Me senti fazendo algo importante
Yule Miguel Silva – estudante
Quem acompanha de perto também percebe os impactos positivos da iniciativa. Os pais de Yule, Patrícia Silva e Paulo César Silva, afirmaram uma melhora na interação social, na autoestima e no interesse pelos estudos da escola regular por parte do estudante, principalmente nas disciplinas de Ciências e Meio Ambiente.“É muito importante existir espaços de conhecimento acessível e inclusivo, com atividades práticas com a orientação de profissionais qualificados. O Clube de Ciências Autis é uma oportunidade para que pessoas autistas possam aprender tendo respeitadas suas realidades, limitações e individualidades”, afirmaram em conjunto os pais de Yule.
Levantamento de dados sobre Reaproveitamento de Resíduos
| Foto: Divulgação
Outro exemplo é o de Marcelle Rocha dos Santos, de 14 anos, também estudante do 8º ano do Ensino Fundamental II. Para ela, o conhecimento adquirido no clube vai além da sala de aula. “Aprendi sobre os cuidados da dengue, como não deixar água parada e usar repelente”, contou.A mãe de Marcelle, Elane Rocha de Carvalho, afirmou que a troca de experiências é constante. “Minha filha vem tendo um aumento dos seus desenvolvimentos sociais, como a interação com outras pessoas para além dos familiares. A partir das experiências vividas por ela no clube de ciência consigo enxergar um futuro brilhante, com muita dedicação e persistência”.Inclusão, valorização e protagonismoCoordenado há três anos pelas professoras Mônica Isabela Barreto e Marta Caires, o Clube de Ciências Autis nasceu do reconhecimento das potencialidades desses estudantes.“A nossa ideia inicial em trabalhar com os estudantes dentro da proposta do Clube de Ciências, é que uma boa parte dos estudantes, a gente observou o perfil de pesquisador nato. Eles pesquisavam por conta própria e isso precisava ser trabalhado de alguma forma. Então, por que não um Clube de Ciências? Para que eles possam explorar essa curiosidade, essas habilidades que eles já possuem, que eles pudessem compartilhar também, entre eles mesmos, esse conhecimento”, explicou Mônica.O desafio está em integrar habilidades já presentes, como a curiosidade e o gosto pela ciência, com aspectos que precisam ser estimulados no contexto do TEA, como a comunicação, a iniciativa e as relações sociais.“A intenção era que eles, a partir das pesquisas, dentro de um grupo que tivesse interesses parecidos ou próximos, que pudessem desenvolver esse gosto pela ciência que eles já possuem, mas de uma maneira mais organizada, de uma maneira mais específica, vamos dizer assim, processual, que pudessem compartilhar também com os outros”.“Então, eles trocam essa experiência, trazem informações, nos dão informações e nós trabalhamos nessa perspectiva de interação e de conhecimento científico. Desenvolver o gosto pelas imagens, o gosto pela ciência”, acrescentou Mônica.As atividades do clube ocorrem sempre às sextas-feiras, dentro do Pestalozzi. As ações contam com roteiros, mediação docente e a participação ativa dos estudantes em todas as etapas do processo investigativo.
Identificação de aterro e compostagem
| Foto: Divulgação
“Inicialmente a gente observa quais são os interesses dos alunos, depois a gente traz para eles a problemática, porque tudo é a partir de problemática […] fazemos a tabulação do levantamento dos dados, colocamos em gráficos para eles e trabalhamos processualmente. A gente vai discutindo e dialogando com eles, cada etapa desse processo de pesquisa, e o resultado final é justamente apresentar a comunidade escolar, apresentar para os pais, apresentar para os professores, participar da FECIBA”.Atualmente, cerca de 24 estudantes participam do clube. Para Mônica, a iniciativa vai além da formação escolar.‘São muito inteligentes (alunos no espectro autista). Então, o que é importante para eles? É importante que eles se sintam valorizados a partir do conhecimento que eles trazem. São pessoas que têm ideias diferentes, perspectivas que podem ajudar toda uma sociedade. Então, trabalhar ciências com eles é trazer para a sociedade as potencialidades que eles têm, tudo o que eles conseguem fazer”.Celebrar a ciência é aproximá-la das pessoasA vivência nesses espaços também contribui para o desenvolvimento de habilidades fundamentais como pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas. Para a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e biotecnologista, Thalita Monteiro, os clubes de ciência exercem um papel primordial para despertar vocações científicas.“Clubes de ciência como o Autis têm um papel transformador porque aproximam a ciência do dia a dia dos estudantes. Eles mostram que a ciência não é coisa de outro mundo, ela está em todo lugar e pode ser feita por todos. Os clubes de ciências possuem um caráter prático pois os jovens podem experimentar, questionar e criar. Isso ajuda a despertar o que chamamos de curiosidade científica de forma natural, acessível e divertida. Além disso, promovem autoestima intelectual, incentivam o protagonismo dos jovens e mostram que é possível sonhar com uma carreira na ciência, mesmo vindo de contextos menos favorecidos”.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e biotecnologista, Thalita Monteiro
| Foto: Flávia Rodrigues
Ela pontua ainda que datas como o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico transformam a ciência em algo palpável, sendo uma forma de aproximar a ciência da população, especialmente dos estudantes da educação básica.“Essas datas celebram conquistas, despertam a curiosidade, incentivam o pensamento crítico e mostram que a ciência está em tudo: na saúde, tecnologia, indústria, meio ambiente e na nossa rotina. Celebrar a ciência é reconhecer os esforços dos pesquisadores brasileiros, que, mesmo com os desafios, continuam contribuindo para o avanço do conhecimento. É um lembrete que a ciência é feita por e para todos nós”.