que move Márcia Limma atualmente. Segundo a atriz, o texto de Fernanda é crucial para reconstruir o imaginário de beleza e o reconhecimento do papel dessas mulheres.“Falar de ancestralidade nos convida a ser protagonistas das nossas histórias. E esse texto é muito importante porque a gente traz para essa nova geração de meninas, de mulheres negras, de meninos, homens negros que estão se reconhecendo belos e belas, que reconhecem a nossa cultura como uma forma de libertação”, observa Márcia.A montagem traz ainda uma equipe criativa alinhada com os sentidos profundos da obra: Dodô Villar, que transformou as fotografias em obras de arte, Dudé Conceição na direção de movimento, Fabíola Nansurê na preparação corporal, Diego Neri direção musical e Pedro Caldas na cenografia.
Serviços
Meus Cabelos Baobá Quando: Temporada a partir de quarta-feira (09) e dias 10 e 11 de Julho (quinta e sexta-feira), 20h; 12 de Julho (sábado), às 17h e 20h; e 13 de Julho (domingo), às 16h e 19hOnde: Teatro Sesc Casa do Comércio Valor: Ingressos entre R$ 50 e R$ 10 / Vendas: Sympla e bilheteria do Sesc
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.